“Jornalismo é profissão, política é missão”, diz Jairo Jorge

Jornalista e ex-prefeito de Canoas, Jairo Jorge explica como desenvolve sinergia entre o jornalismo e a política

Jéssica Polchowicz
6 min readOct 12, 2019
Crédito: Jéssica Polchowicz

POR JÉSSICA POLCHOWICZ

Jairo Jorge da Silva é Canoense e foi duas vezes eleito prefeito de sua cidade, e é atualmente filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Formado em jornalismo pela UFRGS já atuou em veículos como TV Educativa, TV Guaíba, Rádio Bandeirantes, Ulbra TV, entre outros. Vê o jornalismo como profissão e a política como missão, alia ambos conhecimentos e experiências desenvolvendo sinergia entre as áreas. Envolvido com militância desde muito jovem Jairo é apaixonado por ver a história acontecer diante de seus olhos. Veja os principais trechos da entrevista abaixo.

Como enxerga a influência do jornalismo na política atualmente?

Jairo Jorge: O jornalismo exerce um papel fundamental na construção da opinião pública que é decisiva para a construção de bases políticas, pois é formada a partir da interação dos meios de comunicação. Hoje há um conjunto de veículos novos a partir das redes sociais, é uma nova forma de interação, mas o jornalismo sempre será o farol que conduz as pessoas a um porto seguro. Os jornalistas analisam as informações, interpretam os fatos e fazem conexões ajudando a construir uma opinião pública crítica e que é essencial para a política. A opinião pública consciente é fundamental para que tenhamos uma política atuante, correta, honesta, com princípios e idealismo. Então o jornalismo tem tudo a ver com a boa política, pois ela nasce do bom jornalismo.

Como entrou na área política?

Jairo Jorge: Iniciei na política aos 21 anos. Na época Canoas era considerada área de segurança nacional, então não havia eleições e o prefeito era nomeado, mas com o processo de redemocratização em 1985 houve eleição para prefeito em algumas cidades do Brasil e Canoas foi uma delas. E em razão da minha atividade em uma liderança comunitária, presidente de associação de bairro e tinha iniciado no curso de jornalismo, fui escolhido como candidato a prefeito na minha cidade. Fui o candidato mais jovem do Brasil nessa eleição, fiquei em 3° lugar e fiz em torno de 10% dos votos naquela eleição, foi muito legal.

O que a experiência na política agregou na tua formação como jornalista?

Jairo Jorge: Agregou na tolerância, jornalista tem que ter a capacidade de ouvir as pessoas e a política ensina isso. Muitos profissionais acham que são donos de razão, falam mais que o entrevistado e as vezes já vão para a entrevista com pré-conceitos, ou seja, uma opinião formada antes de conhecer o fato. A política me deu mais humildade e a capacidade de entender a existência do contraditório e que é necessário tolerância. Se hoje eu atuasse apenas na minha profissão de jornalista, pois política não é profissão é missão, a lição que levaria da política é a humildade, diálogo, tolerância, que são predicados muito importantes nos tempos que vivemos hoje, que é um tempo de intolerância, falta de diálogo e disputa. O que considero uma boa política e correta, é ter a capacidade de olhar o todo e não ficar olhando só para uma parte, embora faça parte de um partido o grande movimento da política é a capacidade de universalizar, pensar no interesse comum de todos, não apenas de uma parte da sociedade, mas o todo.

Fora a formação em jornalismo, fez outros cursos para se especializar na área política?

Jairo Jorge: Fiz vários cursos em gestão, não de especialização, mas de aperfeiçoamento. Acabei me vocacionando para a área de gestão pública, e claro, a experiência de gestão que eu tive me ajudou.

Quando surgiu o interesse pela área política?

Jairo Jorge: O interesse pela área política surgiu aos 14 anos quando comecei a me envolver com o grêmio estudantil e fui presidente três vezes, aos 15 anos também era militante da pastoral da juventude e aos 18 participei da juventude operária católica (JOC), foi uma organização importante. Em razão dessas experiências se deu inicio ao interesse do tema político, mas já a política partidária veio mais adiante, aos meus 21 anos. Mas de forma geral o interesse se iniciou aos 14 anos.

De forma simples, qual solução acredita que ser a melhor para o caos administrativo político que vivemos hoje no país?

