O Bum do Bumbum: Neiss The Sequel

Dimas Henkes
Bumbum
Published in
5 min readAug 13, 2020

Aprenda sobre estética com o bumbum mais conhecido de Porto Alegre

Eu queria conseguir fazer uma matéria só com imagens para descrever o trabalho artístico e vida de Neiss The Sequel. Começaria com referências de filmes de terror clássico e acabaria com as suas imagens editadas do Instagram postadas nessa semana. Mas é com as palavras que tentarei sintetizar a trajetória do bumbum mais famoso de Porto Alegre.

Natural de Santa Cruz do Sul, interior do Rio Grande do Sul, Mateus Neiss estudou Cinema na UFPEL em Pelotas e decidiu se mudar para Porto Alegre em 2016. Acompanhei pessoalmente e, assim como eu, a capital gaúcha proporcionou um ambiente mais acolhedor e experimental para criar identidades e performa-las na cena noturna. Naturalmente, Neiss se interessou em discotecar e mostrar sua peculiar pesquisa musical que vai do pop ao trash e do techno ao tribal.

Para o set do programa Bumbum na rádio Veneno, Neiss The Sequel preparou um mix espetacular com experimentações excêntricas: o rock bate cabelo com o tribal, o house flerta com batidas experimentais do reggaeton e o set é recheado de surpresas pop deliciosas pra requebrar o bumbum do início ao fim. É ecstasy puro. É o fim do mundo apocalíptico mais sensual que você vai ouvir.

Além do set gravado, Neiss The Sequel bateu um papo comigo sobre filmes de terror, referências visuais e Instagram. Confira:

Sei que você ama filmes de terror. Então quero que você comece explicando o seu set montando um mini roteiro de terror clássico para contextualizar a sua pesquisa musical.
O set pra bum bum — em específico — começa com um tom de mistério e agressividade, me remete a uma garota jovem e bonita (belíssima) saindo de casa depois de um dia estressante, por onde ela passa as pessoas observam pela janela. Ela só enxerga as silhuetas paradas. Afogada nos próprios pensamentos ela entra no primeiro club gay que encontra se entorpece em meio a psicose, lá dentro tudo é muito intenso e esquisito, passando pela celebração da própria loucura e a redenção pela auto-aceitação (ela é queer!!!!). É um daqueles filmes onde o vilão não é alguém em específico mas sim um conceito maior, nesse caso é a própria insanidade da gata. O cenário é definitivamente uma boate LGBTQ tocando tribal house com as amigas travestis, sem muita sofisticação mas com o fervo acontecendo.

Além de DJ, você é performer visual e sou obcecado pelas suas edições de fotos no Instagram. Quais são as suas principais referências para caracterizar a sua persona online? Quais são as suas referências visuais brasileiras?
Obrigado pelos elogios, fico tímida!!! Então, quem conversa 5 minutos comigo sabe que sou um grande fã do cinema de terror, é bem transparente o quanto me inspiro no imagético do horror e como eu tento reproduzir isso no meu trabalho. Minhas principais referências de fato são os diretores do cinema de terror que admiro, sobretudo aqueles que trazem uma composição mais surreal e irônica (Dario Argento, Wes Craven, Stuart Gordon), também os que são mais incisivos e violentos (Ari Aster, Eli Roth, Alexandre Aja) e os que dominam a atmosfera de suspense e desconforto (Fede Alvarez, David Fincher, Michael Haneke).

Também trago muito dos diretores de terror nacional (Dennison Ramalho, Marco Dutra e Juliana Rojas) não só por suas narrativas de terror mas por conseguir trazer muito da identidade nacional em seus filmes.

O melhor de ser um artista brasileiro é poder compor seu trabalho trazendo os elementos que são genuinamente nossos. Dennison Ramalho — por exemplo — tem o curta-metragem Ninjas (de 2010) que traz como pano de fundo a violência policial nas periferias, o filme é extremamente violento mas o que mais choca é a verossimilhança na narrativa. Tem que ser muito negligente para não reconhecer a grandeza por trás disso. Nosso cinema é impressionante, plural e um dos mais originais do mundo.

Por fim seria injusto não citar os próprios artistas independentes que produzem conteúdo para a internet, me vejo em muitos dos trabalhos que meus amigos fazem e me inspiro neles com toda a certeza.

Consigo aprofundar muito a história de cada postagem sua no Instagram, imagino longas histórias absurdas em cada post. Qual é o seu processo para criar cada imagem?
Minha persona online (o Neiss The Sequel) busca retratar a mim ou meus amigos frequentemente em situação de risco ou de loucura extrema, o que me atrai não é o conceito da morte em si mas sim a ideia de que viver é estar em perigo iminente. Também tem muito a ver com eu ser gay e de certa forma ter a homofobia como um agente social sempre pertinho de mim, podendo me prejudicar ou não.

Que bom que tu tem essa leitura das minhas fotos pois é exatamente essa a proposta: cada composição traz uma história, ou pelo menos um argumento que trouxe aqueles elementos até ali, gosto que as pessoas vejam meu trabalho e percebam de onde vieram esses personagens.

Gosto de pensar que além da temática violenta ou surreal, minhas fotos também trazem senso de humor e um pouco da alegria que é se estar vivo (por isso geralmente estou sorrindo nelas). Não quero romantizar a questão de se estar morto, pelo contrário, a vida é uma merda mas tenho uma visão positiva das coisas.

Qual drink você indica para beber enquanto escuto o seu set?
Tu sabe que eu sou bem brasil tropical, amo o verão e detesto o inverno. Isso reflete no meu set que é super tribal e up, por isso minha escolha vai ser um mojito. Prático e fácil, que nem eu.

Casa, beija ou mata: Freddy Kruger, Ghostface e Leatherface.
Ghostface é meu maior xodó (Pânico é uma das melhores sagas de terror já feitas), caso com ele pois todos os filmes tem pelo menos um ghostface gatinho e jovem que eu faria fácil. Leatherface eu beijo, ele é alto e forte então é uma coisa bem fetish. Freddy eu com certeza mataria, a gata não deixa ninguém dormir e é conhecida por matar crianças, acho muito baixo astral.

Me conta 5 álbuns que você tem escutado sem parar.
Ungodly Hour (Chloe x Halle), Set My Heart On Fire (Perfume Genius), Corpo sem Juízo (Jup do Bairro), Move Thru Me (Turnstille) e Jaguar (o novo da Victoria Monet).

Algo que você quer que todo mundo saiba sobre você:
Eu demorei muito tempo pra me entender como artista e como alguém que tem um propósito por trás do que produz, por isso quero agradecer muito todo mundo que bota fé no meu trabalho e aproveitar pra dizer que quero fazer colaborações e trabalhar com outros artistas! Também quero mandar um beijo todo especial pra Loirona & Eterna Amiga Dimas Henkes, obrigado pelo convite e parabéns por ser essa maluca inquieta que produz mil rolês. Vida longa aos LGBTQI+!!

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Dimas Henkes
Bumbum
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Curador cultural, estrategista de conteúdo e conector de projetos e pessoas. Diretor do programa Bumbum na rádio Veneno.