Marta Sfredo revela pautas, dicas e bastidores do jornalismo econômico dentro da Zero Hora

Gabriel Rodrigues
Dinheiro e Poder
Published in
8 min readOct 10, 2019
Marta Sfredo na redação de GaúchaZH conversando sobre a editoria de economia. Crédito: Felipe Cardoso

Um bate papo com bastantes risadas sobre o antigo e o futuro do jornalismo, Marta fala sobre sua produção de pautas, as mudanças de uma hora para outra dentro do jornalismo econômico e dicas de como seguir nesta área.

Por Gabriel Rodrigues

Marta Sfredo nasceu em Sananduva (RS) e formou-se em jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1984. Ela passou por diversas rádios como a Rádio Guaíba e também jornais como Correio do Povo. Entrou na Zero Hora em 1992, inicialmente na editoria de política e só com o passar dos anos que foi migrando para a economia, que atualmente, é sua especialidade. Em questões de prêmios, Marta ganhou vários deles, como cinco Prêmios Ari de Jornalismo, na categoria de reportagem econômica e desde 2015, é a titular do espaço de economia da Zero Hora.

Eu queria saber um pouco de você, como foi o inicio da jornada dentro do jornalismo, se houve alguém que te inspirou e o inicio do mercado de trabalho na área.

Marta Sfredo: Em questão de pessoas que me inspiraram, creio que não houve uma exatamente, mas sim uma série de pessoas que foram me incentivando e inspirando. E quanto o início da minha jornada, eu fui fazer vestibular para comunicação na UFRGS na época, para publicidade, porque o curso na época era comum para várias modalidades e depois se especializava nos últimos dois anos e o jornalismo me capturou durante a faculdade porque ao estudar as cadeiras de publicidade e de jornalismo, eu achei que faria mais sentido para mim seguir jornalismo, o que acabou sendo uma descoberta durante o curso ainda, o que foi bem interessante.

Como foi feita a sua escolha para seguir dentro do caminho do jornalismo econômico já que anteriormente, você fazia parte da editoria de politica?

Marta Sfredo: Eu já fiz um pouco de tudo, já fiz produção de jornal, de esporte amador, política e agora economia, esta última, foi uma oportunidade que surgiu e eu brinco sempre com o aluno de jornalismo que na época ainda no ensino médio, eu sempre era aquela aluna que era boa de matemática, o que era raro, tratando-se de jornalismo e aquela oportunidade surgiu e comecei a importância de entender economia porque todo mundo acha que é a política que define muita coisa, mas é a economia também que define muitas coisas. Eu comecei a entender a importância e a relevância dos temas econômicos e realmente eu me apaixonei e acabei me encantando por esse assunto, mesmo sendo mais trabalho e ter disponibilidade para decifrar situações que não são tão corriqueiras no nosso dia a dia.

Como é feito a produção de pautas no jornalismo econômico aqui na Zero Hora, especificamente para você?

Marta Sfredo: A gente sempre olha as coisas que são interessantes e as coisas que são relevantes, aquilo que mexe com o dia a dia das pessoas, no bolso das pessoas, tudo que pode provocar algum tipo de impacto ou efeito, mudanças de juros, mudanças de regra, todas essas coisas, porque a macroeconomia essa a que muda a vida de todo mundo, é muito nacional, porém aqui na Zero Hora, nós temos um olhar mais local, sendo assim, a gente procura manter um pé na macroeconomia nacional porque ela muda a vida de todo mundo e afeta a todos e as partes mais interessantes, como quando alguém abre um negócio ou uma empresa mudou, a gente olha mais pelo lado gaúcho de fato.

Relacionando um pouco com as pautas, você todo dia pensa em alguma pauta para escrever na sua coluna no jornal ou já tens algo pronto que pode ser usado?

Marta Sfredo: Olha, nós trabalhamos com planejamento mais a gente brinca que nós temos planos A, B, C, D e normalmente termina o dia, com o plano Z, porque depende muito do que acontece, porque as vezes acontecem coisas que a gente nem imagina que possam acontecer e claro, a gente tem um planejamento, porém ele é raríssimas vezes usado e obedecido, especialmente para a página impressa do jornal, que nós temos que ter na capa sempre uma foto ou um gráfico, e isso é uma das coisas que nós deixamos sempre planejado, para que a gente possa garantir que não fique uma página só com letrinhas.

E para você Marta, qual a importância do setor de economia dentro de um jornal, ainda mais sendo a Zero Hora?

Marta Sfredo: Eu acho que a importância é ajudar as pessoas a entenderem as coisas que estão acontecendo na economia, afinal é algo que está no dia a dia porque todo mundo se relaciona com a economia no dia a dia mas as vezes não percebe porque todo mundo tem contas a pagar, abastece o carro, tem suas despesas etc.… então a ideia é aproximar e mostrar o que acontece quando as pessoas não veem aquilo, do tipo, porque ocorreu isto, ou aquele outro e como funciona algumas regras para aumentar o grau de conhecimento das pessoas sobre as coisas que eles não estão costumados a observar

Como foi para você ainda lá em 2015, ser nomeada como a titular do espaço de economia da Zero Hora, depois de 8 meses já na editoria de economia?

