O Bum do Bumbum: Libra

Dimas Henkes
Bumbum
Published in
5 min readJun 11, 2020

Eu tenho uma certeza: a pista de dança de Recife é libriana!

Arte: Gabriel Azevedo

Ela tem o poder de fazer a pista inteira parar para prestar atenção quando ela entra no comando. Eu já estive em duas pistas dela. E agora você também poderá ser prova viva dessa extravagância.

Não é a toa que Libra carrega seu signo no próprio nome, seu set envolve o espectador com uma áurea densa, enigmática e animada, exatamente como uma libriana atua socialmente. O sentimento é de um convite para dançar com seu espírito seriamente divertido. Os dois lados da ambiguidade dançam em harmônia nessa brilhante pista de dança.

A DJ e artista audiovisual pernambucana já alcançou voos altos nas festas e no cinema pernambucano. Fundadora do selo afrodissidente SCAPA e artista residente do projeto de rua Batestaca e da festa NBomb, Seu nome já foi carimbado nas principais festas de Recife e de grandes festivais como MECA e RecBeat. Em 2021, pretende voar ainda mais alto e trilhar um caminho promissor pra quem anda do lado dela. E ela não anda só.

Para o programa Bumbum na rádio Veneno, ela veio pra jogar e fazer muito bumbum balançar: dos anos 80s, ela dá um pulo nos anos 2000s e faz o corpo de baile decolar com uma pesquisa energética de House e vocais de funk. Como diriam na pista recifense: a gata fecha! E para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Soundcloud e (re)descubra a potência afrolatina libriana.

Além do set gravado, Libra bateu um papo comigo sobre passado, presente e futuro. Confira:

Conheci você na minha primeira ida à Recife e acho que você não discotecava ainda. Sua carreira de DJ decolou muito rápido e na segunda vez que fui na sua cidade, já dancei no seu set. Como foi o início da sua carreira?
Eu já toco como DJ a alguns anos mas comecei nos roles pop’s e nas calouradas na universidade. Tocava de um tudo, do funk do momento até os chill outs que eu curtia, mas quando comecei a consumir e construir os roles eletrônicos, eu tinha uma relação muito mais confiante com meu trabalho relacionado a performance visual. Mas aos poucos fui percebendo e reconhecendo o som como um artificio potencial nos meu estudos de meu corpo também, e que focando nisso eu também poderia construir um material artístico que dialogasse com o que eu já tava pensando. Acho que a partir disso as coisas começaram a caminhar, quando comecei (e acreditei) em construir minha identidade sonora.

Sei que tem coletivos de música eletrônica potentes em Recife e a comunidade LGBTQIA+ tem uma força gigante e faz um bom barulho por lá. Quais as principais influências musicais e visuais recifenses que ajudaram a construir sua carreira?
Quando eu comecei a cansar dos roles que eu já me apresentava eu conheci algumas festas como a 99, Chaos, Kebran, Pandemonia, que eram feitas exclusivamente de pessoas LGBTQIA+ que tinham uma proposta eletrônica, mas que não datavam o que poderia tocar e acontecer ali. Os corpos que protagonizavam e a maneira com que as pessoas se expressavam foi o que mais me cativou, senti que poderia construir aquela experiência também. As pistas dxs DJs Pepapuke, Ana Giselle (Transalien), Paulet Lindacelva, Karma, me influenciavam muito nesse momento, cada uma de maneira diferente e que hoje eu vejo em pequenos detalhes de como eu toco. A Extasia e a Hypnos foram dois coletivos que eu trabalhei bem no comecinho da carreira e que me ensinaram muito em compreender as demandas tanto de produção como emocionais de trabalhar na noite, foi onde também entrei num processo bem intimo performando junto com Kildery Iara em várias edições. Mas sinto que até antes de todas essas vivências em coletivos eletrônicos, morar em Recife sempre me influenciou a pensar e sentir música, desde as minhas primeiras piras com violão no começo da adolescência. Ao longo do processo que eu fui me reencontrando.

E sobre o set que você gravou para o Bumbum, se ele fosse um desenho animado, qual seria?
Nossa eu não assisto muitos desenhos, mas no chute eu diria uma mistura de The Midnight Gospel com Kim Possible. Uma mona agitada pronta pra guerra com o poder de bater o koo na cara dos oco.

Cena de The Midnight Gospel

Qual drink você indica para beber enquanto escuto o seu set? Por que?
Ai, eu diria desde de uma gin tônica pra quem ta mais calminha ou uma breja pra quem ta afim de dançar e suar. Os dois moods tá valendo demais.

Sobre o futuro. Quais são os seus planos para 2021?
Em 2021 eu espero estar cheia de pesquisa e vontade de constituir experiência pras pessoas, seja em que plataforma eu atue. Ter acessado novos medos e maneiras de enxergar a realidade me coloca num lugar muito mais urgente de comunicar e trocar através da minha arte. Quero estudar, quero não depender o tempo todo de freelas, quero sentir que o tempo passou e poder dizer que viver o aqui e o agora é um privilegiado mais do que nunca. Quero me articular e construir coisas concretas profissionalmente, quero levar as minhas comigo e sentar na mesma mesa para construir novas realidades. Eu quero futuro, pra mim e pra elas.

Quais álbuns você tem mais escutado?
Eu tenho ouvido bastante o "Mama Gun’s" da Erykah Badu, "Bubba" de Kaytranada, muito atenta nos lançamentos da Jup do Bairro em "Corpo sem Juízo". As vezes me pego ouvindo "Padê" de Juçara Marçal e alguns dos tempos da tropicalia para ouvir com mainha. Eu sou bem eclética e deixo o momento falar por mim pra saber o que eu preciso ouvir. Libriana né.

Algo que você quer que todo mundo saiba sobre você:

Eu também sou só uma pessoa no final do dia e não sou só o meu trabalho ou as marcas que ele possa deixar. Que eu sou várias e nenhuma e posso discordar de tudo ao mesmo tempo. E na maioria do tempo também sou bem de boas, só que bem libriana.

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Dimas Henkes
Bumbum
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Curador cultural, estrategista de conteúdo e conector de projetos e pessoas. Diretor do programa Bumbum na rádio Veneno.