Jairo Jorge: O primeiro passo é a capacidade de buscar o consenso, pois com o país dividido não vamos a lugar algum. Precisamos de um processo de unificação, temos que tornar a população uma unidade, pois não existe como apenas uma parte do país sair da crise. Tivemos essa experiência na década de 70 quando havia o “Brasil ame-o ou deixe-o”, ou seja, quem não concordava com aquilo deveria ir embora do país, e não é assim, incentivar a polarização não deu certo. Essa divisão onde um lado não dialoga com o outro é nefasta, e não favorável para que a gente construa. Acho que criar uma capacidade de condição para um consenso mínimo e que permita a sociedade avançar. Sem isso vamos ficar batendo na mesma tecla. Esse é apenas o primeiro passo, criar uma unidade com consenso e diálogo.

Em uma escala de 1 a 5, como classifica a influência da formação em jornalismo na tua gestão política e por quê?

Jairo Jorge: 5, porque o jornalismo também me deu a capacidade de olhar o outro lado, as vezes a política olha só para uma parte e o bom jornalismo te ensina sempre a procurar todas as versões, opiniões, para não ter uma visão maniqueísta do bem o do mal, do sim e do não. Então saber buscar fontes, o que originou, quais são os fatos relacionados, é essa escola do jornalismo que me ajudou na política para que eu procurasse saber o que o outro estava pensando, porque as vezes falta alteridade na política. O jornalismo me deu a capacidade de me colocar no lugar do outro, o pensamento crítico do jornalista é àquele que nada contra a corrente, está sempre investigando, questionando ao outro mas a si também. Assim aprendi a ter um discurso mais tranquilo e mais sereno, buscar entender todas as posições, ter coerência, por que vou criticar uma pessoa se de repente eu faria o mesmo que ela está fazendo?! Só porque ela é de um outro partido?! Posso elogiar uma pessoa se ela estiver tendo uma atitude correta mesmo sendo de um partido diferente do meu. O jornalista não tem lado, se a proposta é correta vamos aplaudir e se for errada vamos criticar, não vamos ter medo do poderoso. Essa é minha visão do bom e correto jornalismo e acredito que isso ajudou a formar minha visão política, que me desenvolveu por exemplo, para poder ler um livro de alguém com um pensamento diferente do meu e não ter problemas com isso, pois preciso conhecer o outro lado e tentar entender porque o outro está dizendo isso ou porque tem uma opinião diferente. O jornalismo ensina a dialogar com todo mundo, pois não entrevistamos apenas amigos, se for entrevistar alguém que tu não goste muito, tu não vai fazer uma entrevista diferente por esse motivo, vai fazer uma entrevista igual a qualquer outra.

Uma dica para os estudantes com foco na área de assessoria política?

Jairo Jorge: Eu acho que é um grande mercado, é uma fronteira que quando comecei não existia e hoje é nova e rica. Porque nem todos políticos têm vivência em comunicação, embora sejam líderes, eles precisam de profissionais que façam essa mediação com a comunicação. O presidente Bill Clinton dizia que “50% do que fazemos é comunicação”, e isso dizia na época dele, hoje em dia já diria que comunicação é praticamente 70% que fazemos, e por isso a assessoria política é fundamental, pois sem isso não se constrói, não se dialoga, não se interage, não se forma opinião, não se forma consciência crítica. Então vejo como um mercado em expansão e que tem muito a aprender nele também, pois é uma área dinâmica do jornalismo.

Se não tivesse seguido na área política, qual outra área do jornalismo te desperta interesse?

Jairo Jorge: Eu trabalhei muito tempo em televisão, fui repórter, fiz produção de programas e direção de documentários, também trabalhei em rádio e impresso, hoje é o que chamamos de profissional multimídia, pois tive a oportunidade de trabalhar nos três. Mas se hoje eu não estivesse atuando na gestão pública eu voltaria tranquilamente para o jornalismo de televisão.

Qual o aspecto mais positivo de vivenciar o jornalismo político no dia a dia?

Jairo Jorge: Poder ver a história se desenvolver ao longo dos teus olhos, acho que isso é a coisa mais interessante do jornalismo político, é ser uma testemunha ocular de fatos históricos. Eu gosto muito do jornalismo político, acho que é uma área extremamente rica.

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