É drama que você quer @?

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
5 min readSep 16, 2019

espera aí que vou chamar Soraya

¿Hola chicos, qué tal?

É com uma saudação no idioma mais maravilhosamente dramático que abro essa newsletter. Pois sim, falaremos de drama. E quem mais manja de tal modalidade são os hispano hablantes, los latinos papi, muy calientes pero que sí.

Só sei que amo demais o idioma e a culpa é de um professor de espanhol que tive milhares de anos atrás. Lizardo (por onde anda Lizardo, bjo Lizardo) era chileno e meu deu aula de espanhol por 2 anos. Sempre no final das aulas colocava música. Mercedes Sosa e Alejandro Sánz estavam entre os mais tocados. Aí eu percebi o quão profundos e extremamente emocionais eles são. Se entregam ao drama de uma maneira peculiar.

Tudo relacionado a eles possui a tinta mais forte seja em qual área for. Cinema, música, literatura, arte. Pode reparar. A cultura latina é riquíssima e extremamente passional.

“A cultura latina, no primeiro sentido do termo, é a cultura dos latinos, povo fundador de Roma. Por extensão de sentido, a cultura latina designa também a cultura da Roma Antiga e do Império Romano.

Atualmente, os países de cultura latina concentram os povos considerados latinos, ou seja, grupos cuja língua veicular e parte de seu legado cultural e étnico seja derivado da Roma Antiga. Neste sentido, podem ser citados como referenciais da cultura latina os povos hispanófonos (de língua castelhana), lusófonos (de língua portuguesa), francófonos (de língua francesa) e italófonos (de língua italiana).”

Não é à toa que as novelas mexicanas são sinônimo de drama. O que dizer da clássica Maria do Bairro e a cena icônica da cadeira de rodas protagonizada pela vilã Soraya Montenegro dando o famigerado flagra. Olha como o idioma faz toda a diferença:

Dublado em português: apesar da dublagem brasileira não fazer feio, nem de longe possui a mesma carga emocional se comparada ao original.

Original em espanhol: me fala se a cena não fica mil vezes mais dramática? Placar final: MALDITA LISIADA 10 x 0 MALDITA ALEIJADA.

Usei a clássica cena de uma novela pra mostrar bem como o espanhol faz a diferença na dramaticidade. Na música também é bem forte. Por exemplo a canção Olvídame y pega la vuelta interpretada por Jennifer Lopez e seu ex marido Marc Anthony. A tradução ao pé da letra é Me esqueça e vá embora. Imagina se não fizeram uma versão em português? O nome ficou bem sem graça: Siga seu rumo. Leia em voz alta e me fala qual a frase mais dramática?

Olvídame y pega la vuelta x Me esqueça e vá embora x Siga seu rumo

Agora repare na letra da parte do refrão. Tem que ler ouvindo a música senão não sente o impacto do drama:

Ouça aqui (JLo e Marc Anthony)

[Jennifer]
Por eso vete, olvida mi nombre, mi cara, mi casa
y pega la vuelta

[Marc]
Jamás te pude comprender

[Jennifer]
Vete, olvida mis ojos, mis manos, mis labios
que no te desean

[Marc]
Estás mintiendo ya lo sé

[Jennifer]
Vete, olvida que existo, que me conociste
y no te sorprendas, olvida de todo que tú para eso
tienes experiencia.

Ouça aqui (banda Vexame)

[Marisa]
Por isso, fora, esqueça meu nome, meu rosto, esta casa
e siga seu rumo

[Homem]
Não consigo compreender

[Marisa]

Fora, esqueça os meus olhos, meu corpo, meu beijos e todo o meu mundo.

[Homem]
Está mentindo, posso ver

[Marisa]
Fora, tá tudo acabado, esqueça que eu vivo e não se surpreenda, esqueça de mim que afinal pra esquecer
você tem experiência.

Informações pertinentes: A música original é da dupla de irmãos argentinos Joaquín e Lucía Galán, a JLo apenas regravou. A Marisa da banda Vexame é a Marisa Orth.

Relatos Selvagens (2014) — o filme é composto de um prólogo e cinco episódios independentes que se conectam tematicamente, costurando uma série de reflexões que se somam em um brilhante resultado final. Pra você ter uma ideia o diretor Damián Szifron, se mostra uma espécie de Tarantino argentino. O último conto gira em torno de uma festa de casamento, que é muito bem filmada e que conta com uma atuação espetacular da atriz, que nos remete às mulheres de Almodóvar. Também é melhor não falar muita coisa deste episódio, mas é brilhante como reúne cenas de drama, romance, tensão, suspense e até gore. Depois de tanta tragédia (embora sempre divertida), o longa termina de forma épica e até mesmo otimista. Infelizmente não está no catálogo da Netflix, então dá seus pulos pra assistir porque é uma obra prima.

Dor e Glória (2019) — do diretor mestre do drama, o espanhol Almodóvar traz em seu filme mais recente sua biografia. O personagem principal interpretado por Antonio Banderas é Salvador Mallo, um diretor de cinema, envolto em crise criativa, dores no corpo inteiro e depressão. Ao ter sua obra de 30 anos atrás homenageada, reencontra um antigo amigo, um antigo amor e suas memórias de infância. É um drama mais delicado sem altos e baixos, extremamente sensível. Nem parece Almodóvar, mas há detalhes em que é possível ver sua presença lá. Penélope Cruz faz uma participação especialíssima. É um belíssimo filme cheio de reflexões acerca das memórias afetivas de um criativo em seus quase 70 anos. Vale muito a pena.

As Telefonistas (2017) — em 1929, quatro mulheres vêm de diferentes partes da Espanha para trabalhar como telefonistas em uma empresa em Madri que vai revolucionar o mundo das telecomunicações. A série é marcada por discussões e abordagens de temas importantes, como o feminismo numa época de falta de liberdade para as mulheres. Ao mesmo tempo que reproduz uma realidade da primeira metade do século XX, também mostra como alguns aspectos da sociedade ainda permanecem atuais, focando na desigualdade de gênero. Confesso que não botei muita fé quando comecei a ver, então me surpreendi, pois é uma novela carregadíssima de drama e também uma aula sobre sororidade. Os episódios sempre terminam com um cliffhanger que é difícil não seguir maratonando. As 4 temporadas estão na Netflix e vem a 5ª por aí graças a deus.

Hablando Spañol é uma playlist que criei no Spotify para quem gosta ou está aprendendo o idioma. Shakira, Alejandro Sánz, Rick Martin , Maná e por aí vai. Só sucesso!

Muy bueno chico. Vou ficando por aqui. Foi drama demais por hoje. Fique a vontade para comentar, para chorar ouvindo as músicas e se deliciar com os filmes. E vamos deixar para ser frio quando morrer né não? Bora fazer drama sim!

¡Vale!

Quer se inscrever nessa newsletter e recebê-la quinzenalmente na sua caixa de e-mail? Só clicar aqui.

Besitos y hasta luego!

--

--