“É por meio da política que você vai tentar buscar as mudanças efetivas”, afirma o jornalista Paulo Egídio

Felipe Cardoso
Dinheiro e Poder
Published in
8 min readOct 11, 2019
Paulo Egídio trabalha na GaúchaZH desde o início de 2019 l Crédito: Gabriel Santos

Em entrevista realizada na redação de GaúchaZH, o jovem jornalista revela como age para alcançar a imparcialidade e como reage com o retorno dos assinantes

Por Felipe Cardoso

Em uma sexta-feira chuvosa de Porto Alegre, o jornalista Paulo Egídio, profissional do Grupo RBS, me recebeu na redação de GaúchaZH para um bate-papo sobre o jornalismo político. O repórter que contribui para a coluna da jornalista Rosane de Oliveira abordou pontos como a escolha pela área de política no jornalismo, a rotina do profissional que trabalha nessa esfera e a relação com políticos e ouvintes. E o jornalista não se esquivou de questões polêmicas como profissionais da comunicação serem rotulados aos partidos de esquerda e realizou uma análise sobre o governo Bolsonaro.

Paulo Egídio Bernardi é um jornalista formado pela Unisinos e radialista profissional. Já atuou como locutor e repórter de rádio, em assessorias de imprensa, na reportagem do Jornal do Comércio e na República — Agência de Conteúdo. Em 2019, entrou No Grupo RBS como assistente de conteúdo e, desde setembro desse ano, é repórter na editoria de política de GaúchaZH.

A área da política te escolheu ou você escolheu a política?

Paulo Egídio — Acho que um pouco dos dois. Eu quis fazer jornalismo para trabalhar em rádio e depois que eu entrei no curso, eu vi que que poderia seguir um caminho mais generalista ou mais específico, no caminho mais específico a editoria de política sempre foi a que mais me atraiu. Sempre tive vontade de trabalhar nessa área, por ser alguém que pesquisa, que lê e gosta do assunto e também por poucos colegas terem essa disposição, por achar o assunto muito burocrático, por não ter muito interesse, as justificativas são diversas. E dentro do curso de jornalismo, uma pergunta que parece básica me surgiu, pra que serve o que estou fazendo? Por que a sociedade considera o jornalismo importante? Tem duas palavrinhas que tem que nortear o trabalho do jornalista em qualquer editoria, qualquer trabalho que ele for fazer em qualquer mídia: interesse público. Por que estou escrevendo isso? Porque tem interesse público, e a política nesse sentido é a que mais atende esse interesse, porque fala aquilo que vai definir nossas vidas, o que a gente pode ou não fazer, como vai fazer, que regras a gente tem que seguir ou não, como vai funcionar a nossa democracia.

Em um departamento que todo dia tem novas informações, como é a rotina do jornalista desta área?

Paulo Egídio — Como gosto muito, é muito gratificante todos dias, o que não deixa de ser uma tarefa muito difícil, porque tem um contato muito direto com as assessorias, sempre te passam pauta, te municiam de informação e sempre tem fontes que municiam com outras informações que podem virar matérias por alguma polêmica envolvida, uma irregularidade, alguma controvérsia. Acho que sempre é bom pensar um pouquinho, sempre quando pego uma pauta que eu sei que vai ter uma repercussão, que vai ter uma polêmica, eu penso como que posso informar corretamente o leitor, mas também não ser injusto com a pessoa sobre quem vou escrever, sobre aquele tema. Como vou passar isso? Como vou escrever? Que palavras vou utilizar? Não é um exercício fácil, tem que ter um bom senso. Mas a rotina é muito variada, têm dias que é mais tranquilo, já chega aqui pensando mais ou menos com o que vai trabalhar, têm dias que é muito agitado, as coisas acontecem de repente, tem que mudar o planejamento, essa adrenalina é muito legal.

Estamos em um período em que o acesso do público com o jornalista é facilitado pelas redes sociais, como é o feedback com ouvintes e assinantes?

