Sentindo as dores do mercado…

Dores do Mercado e o Designer do Futuro

Thomas Mansūr
Dinius — Design & Inovação
5 min readOct 16, 2018

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Após 4 anos trabalhando em projetos para diversas indústrias, com StartUps e empresas de grande porte, a verdade ficou mais nítida.

No mercado brasileiro, designers atuam (na grande maioria das vezes) nos sintomas, e não nas doenças que afetam toda empresa.

Nesse artigo vou discutir brevemente:

  • Como a má formação de designers e a expectativa das empresas impedem que designers atuem estrategicamente como parceiros de negócios;
  • Quais são realmente as dores do mercado que deveriam ser solucionadas;
  • Como as empresas podem aproveitar melhor seus designers;

Expectativas

Em pleno século 19, Henry Ford, já dizia: “Se eu perguntasse às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito ‘um cavalo mais rápido’.”

Se você perguntar para a maioria das empresas brasileiras ou até mesmo para designers em formação quais são as características de um bom designer, provavelmente elas irão dizer: “um ótimo senso estético”, “muita experiência com softwares de design”, “habilidade em se comunicar e ter empatia” e no máximo “entender conceitos de usabilidade”.

Essas expectativas estão corretas, mas representam o senso-comum de posicionar designers como profissionais estéticos, que sabem fazer identidades visuais e layouts bonitos que funcionam, mas participam muito pouco nas decisões estratégicas dos projetos que atuam.

Necessidades

Necessidades, ou dores, são uma outra história.

Após trabalhar com mais de 10 indústrias diferentes (em projetos de escalas e complexidades variadas) e também acompanhar as maiores agências de design do mundo, percebemos que o maior potencial para a atuação dos designers é lidando com os maiores problemas do mercado:

1. Equipes tem dificuldade para se alinhar

Devido à imaturidade do mercado em relação à técnicas de gestão relativamente consolidadas (PDCA, Agile, Scrum) é muito comum lidar com empresas que trabalham Ad Hoc (de maneira não estruturada e replicável) que simplesmente não dominam nenhuma técnica de mediação de conflitos, alinhamento de opiniões ou priorização de tarefas.

Essa dificuldade em se alinhar também acontece dependendo do modelo organizacional das empresas que pode gerar conflito de interesses entre departamentos internos (um precisa de recursos, o outro não concorda, etc).

CONCLUSÃO: empresas estão buscando profissionais que tenham a capacidade de mediação e condução de equipes em direção à objetivos claros de negócio.

2. Decisões de negócio se baseiam em opiniões

Aliada à falta de técnicas de mediação e condução de projetos, é fácil observar que muitas decisões importantes de negócio são baseadas na hierarquia da empresa e não necessariamente nas melhores ideias ou em uma coleta estruturada de dados para embasar essas decisões.

Reuniões importantes são resolvidas literalmente ‘no grito’ ou o indivíduo mais carismático ou insistente acaba ‘convencendo’ o grupo à seguir por determinado caminho.

CONCLUSÃO: empresas estão buscando profissionais que consigam enriquecer as tomadas de decisão, trazendo ferramentas e metodologias para captar dados reais.

3. Ciclos de produção são extremamente longos

Sem alinhamento interno da equipe e sem embasamento para a tomada de decisões, projetos duram 2, 3 ou 5 vezes mais do que o planejado, causando prejuízos literalmente imensuráveis para as empresas.

Além do desperdício de recurso financeiro, o desgaste das equipes, perda de foco e entusiasmo são extremamente nocivos para a qualidade de vida dos trabalhadores e para a produtividade. Mais importante, perde-se tempo!

CONCLUSÃO: empresas estão buscando profissionais e metodologias que consigam encurtar esses ciclos de produção para que elas possam se posicionar competitivamente no mercado.

4. Empresas sentem pressão para “inovar”

Com o amadurecimento da internet, da cultura empreendedora e com a velocidade exponencial de evolução das tecnologias da computação (principalmente), a capacidade de pequenas empresas desenvolverem soluções com o potencial de desestruturar grandes empresas cresceu muito.

A velocidade das mudanças fez com que expectativa de vida das empresas diminuísse, aumentando a pressão para maior adaptabilidade e desenvolvimento de novas soluções em curto período de tempo.

Essa pressão é maior em empresas já estabelecidas há muito tempo, com estruturas organizacionais mais rígidas e mentalidade ‘ultrapassada’, que procuram desesperadamente maneiras de se manter atualizadas.

CONCLUSÃO: além do encurtamento de ciclos de produção, empresas precisam de profissionais e metodologias para sistematizar o processo de resolução de problemas, criação e validação de novas ideias.

5. Empresas não entendem a dimensão do design

Por mais que a mentalidade de design seja inata aos seres humanos, (desenvolvendo soluções criativas para problemas cotidianos desde a idade da pedra), a área do design como conhecemos hoje é muito jovem (comparada à engenharias, por ex.) e cresceu rapidamente nos últimos anos.

Isso dificultou a vida das universidades, que perderam a chance de abordar grades contemporâneas como UI/UX design, Customer Experience, Design de Serviços e se tornaram obsoletas.

Dessa forma, os designers se posicionaram de maneira imatura no mercado, como prestadores de serviços operacionais, com pouco interesse e participação nas esferas estratégicas de negócio.

CONCLUSÃO: empresas precisam de profissionais que entendam a profundidade e amplitude da área de design e saibam dialogar na linguagem de negócios para agir como parceiros estratégicos.

Designers do Futuro

Com a evolução de tecnologias de Machine Learning, e o amadurecimento geral do mercado, muitas atividades de designers, antes valorizadas, estão sendo ‘commoditizadas’.

Esse padrão é óbvio quando observamos o surgimento de templates de websites, se expandindo para bibliotecas completas de padrões de usabilidade, tecnologias de design generativo, projetos prontos para impressoras 3D e a simplificação de ferramentas de design tornando acessível a manipulação e criação de imagens por pessoas leigas no assunto.

Isso significa que além do mercado desejar profissionais com o mindset de inovação e design de produtos e serviços, a própria tecnologia expulsará designers de seu posto operacional habitual.

Designers experientes já entenderam esse movimento e começaram a conquistar papéis estratégicos em suas respectivas empresas, entendendo a linguagem de negócios, de tecnologia e outras áreas afins, e passaram a atuar como facilitadores de projeto. Esse é o maior potencial da área no momento.

A maior prova dessa tendência é o sucesso exponencial de metodologias como o Design Sprint, que levam em conta todas as dores de mercado que citei, e colocam o designer como um ótimo candidato à conduzir equipes em processos estruturados de resolução criativa de problemas.

Conclusão

Experimente elevar as expectativas em relação ‘ao design’ e envolver esse profissional ou esse conhecimento durante todo o processo de concepção de novos negócios, produtos e serviços, facilitando o entendimento e a execução de novas soluções, depois testando e validando suas hipóteses.

Acredite.

That’s it! O que achou do artigo? :)
Sinta-se à vontade para deixar dúvidas, comentários e sugestões, e caso já tenha sofrido com algum dos pontos que citei, compartilhe suas experiências!

Abraços e até a próxima!

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