A verdade está lá fora

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
8 min readJul 17, 2020

ela faz a investigação dela

A edição de hoje é uma homenagem aos detetivões formados por Gil Grisson em CSI, que assim como eu, são apaixonados por investigação criminal e obras true crime.

Os casos da vida real ou não deixam a gente chocados, pensando mil coisas sobre como o ser humano é capaz de atrocidades e um dos desafios é tentar compreender a motivação de assassinos, maníacos e serial killers e claro, como a polícia conseguiu chegar até eles. Acompanhar esses casos é um belo exercício de raciocínio de como analisar provas e evidências pra fazer as relações necessárias “como, onde e porque”.

Quando estreou em 2000, CSI (Crime Scene Investigation) foi um enorme sucesso. A franquia teve um grande impacto cultural. A série durou 15 temporadas e produziu spin-offs como CSI Miami, CSI NY e CSI Cyber. Um total de 797 episódios da franquia CSI foram ao ar. Atualmente faz parte do catálogo da Amazon Prime Video.

O impacto foi tão grande que gerou o chamado “Efeito CSI” na vida real.

A polícia americana não gostou muito do sucesso da série, porque os criminosos ficaram mais cuidadosos ao deixar pistas como fios de cabelo ou algo que pudesse detectar seu DNA. Isso também se aplicou no sistema judiciário onde os jurados têm vindo a exigir mais provas forenses em julgamentos criminais, aumentando assim o efetivo nível de prova para os promotores.

Com críticas negativas de que “não é bem assim que funciona”, Anthony E. Zuiker, criador da franquia, afirmou que “toda a ciência é exata” nos programas; pesquisadores, no entanto, têm descrito que CSI erra ao retratar a ciência forense como ‘magia de alta tecnologia’.

Um cientista forense estimou que 40% das técnicas científicas representadas em CSI não existe. Além de utilizar técnicas irrealistas, CSI ignora todos os elementos de incerteza presente em investigações reais e, por vezes retrata resultados experimentais como verdade absoluta.

Mas a gente não quer saber. A gente quer mesmo é entretenimento e bancar os detetivões que acha que vai fazer o trabalho melhor que a polícia sentados no sofá.

Sabia que foi assistindo CSI que os irmãos Cravinhos e Suzane Von Richthofen tiveram a ideia de montar a cena de assassinato dos pais dela? Para evitar vestígios, a dupla assistiu a 43 episódios da primeira e segunda temporadas — dali saiu a ideia de usar luvas cirúrgicas e meias-calças de microfibra, a fim de não deixar digitais em corrimões e maçanetas, além de pelos e fios de cabelos na cena do crime. Bom, não deu muito certo, pois a polícia sacou e logo estavam todos presos.

Hoje em dia é muito difícil enganar a polícia como já foi um dia. Pode reparar que os casos de assassinos seriais que ficavam anos sem ser pegos era comum nos anos 70/80, porque na época não havia técnicas de detecção de DNA e a tecnologia dos bancos de dados como agora. Somam-se aí a internet e câmeras em todos os lugares.

Outra coisa a se comentar é que alguns crimes trazem discussões à tona na sociedade. Um exemplo foi o caso Lorena Bobbitt (que cortou o pênis do marido). A partir daí começou a ser discutido o estupro marital.

Acompanhar esses casos só nos mostra como a crueldade humana não tem limites. Tentar compreender é o que desafia especialistas até hoje.

Mistérios Sem Solução (Unsolved Mysteries, 2020, Netflix)

Com 6 episódios, conta casos reais de desaparecimentos, assassinatos brutais e encontros paranormais sem uma explicação ou conclusão dos casos.

O mais impactante foi o caso de uma família francesa que desaparece e depois descobrem que foi inteira assassinada e o suposto autor ainda tá livre por aí. O crime aconteceu em 2011.

Pra mim rolou aquele sentimento de “não resolveram porque não quiseram”, mas como disse antes, falar é fácil sentadinha no sofá, o que não deixa de ser bizarro com as evidências todas ali. Dos mesmos produtores de Stranger Things.

Eu Terei Sumido na Escuridão (I'll Be Gone in the Dark, 2020, HBO)

A série documental com 6 episódios é baseado no best seller da jornalista que começou investigar uma série de crimes por conta própria, Michelle McNamara que se tornou importante no caso Golden State Killer.

McNamara morreu em decorrência de uma overdose acidental de medicamentos em 2016. O responsável por dar continuidade e fim ao trabalho foi o viúvo Patton Oswalt, que se juntou a dois colegas de investigação da falecida esposa, Billy Jensen e Paul Haynes.

Michelle foi muito obstinada e eu acho que isso fez total diferença no desfecho do caso. Ela se dedicou dia e noite no caso que ainda não tinha sido resolvido à época do lançamento do livro em 2018.

O assassino de Golden State que estuprou 50 mulheres e matou pelo menos 12 pessoas ficou foragido até pouco depois do lançamento do livro, quando foi descoberto.