Paulo Egídio— Olha, nos últimos tempos tem sido bem complicado, tem uma parcela do público que está mais agressivo, não que não tivesse antes, agressivo no sentido de atingir pessoalmente, as pessoas se sentam mais livres para agredir. Agora, tirando essa parcela, eu tenho muita alegria quando recebo contatos que são críticas construtivas. Eu fico muito feliz porque a pessoa está prestigiando o trabalho, está se interessando por aquilo e ainda gostaria que eu aprofundasse, ou ainda tem uma opinião sobre aquilo que escrevi, me sinto muito congratulado quando vem os retornos. Hoje a gente tem o retorno muito forte no digital, a gente recebe muito e-mail de pessoas e também nos comentários das matérias. Quando vai para o lado pessoal, eu procuro não dá muita trela, mas quando é sobre o assunto , ainda que seja uma opinião mais ríspida, mas sobre o tema que escrevi, eu procuro dialogar, ainda que o cara mande o e-mail , no primeiro momento, bravo ou indignado com alguma coisa, você dá uma justificativa pra ele, o retorno seguinte já é muito melhor, ele entende, fica feliz com a tua resposta. Então, eu acho sempre bom, pra quem pensa seguir no jornalismo político, estar sempre atento a esse retorno que vai ser cada vez maior, as pessoas estão cada vez tendo mais acesso, tem que estar muito aberto pra isso, tem que pensar muito bem na sua resposta. Voltando aquilo do interesse público, é pra aquelas pessoas que você está escrevendo, não é para você, não é para o seu chefe e não é para tua empresa, você está escrevendo para as pessoas, então você tem que dar satisfação para elas, sim.

O presidente Jair Bolsonaro tem conflitos frequentes com os jornalistas, como é sua relação com os políticos do Rio Grande do Sul?

Paulo Egídio— Em geral, a relação é respeitosa e tranquila, eles entendem o nosso trabalho, a gente entende o trabalho deles. Claro, sempre tem uma tensão quando é uma pauta que não é do agrado daquele político, mas eles entendem o nosso trabalho. Políticos em si não costumam, pelo menos a experiência que tive até agora, ser agressivos. A relação é sempre respeitosa.

Um dos grandes desafios dos jornalistas é alcançar a imparcialidade, como fazer a opinião não interferir na informação?

Paulo Egídio — Tenta ser justo. Tenho essa informação, que tamanho isso tem? O quanto importante isso é? O quanto isso fere ou não o interesse público? São sempre questões a se fazer. Eu procuro sempre me distanciar, me desliga das minhas paixões, tomar cuidado pra não ser nem brando demais e nem injusto.

Como você avalia a importância do jornalismo para a sociedade?

Paulo Egídio— É de extrema relevância, acho que as pessoas se interessam menos do que deveriam em geral. Acho que é fundamental porque é por meio da política que você vai tentar buscar as mudanças efetivas da sociedade. Todo mundo acha que a sociedade, o país e as instituições têm que evoluir. Como? Através da política. A política é o caminho, tem que ser o caminho.

Paulo Egídio contribui para a coluna da jornalista Rosane de Oliveira l Crédito: Felipe Cardoso

Em uma área que tem pessoas de renome como Rosane de Oliveira, Carolina Bahia, Marco Antonio Villa, Felipe Moura, entre outros. Qual é o exemplo de jornalista político para você?

Paulo Egídio — Seria muito corporativista se eu citasse a minha chefe Rosane de Oliveira?! Ela é uma pessoa admirável, uma pessoa generosíssima, uma pessoa que tem um tamanho jornalístico imenso e trabalha muito, tenho uma admiração imensa. Kennedy Alencar é um cara muito completo, Fernando Rodrigues, do site poder 360, é muito bom. Eu procuro me espelhar nesses que são multimídia porque esse é o caminho pra nós.

O jornalismo sempre foi de esquerda, está nesse governo de esquerda ou está fazendo jornalismo como fazia quando o governo do PT estava no poder?

