Sinceridade Radical: o Desafio da Comunicação no Trabalho
Colaborar é um desafio. Talvez o maior desafio da humanidade!
Para conseguir extrair os melhores resultados de uma equipe em um projeto é preciso se construir uma relação de confiança e cuidado com as pessoas a sua volta. Mas como fazer isso?
Segundo a autora do best-seller Radical Candor, Kim Scott, na maioria das vezes as pessoas tendem a apresentar um comportamento ‘Prejudicialmente Empático’, ‘Ofensivamente Agressivo’ ou ‘Manipuladamente Desonesto’ quando estão lidando com outras pessoas (explicarei em breve!).
Superar esses comportamentos e adotar uma postura mais humana no trabalho tem impactos profundos. Neste artigo tratarei dos quatro quadrantes da comunicação explicados no livro para que você possa identificar como se comunica com as pessoas e se aprimorar! Vamos?
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“Relações, e não o poder, geram resultados.” — Kim Scott
PRINCÍPIOS
Para conseguir ser Radicalmente Sincero no trabalho (e acredito que em todas as outras relações) é preciso entender duas dimensões da comunicação: a dimensão do ‘importar pessoalmente’ e a dimensão do ‘desafiar diretamente’.
Importar pessoalmente
Essa dimensão é sobre ser mais do que ‘profissional’. É realmente se importar com as pessoas a sua volta e compartilhar mais do que só a sua ‘versão profissional’ no trabalho.
Isso significa trabalhar o seu comportamento para mostrar um pouco mais de vulnerabilidade (por exemplo, admitir que está tendo um dia ruim) e criar um espaço de confiança para que as pessoas possam fazer o mesmo.
Resumindo, é assumir que, antes de mais nada, somos seres humanos com vidas, aspirações e expectativas que vão além do mundo do trabalho, e que é importante encontrar tempo para conversar sobre o que realmente motiva cada um de nós a levantar da cama todos os dias de manhã.
Desafiar diretamente
Desafiar outras pessoas e encorajá-las a te desafiar ajuda na construção de relações de confiança porque demonstra:
- 1. Preocupação em apontar o que não está indo bem e o que está.
- 2. Abertura para admitir quando está errado e comprometimento para consertar erros que você ou outros tenham cometido.
Ou seja, se ninguém nunca te desafia, fica bravo ou discorda de você, você não criou relações de confiança a sua volta.
O desafio para todo relacionamento é exatamente como você lida com a raiva. Não finja que o incômodo não existe, e se disser algo que machuca a outra pessoa, reconheça a dor dela.
O maior desafio é convidar as pessoas a te desafiarem o máximo possível, para que você se acostume a reagir positivamente e elas se abram para receber críticas de uma maneira positiva.
“Tanto a falta de elogios quanto a falta de críticas tem efeitos desastrosos na performance de equipes e na conquista de resultados.” — Kim Scott
QUADRANTES DA COMUNICAÇÃO
A partir dessas duas dimensões, ‘importar pessoalmente’ e ‘desafiar diretamente’, uma matriz com quatro combinações de comportamentos se formam:
Empatia Prejudicial
Existe um conto russo que conta a história de um homem que tem que amputar o rabo de seu cachorro, mas ele ama tanto o animal que corta 1cm por dia, ao invés de cortar tudo de uma vez! O desejo de evitar a dor do cachorro só causou mais dor e sofrimento. Não seja esse tipo de pessoa!
A maioria das pessoas evita criar situações de tensão e desconforto no trabalho e, com isso, criam situações onde uns ‘mimam’ os outros.
A liderança através da Empatia Prejudicial é muito comum e é uma das maiores causas de baixa performance em empresas, porque foca apenas em fazer com que as pessoas se sintam bem e não em apontar referências de trabalhos bem feitos e incentivar esse tipo de resultado.
Essa dinâmica gera líderes que nunca serão sinceros com seus colaboradores e colaboradores que nunca serão sinceros com seus líderes. Desta maneira, nunca se sabe realmente o que as pessoas estão pensando, quais são suas opiniões sobre os assuntos discutidos e nenhuma oportunidade de crescimento é criada.
Moral da história: pessoas são demitidas sem saber exatamente o porquê ou pessoas se demitem sem nunca dizer o que realmente pensavam.
Manipulação Desonesta
Muito comum também, a Manipulação Desonesta acontece quando líderes ou colaboradores agem com falsidade, sempre pensando em como fazer as pessoas gostarem mais deles ou pensando em como ganhar algum tipo de vantagem política dentro da empresa.
Esse comportamento raramente reflete o que a pessoa pensa, porque ela está sempre tentando manipular a reação emocional das outras pessoas em troca de ganhos pessoais.
Ser sincero envolve estar disposto a irritar ou desagradar as pessoas às vezes.