Arquivo X (The X Files, 1993, Amazon Prime Video e Globoplay)

A série lendária trata de temas como conspirações governamentais, alienígenas, monstros sinistros e casos sobrenaturais teve imenso sucesso numa época que o streaming nem pensava em existir, durando 9 temporadas originais (até 2002), 2 temporadas especiais (2016 e 2018), além de 2 filmes (1998 e 2008).

“A série moldou toda uma geração e influenciou comportamentos — se hoje você ‘shippa’ algum casal, é por conta dos fãs de Arquivo X que torciam por um interesse romântico entre Mulder e Scully”.

Lembro que passava na Record e era um sucesso, hoje entendo o porque. Comecei a ver só agora que chegou no Prime Video. É boa mesmo, simples, sem grandes efeitos especiais e realmente a dupla tem um carisma que te faz ficar vidrado.

Uma dica: caso a série não apareça na home do Prime Video, digite “The X Files” na busca e não “Arquivo X” pois não aparece. Coisas de Amazon.

Mindhunter (2017, Netflix)

Uma pena só ter duas temporadas. Uma das melhores séries que a Netflix produziu com toda a certeza. Baseada no livro Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit e produzida por David Fincher e Charlize Theron entre outros. Só isso já é motivo pra ver.

Se passa em 1977 e gira em torno de dois agentes do FBI, interpretados por Jonathan Groff e Holt McCallany (depois entra Ana Torv) que entrevistam assassinos em série presos para tentar entender como esses criminosos pensam e aplicam esse conhecimento para resolver os casos em curso.

A caracterização dos assassinos é perfeita. Vê-los contando sobre os casos é perturbador. Pra quem gosta de true crime é uma série obrigatória.

American Crime Story: The People x OJ Simpson (2016, Netflix)

Caso de grande repercussão mundial, foi um dos primeiros a ter o julgamento transmitido ao vivo na tv. Cerca de 150 milhões de pessoas (57% da população norte-americana) parou na frente da tv para assistir ao ex-jogador de futebol americano OJ Simpson no banco dos réus.

Com produção de Ryan Murphy, conta com elenco de primeira grandeza como John Travolta, Cuba Gooding Jr e Sarah Paulson, a série reproduz magistralmente os eventos que levaram o astro aos tribunais acusado de matar a ex-esposa Nicole Brown e o amigo dela, Ronald Goldman em 1995.

Contado através da perspectiva dos advogados que conduziram o caso, a série irá explorar os acordos feitos de maneira informal e as manobras políticas conduzidas por ambos os lados envolvidos.

Um dos advogados de OJ foi Robert Kardashian, pai de Kim, Khloe, Kourtney e Rob Kardashian. O papel dele na série ficou com David Schwimmer. A Kris, esposa de Robert foi interpretada por Selma Blair.

A série prova o ponto que dinheiro, bons advogados e um sistema falho podem ser capazes de te livrar da prisão. Spoiler: ele foi absolvido, mesmo com todas as provas apontando sua culpa.

Plot twist: ele mais tarde se revelou verdadeiramente culpado, a máscara caiu e ele se envolveu em outros casos que acabou o levando a prisão.

Lorena (2019, Amazon Prime Video)

O documentário com produção de Jordan Peele conta o caso Lorena Bobbitt, famosa por decepar o pênis do marido enquanto ele dormia. Também teve grande repercussão no mundo todo na época, 1993.

Lorena chegou a ir a julgamento. Os jornais e tabloides internacionais cobriam os acontecimentos 24 horas por dia. Os programas de tv disputavam entrevistas com ambos.

Ela foi taxada como louca e o marido John Bobbitt teve seus momentos de fama como o coitado que não merecia e também por causa da curiosidade das pessoas em saber como ficou depois do pênis ser reimplantado.

A sociedade se dividiu entre #TeamBobbitt e #TeamLorena. Assim como OJ Simpson, a máscara de John caiu e ele se revelou pior do que se pensava ao se envolver em outros casos de abuso, além de se tornar um oportunista que queria cada vez mais fama. Até filme pornô ele fez.

Vale cada segundo e dá uma bela noção de como a mídia pode influenciar a opinião pública. Depois de conhecer bem o caso a sensação é que Lorena cortou foi pouco. O erro dela foi jogar fora, devia ter era jogado na privada e dado descarga.

🎧 Cena do Crime: é o primeiro podcast de criminologia do país, além de também ser o primeiro apenas focado em true crime. A jornalista policial Isabelle Reis conta sobre os casos de assassinatos mais emblemáticos no Brasil e no mundo. O programa libera três episódios por mês.

🎧 Assassinos em Série: toda semana, Assassinos faz uma entretida e profunda análise psicológica da mente, dos métodos e das loucuras dos mais notórios assassinos em série do mundo na esperança de entender melhor seus perfis psicológicos.

🎧 Modus Operandi: podcast de true crime feito por Carol Moreira, Bel Rodrigues e Mabê.

Esse assunto rende e existem mais 1 milhão de casos pra explorar. Esses são somente alguns dos que mais gostei e me lembro agora.

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