Do barracão de lona ao pavilhão da Agricultura Familiar, a trajetória do MST na Expointer
A história do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra na Expointer para construção da Feira da Agricultura Familiar.
Por Jéssica Polchowicz
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra conquistou seu espaço de fala na Expointer, maior evento do agronegócio do Rio Grande do Sul, em 1999 através de um acordo entre o Movimento e o governo do estado na gestão Olívio Dutra e cresce positivamente a cada ano. O evento é uma vitrine das grandes tendências do agronegócio e vive sua 42ª edição neste ano na cidade de Esteio/RS.
Aliado com as mais recentes tecnologias de máquinas agrícolas e produtos da agroindústria brasileira em exposição, o MST conquistou um espaço importante e de grande visibilidade para ofertar alimentos como arroz carreteiro orgânico, sementes, geleias, frutas e sucos naturais. Uma oportunidade única para o público urbano conhecer o trabalho desenvolvido pelos trabalhadores rurais e adquirir os seus produtos.
Conquistando um espaço fora do campo
A primeira exposição do MST na Expointer foi através de uma negociação com o governo do estado para que houvesse uma amostra da produção dos assentamentos. Foi desenvolvida a réplica de uma casa que era exemplo do projeto “RS Rural” — que estava sendo implantado nas áreas de moradias rurais e de assentamentos na época — juntamente com um barracão de lona preta comumente utilizado nos acampamentos do Movimento com a bandeira que representa a luta. “As pessoas entravam no barracão e era quase um labirinto em barraco de acampamento, com a nossa bandeira vermelha bem hasteada”, lembra Roberta Coimbra, que atua na Direção do Setor de Produção do MST/RS.
Dentro deste barracão havia uma feira da reforma agrária com amostras de sementes crioulas, fotos dos assentamentos e dos acampamentos, o que causou um grande impacto dentro do evento, frequentado majoritariamente por um público do latifúndio e da burguesia na época. Por consequência disso o governo identificou a importância de se debater a necessidade de um espaço de representatividade dentro do evento para a agricultura familiar, indígenas, quilombolas, reforma agrária, etc.
Dando forma ao pavilhão da Agricultura Familiar
Durante o governo de Olívio Dutra foram inaugurados, inicialmente, barracões alugados até surgir o projeto que aprovou a criação de um pavilhão fixo para as exposições. Nessa negociação surge o debate do governo com a participação dos latifundiários do agronegócio, cujo a pauta foi a exigência de que este espaço do MST fosse dentro dos padrões visuais da feira para que não causasse um impacto muito grande nos visitantes, conforme o que ocorreu na primeira exposição do Movimento dentro do evento.
Esse espaço começou a existir através da organização do MST em conjunto com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF), sindicatos e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Foi uma amostra do que era de fato a agricultura familiar, por tanto, rico em frutas, verduras, sementes, artesanatos, etc.
Hoje o espaço está vinculado ao pavilhão do Projeto Sabor Gaúcho que foi um programa de agroindústria do governo Olívio. “Com isso o espaço se tornou uma amostra da agroindústria familiar, quase uma ‘vitrine da agroindústria’ e não uma exposição da agricultura familiar como um todo”, diz Roberta Coimbra. Devido a isso, Coimbra expõem outra crítica em relação ao evento, pois segundo ela “hoje quem olha acredita que toda agricultura familiar da pequena propriedade da reforma agrária se resume à essas agroindústrias, quase todas com base no salame e queijo, que foram feitas na época do programa Sabor Gaúcho, isso não mostra a potencialidade da diversidade de produção do MST”.
Apesar disso Coimbra relata que o espaço é de grande importância para a visibilidade do trabalho desenvolvido pelo Movimento, visto que é uma das principais vitrines da agricultura familiar para a população, que segundo ela, apesar do público ir ao evento passear e olhar de tudo um pouco, a maior parte dos visitante se direciona à consumação de produtos da agricultura familiar.
O resultado da conquista
Dentro do Pavilhão da agricultura familiar o MST está representado através de suas cooperativas regionais como a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), Sucos Camargo, Padaria Sino, Agroindústria Mãe Natureza e Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav).
“Nós do MST ocupamos 9 espaços, nossas bancas são ocupadas por cooperativas, ou seja, os produtos ali expostos são frutos do trabalho coletivo, pode se dizer que mais de mil famílias foram representadas pelas cooperativas e associações nessas bancas”, diz Djones Roberto Zucoolotto, representante da Via Campesina na Comissão organizadora da Expointer.
Os assentados comercializam sucos naturais, caldo de cana, arroz orgânico, embutidos, banha suína, torresmo, queijos coloniais, iogurtes, bebidas lácteas, pães, cucas, biscoitos, bolachas e bolos, entre outros alimentos também vendem sementes de hortaliças agroecológicas. E servem refeições compostas por arroz carreteiro, feijão, salada, pão e farinha de mandioca na praça de alimentação.
“O acúmulo positivo que temos desta e das edições anteriores é principalmente a possibilidade de dialogar com a sociedade sobre a nossa produção de alimentos saudáveis, orgânicos, alimentos para a vida”, afirma Zucolotto. “A população tem direito de conhecer e ter acesso à uma mesa farta e sadia por um preço justo e nós estamos levando isso até ela”.
A Feira da Agricultura Familiar é organizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo, Secretaria da Agricultura, Secretária da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), Via Campesina, Emater/RS — Ascar, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (FETAG) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do RS (FETRAF — Sul).