Se você está preocupado demais sobre o que as pessoas irão pensar de você, você está menos propenso a dizer o que precisa ser dito.
Deixe a sua vaidade de lado e se importe pessoalmente com as pessoas, e se você não se importar, não desperdice o seu tempo e o das outras pessoas tentando fingir que se importa.
Agressividade Ofensiva
Quando você critica alguém sem demonstrar que você se importa com a outra pessoa, sua comunicação soa agressiva para quem escuta.
Ironicamente, ser Agressivamente Ofensivo é a segunda melhor coisa que você pode fazer. Pelo menos você deixa claro para as pessoas a sua volta o que você realmente pensa e como enxerga o trabalho que estão realizando.
O medo de ser visto como agressivo empurra as pessoas para os quadrantes de Empatia Prejudicial e Manipulação Desonesta, mas isso se mostra ainda mais nocivo para as dinâmicas de trabalho.
Isso explica a vantagem que muitos líderes ‘babacas’ tem no mundo, e porque as pessoas preferem trabalhar para um chefe ‘grosso e competente’ do que para um chefe ‘incompetente e simpático’.
Sinceridade Radical
A autora conta um caso pessoal para ilustrar um exemplo de Sinceridade Radical:
Kim Scott tinha uma cadela muito mimada, e um dia, esperando para atravessar a rua com ela, o animal não parava de puxar a coleira na direção dos carros que passavam.
Ela implorava para ‘Betsy’ parar: “Calma, meu amor! Já já nós vamos atravessar!”, mas mesmo assim o animal continuava forçando a coleira.
Um estranho ao seu lado, que também estava esperando para atravessar, olhou para ela e disse:
“Eu vejo que você realmente ama sua cadela.”
Em 2 segundos ele deixou claro que se importava e não a estava julgando.
Em seguida, a desafiou diretamente:
“Mas ela vai morrer se você não a ensinar a sentar!”
Curto e grosso. E então, sem pedir permissão, o homem se abaixou, apontou para a calçada e gritou firmemente:
“SENTA!”
A cadela sentou e Kim Scott ficou encantada. Ele sorriu e explicou:
“Não é maldade. É clareza!”
Ele poderia facilmente ter dito algo do tipo “Você não tem o direito de ter um animal se não souber cuidar direito dele!” e deixado a autora defensiva e fechada para receber a crítica simples e essencial que ele tinha para passar.
Mesmo correndo o risco de ser mal interpretado, ele reconheceu o carinho da autora pelo animal e explicou porque a recomendação dele era a maneira correta de lidar com aquela situação.
Moral da história:
Você não precisa dedicar muito tempo conhecendo as pessoas e conquistando a confiança delas para ser Radicalmente Sincero. Na verdade, uma ótima maneira de conhecer as pessoas é criticando ou elogiando o comportamento delas da maneira mais pessoal e sincera possível!
Como começar a ser Radicalmente Sincero?
Comece recebendo…
Explique esse conceito para as pessoas a sua volta e peça para que elas sejam Radicalmente Sinceras com você. Comece deixando claro que você quer receber críticas, demonstrando que está ciente que em muitas situações você está errado e que deseja melhorar e ser desafiado!
Isso é importante porque quanto mais críticas você receber, mais vai perceber como os quadrantes funcionam, vai sentir na pele a sensação de receber esse tipo de críticas e vai construir relacionamentos com muito mais confiança.
“Não é sobre estar aberto à receber críticas.
É pedir constantemente para recebê-las!” — Kim Scott
Uma ótima pergunta para fazer para seu chefe, para seus colaboradores, ou para as pessoas que trabalham para você é:
“Existe alguma coisa que eu poderia fazer ou parar de fazer para melhorar a nossa relação?”
Elogios são ainda mais importantes!
Nós aprendemos mais com as críticas do que com elogios, então porque é tão importante elogiar?
- 1. Elogiar guia as pessoas na direção certa e mostrar o que continuar fazendo é tão importante quanto o que não continuar fazendo.
- 2. Elogios encorajam o aprimoramento. O melhor elogio faz muito mais do que apenas fazer a outra pessoa se sentir bem. Ele te desafia a melhorar!
“No final das contas, foque mais em elogiar as pessoas do que criticá-las, mas, acima de tudo, seja sincero!”
— Kim Scott
That’s it!
Este foi apenas um resumo superficial de um dos conceitos-chave que Kim Scott apresenta em seu livro, que trata de outros assuntos igualmente profundos e interessantes para se estabelecer a melhor relação possível no ambiente de trabalho e atingir os melhores resultados!
Recomendo a leitura do livro, e adoraria escutar críticas Radicalmente Sinceras sobre esse artigo! :)
Abraços e até a próxima!
