O Bum do Bumbum: Kevin David

Dimas Henkes
Bumbum
Published in
4 min readAug 27, 2020

A pista de Kevin é fervo, brilho e sarração

As melhores noites de São Paulo sempre tem um nome confirmado: Kevin David. O DJ tem 26 anos, que é fundador do coletivo criativo MOOC e da MOOCRADIO, sabe muito bem fazer um rolê acontecer. Seu nome já apareceu em grandes festivais como COALA, MECA, Festival Rider #DáPraFazer, Hub Festival, Canvas Bombay, Budweiser Basement e várias outras festas deliciosas.

Sua pesquisa gira em torno do House e do Hip Hop, mas o público sempre encontra surpresas do mundo pop e algumas pitadas de disco. Vozes de artistas brasileiros independentes sempre estão em seus mixs também — como Tássia Reis e Linn da Quebrada. Sua pesquisa é puro luxo.

No set gravado para o programa Bumbum na rádio Veneno, prepare-se para entrar em uma boate cheia de piração, sacanagem e batidão pra bater o bumbum no chão. O mix é agito puro. Todo potencial de sua pesquisa está presente nesses 30 minutos de deleite musical. Arrasta o sofá e dê play nessa maravilha. Mas antes, leia nosso papo a seguir.

Além do set gravado, Kevin David bateu um papo comigo sobre pista de dança, processo criativo e cultura queer. Confira:

Sua pesquisa musical traz uma mistura envolvente de diferentes estilos. Seus sets sempre trazem surpresas pra pista de dança. Como que é o seu processo criativo para criar a atmosfera dos sets?
Os meus sets são construídos com começo, meio e fim. Gosto muito de começar todos os sets com vocais em acapella, BPM baixo pra depois ir aumentando. Tento o máximo possível não parecer flat e nem repetitivo. To sempre baixando música nova. Já meu processo criativo diz muito sobre como ta minha cabeça durante as pesquisas. As vezes tô muito frita e assumo um caminho bem agitado, navego entre a música eletrônica e o vogue beats quando to com sangue no zóio (quase sempre). Quando to calminho curto um chill baile de leve com um R&B contemporâneo, quando quero ser chique e to numa atmosfera mais socialzinha, sunset, happy hour curto um house. Quando tô nostálgica gosto de hip hop 2000 e assim vai, é sempre muito relativo. Minha única certeza é que meu set precisa ter sinergia com meu humor senão eu me sinto desconectado do que to tocando e fica parecendo que não é de verdade. Independente do mood, preciso ta vivendo ele, acredito muito nessa autenticidade.

Qual a principal diferença entre gravar um set para streaming e tocar um set na pista de dança? Do que você mais sente falta?
Acho que a relação com as pessoas é o que diferencia, porque tocando ao vivo eu consigo ter a sensibilidade de tocar uma música que de fato se conecte com o momento da pista, e tendo as coisas digitais, me sinto limitado de me conectar com o que as pessoas estão sentindo enquanto elas ouvem e não tenho o poder de trocar de música se ficar ruim. Sinto falta do toque, do perceber, do trocar, das risadas e flertes.

Qual drink você indica para beber enquanto escuto o seu set?
Caipirinha de limão com Havana Club Prata porque é o drink mais chic e as pessoas precisam conhecer.

Muitos gêneros musicais foram criados por negros. Um dos maiores exemplos é o House, que foi criado pela comunidade LGBTQIA+ negra de Chicago. Como você vê a representatividade de DJs na cena atual brasileira levando em conta o contexto histórico?
Essa representatividade tá começando a ser construída agora no Brasil, mas todos sabemos o quanto a música eletrônica em si sofreu e sofre whitewashing. Se vê pouco protagonismo preto nesses âmbitos ainda. Acredito que ainda tem muito pra ser feito mas boto muita fé na geração que tá vindo agora, Dj Due, Valentina Luz, Honey Dijon e etc.

Como você acha que vai ser o futuro da pista de dança?
Eu acho o futuro da pista de dança muito incerto sem vacina. Com vacina a gente vai voltar pra bagaceira no mesmo dia e eu espero ser a primeira.

Quais álbuns você tem mais escutado ultimamente?
Olha eu sou vários de mim, então to sempre navegando entre as épocas e moods que passei ao longo da minha trajetória. Nesse momento eu to ouvindo muito esses:

- Kings Of Leon — Only By The Night

- Ventura Profana — Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor

- Tei Shi — Die 4 Ur Love

- Notorious B.I.G — Ready To Die

- Summer Walker — Life On Earth (EP)

Algo que você quer que todo mundo saiba sobre você:

Tenho cara de bravo mas sou um bebezão.

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Dimas Henkes
Bumbum
Editor for

Curador cultural, estrategista de conteúdo e conector de projetos e pessoas. Diretor do programa Bumbum na rádio Veneno.