Marta Sfredo: Na verdade, esse episódio é um pouco triste, porque foi provocado por uma morte de uma colega nossa que era muito importante para gente, o que foi inesperado também para mim, porque eu estava em outra área do jornal, cuidando de edição e quando houve este episódio, não havia alguém para assumir a posição e eu mesmo me coloquei no cargo ‘’temporário’’ e depois a gente iria ver o que seria, porém foi se estendendo o tempo até que me pediram para ficar de forma definitiva e foi muito bom porque, para mim, foi uma renovação de experiências, afinal, eu sou uma pessoa que sempre quer estar aprendendo e acho que a coluna traz essa oportunidade para nós por lidar com muitos assuntos no dia a dia e assuntos muitos variados.

Falando um pouco sobre economia, tem algum ramo dentro dela que você prefere comentar e escrever nas tuas colunas?

Marta Sfredo: Claro que tem assuntos que a gente tem mais facilidade porque até teve talvez um aprendizado maior em determinadas áreas, mas acho que não tem nenhum ramo ou segmento, mas eu tenho uma certa tensão eu diria nas questões que envolvem macroeconomia, como inflação, juros e cambio porque eu acho que estas questões impactam na vida de todo mundo, com consciência ou sem consciência, todos nós brasileiros somos impactados por decisões e por fenômenos que acontecem na macroeconomia, mas ela é macro exatamente por isso, porque ela preside todo o resto. Recentemente inclusive a gente passou a observar o que acontece em um segmento muito especifico, que é o segmento da nova economia e inovação e eu, comecei a ver que isto estava com uma grande proporção aqui e nós não tínhamos o hábito de olhar isto e a solução para isto foi a gente criar uma sessão dentro da coluna que daí nos obriga a olhar para isto. A gente sempre brinca que criar uma sessão dentro de uma coluna é criar um monstrinho que depois a gente tem que alimentar, mas é algo que disciplina a gente a olhar para algo que não é uma invenção e que nos obriga a olhar para isto com mais atenção.

Qual foi a importância de ganhar cinco prêmios Ari de Jornalismo na categoria de reportagem econômica?

Marta Sfredo: A gente sempre gosta de dizer aqui na Zero Hora que ninguém faz matéria para ganhar prêmio, mas o prêmio é importante porque ele é uma chancela para o trabalho, porque é o mesmo que dizer que este teu trabalho está bacana, tu estas na direção certa e é essa excelência que tu tens que buscar. Então acho que esse é o papel do prêmio, de dar uma certa chancela de qualidade e assinar o caminho que nós estamos seguindo, que este é o caminho certo.

E aproveitando também, como foi ganhar o prêmio Banrisul em 2011 com a reportagem ‘‘Paraguai que reluz”?

Marta Sfredo: Essa pauta foi uma pauta bem interessante porque todo mundo tem uma ideia do Paraguai de contrabando e pobreza, e a gente começou a notar que o Paraguai estava crescendo naquele ano, que se eu não estou enganada, o PIB daquele ano no Paraguai cresceu em torno de 14%, o que é um número absurdo que nem a China que eu lembre chegou a crescer e nós decidimos que nós iriamos olhar o que está acontecendo aqui do nosso lado, então a gente fez essa pauta que um pouco na contramão de todas as pautas que eram feitas do Paraguai porque normalmente, as pautas do Paraguai são polícia, violência etc.. E a gente foi lá ver o que estava acontecendo e isso acontece até hoje, o que não muda o fato que eles têm problemas lá claro, mas eles de fato encontraram o caminho para crescer, que nós ainda estamos procurando.

E você Marta, tens alguma dica para quem deseja seguir nesta área do jornalismo econômico depois da faculdade?

Marta Sfredo: Acho que a primeira coisa é isso, perder um pouco o medo dos números, porque número não morde, não belisca, não machuca e o bonito dos números é que eles têm uma lógica então as vezes, e só quebrar o primeiro gelo, afinal no dia a dia da economia, a gente não usa raiz quadrada, bhaskara e essas coisas assustadoras, mas uma boa e velha regra de três é essencial saber e sempre se informar sobre economia porque ela é muito importante por mudar muito rapidamente. Essa semana inclusive a gente tem um exemplo que no começo da semana a bolsa de valores segundo os analistas que qual dia a bolsa atingiria um recorde histórico em número de pontos e terminou a semana com a bolsa perdendo quase 100mil pontos, que é uma marca simbólica, ou seja, em uma semana, variou bastante e não é só essa questão de pontos e sim essa euforia que aconteceu essa semana e também ao mesmo tempo, uma preocupação e não é só a bolsa que muda muito rápido, assim como a reforma da previdência, que estava tudo encaminhado para ser votado na próxima semana e de repente desandou o humor de todo mundo e se a gente não está lendo isso todo dia, a gente perde a conexão, então é se informar e perder o medo dos números.

Bastidores

A conversa com Marta Sfredo, colunista e comentarista de economia da GaúchaZH foi uma aula de aprendizado. Desde o primeiro momento, fui tratado com muito carinho e respeito por ela e ao mesmo tempo que realizei a entrevista, pude também conhecer as dependências da redação integrada GaúchaZH, conhecer jornalistas na qual eu os admiro e ter a experiencia por um dia de ser um repórter com uma pauta e realizar ela com sucesso.

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