Paulo Egídio — Não acho que o jornalismo seja de esquerda, não tenho essa visão. Acho que o jornalismo tem uma função de discutir temas de interesse público, jogar luz sobre temas que podem passar desapercebidos, mas que venham ser importantes para a sociedade. Eu acho que cada veículo, cada empresa tem sua linha editorial, isso tem que ser respeitado. Se me perguntar, a maioria dos jornalistas são de esquerda? Provavelmente, sim. Não tenho dados sobre isso, mas provavelmente, sim. Mas eu acredito que, pelo menos onde eu trabalho, as pessoas colocam seu profissionalismo acima de qualquer motivação ideológica ou partidária, e, pra mim, isso não interfere no trabalho das pessoas como jornalistas, como repórteres, até como pessoas que fazem jornalismo opinativo. Então, não vejo jornalismo de esquerda, assim como não era de direita na época em que os governos eram de esquerda, não tem lado.

Com quais pensamentos você se identifica mais: da esquerda ou da direita?

Paulo Egídio— Se você disser a seguinte frase: é impossível o jornalismo completamente imparcial, isso é verdade, eu não contesto isso. Só que, nas maiorias das vezes, quando vejo esse argumento sendo usado é pra que a pessoa se sinta no direito de ser totalmente partidária. É impossível que o jornalismo seja totalmente imparcial? Pode até ser, mas é obrigação do jornalista perseguir a objetividade, aí tu vais dizer, mas tu sabes que é impossível pra que você vai buscar? Daí eu cito Eduardo Galeano: “a utopia está lá na frente, eu dou 20 passos, ela dá 20 passos, eu dou 10 passos, ela dá mais 10 passos, mas afinal é essa utopia que me faz caminhar”. Então, eu não me incomodo de concordar com esse ou com aquele em certos pontos, não tem que ser uma caixinha fechada de ideias. Embora quem quer ser de direita, centro ou esquerda tem quem ter espaço para falar, tem que ter espaço para colocar suas ideias. A democracia é o regime que a gente tem que ouvir mesmo que a gente não concorde, que a gente até tenha ojeriza por alguns pensamentos, mas eles têm o direito de existir.

Em 2019, depois de 15 anos, um governo de direita assumiu o poder em Brasília, como você analisa o governo Bolsonaro?

Paulo Egídio — É um governo que não surpreende. O presidente é assim porque ele era assim e porque ele foi assim nos 28 anos que ele foi deputado federal. Quem disser que está surpreso com o Bolsonaro é porque não acompanhava direito. É bom ou ruim? Depende, você pode se um eleitor fanático bolsonarista e dizer que está maravilhoso, é assim que eu quero o presidente. Se for um fanático do outro lado, vai dizer que nada presta. Eu acho que ele dá ênfase para alguns temas que são polêmicos, mas que, de fato, mudam pouco a realidade das pessoas e com isso ele perde tempo para tratar de temas que possam mudar a realidade, mudar a situação do país, que podem dar uma nova perspectiva para as pessoas, principalmente na questão da crise econômica e nos milhões de desempregados que o país tem. Eu não lembro de ver o presidente falando em reforma tributária, que é um tema vital, umas das próximas reformas que vai tramita no congresso, um tema que tem muita discordância. Todo mundo acha que tem que fazer uma reforma, mas ninguém quer perder e alguém vai ter que perder para outro ganhar. Então, eu acho que o governo deveria se centrar mais naquelas pautas que efetivamente poderiam trazer uma melhoria na vida das pessoas na prática.

Bastidores

A conversa com o jornalista Paulo Egídio foi enriquecedora. Além da aquisição de conhecimento com suas respostas e ver personalidades que acompanho diariamente por meios de comunicação, o repórter de GaúchaZH apresentou o prédio do grupo RBS. Começando pelo andar das redações, local que contava com vários profissionais trabalhando em um mesmo ambiente, mas separados por editorias. Posteriormente, apresentou os estúdios da Gaúcha, Atlântida e 92. Com certeza, foi uma experiência que motiva mais a seguir na carreira.

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