Insanidade Virtual

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
5 min readApr 15, 2020

oh yeah, what we're living in…

Esta edição foi inspirada pela newsletter da Aline Valek “Uma Newsletter #60: Revolução de portas fechadas”, onde ela faz um paralelo dos dias de hoje com a música Virtual Insanity do Jamiroquai. Aliás, lembra? Por onde anda Jamiroquai, bjo Jamiroquai.

Caso você não conheça, é uma banda britânica que fez muito sucesso nos anos 90 por sua vibe pop psicodélica dançante, excêntrica, moderna, descolada etc e tal. Todo mundo que era jovem naquela época (cof cof) curtia eles.

Bom, voltando ao que interessa, reproduzirei o trecho maravilhosamente escrito pela Aline:

Se existisse algum profeta sério no nosso mundo, essa pessoa teria avisado que em 2020 viveríamos dentro de um clipe de Jamiroquai. Este clipe aqui. Tão atual que nem acredito que veio do longínquo ano de 1997 — quando cuidávamos de Tamagotchis e quando fomos lembrados que não importa se nosso navio é um Titanic, ele sempre pode afundar.

Profeta foi Jamiroquai, ao prever esse momento em que só nos restaria ficar pirando entre quadro paredes, deslizando pela sala, trocando o sofá de lugar e cantando, em falsete, this virtual insanity that we’re livin’ in.

No tédio de uma sala monocromática, a mente adquire as asas de um corvo e voa longe, embora a cabeça continue debaixo de um chapéu gigante. Momento de dar dois passinhos malemolentes para trás e refletir: “Estou pensando na bagunça que nos metemos, mas difícil saber por onde começar”.

Fomos empurrados para dentro; de repente a sobrevivência da humanidade depende disso. A maior parte de nós não sabe como irá sobreviver sob essas circunstâncias. Outra boa parte de nós foi forçada a conviver com as próprias noias, que brotam do chão como baratas, mais visíveis do que nunca. Mergulhados em incertezas, estamos todos nós.

Em meio a esse processo de não saber e de surtar sozinhos e de nos perguntarmos o que realmente importa (vidas? a economia? contato humano? papel higiênico?), só podemos nos agarrar com força a uma tecnologia que até então culpávamos pelos nossos maiores problemas, desde ansiedade e depressão até malucos perigosos caindo de paraquedas em cadeiras de presidente. Mas um martelo não pode ser culpado se a gente decide usá-lo para bater no nosso dedão. É só uma ferramenta. Perdeu o sentido perguntar se a internet nos afasta ou nos aproxima: agora é nossa única opção.

“Nada vai voltar a ser como antes” é o mantra que se repete, como se tentássemos nos acostumar à ideia. O chão muda de direção sob nossos pés. O isolamento tem o peso da espera: estamos suspensos, esperando o mundo novo surgir no horizonte. Ainda não caiu a ficha que ele já está aqui.

Quando o mundo reseta, nunca voltamos para o zero. O novo se constrói com base no que já existe. Assim os organismos evoluem: a partir do código genético que possuem, suas cópias constróem novas formas de existir frente a adversidades. Assim o conhecimento também se constrói, em camadas sobrepostas: sobre os ombros da descoberta de alguém, outras pessoas sobem para enxergar mais alto e descobrir coisas novas.

O que temos? O que já existe? Jamiroquai deu a letra: Futures made of virtual insanity now always seem to be governed by this love we have for useless, twisting, our new technology.

A reação à pandemia acelerou um processo que já estava em andamento. Fomos empurrados pelas paredes do nosso mundo para habitar essa virtualidade. Não é mais um convite; é quase uma imposição. Um sacode: chegou a hora de levar a sério a virtualidade.

Louco né? Encaixa como luva em nosso presente. Se restavam dúvidas do modo black mirror way of life, não restam mais.

Outra coisa que reparei no meio de tudo isso é como as pessoas estão descobrindo que não suportam umas às outras. Vira e mexe vejo mulher não aguentando marido e vice-versa, mãe/pai que não aguenta os filhos dentro de casa…enfim a verdade é uma só:

OS SERES HUMANOS NÃO SE SUPORTAM

Fica aí essa reflexão. Escrevi e saí correndo.

Nada Ortodoxa (Netflix): A minissérie com apenas 4 episódios é baseada no livro de memórias de Deborah Feldman. É a história de uma mulher que foge de sua estrita comunidade hassídica (judaísmo ortodoxo) no Brooklyn para viver uma vida secular em Berlim.

Eu sabia que os judeus ortodoxos eram mais rígidos mas não imaginava que eram tanto, principalmente em relação às mulheres. Ver uma menina criada sob essas duras leis e resolver largar é muito forte. A série sabe mostrar com maestria os acontecimentos sem cair no dramalhão barato. É triste, mas não deixa de ser bonito ver uma pessoa conhecer a liberdade que a religião negou por tantos anos.

Quem foi criado numa religião e abandonou (guardadas as devidas proporções, lógico) vai se identificar de alguma forma.

Amo séries que me fazem pesquisar depois. E aposto que você vai fazer o mesmo. Jogar no buscador “judaísmo ortodoxo” pra entender um pouco mais. Recomendo muito.

Só se fala disso! Lives. Parece que até descobriram a pólvora né? Todo dia tem uma e os artistas estão competindo pra ver qual dá mais views. Um quer sofrer mais que o outro, aí todo mundo sofre junto numa espécie de catarse do sofrimento coletivo.

Brinquei dia desses que sofrência mesmo seria uma live do Radiohead. E eles fizeram. Não bem uma live, mas transmitiram um show Live From A Tent In Dublin (October 2000). E prometeram mais. Porque sofrer pouco é bobagem.

Don’t get any big ideas
They’re not gonna happen

Eitaaaaa que já tô sofrendo só de escrever esse trecho. É da música Nude do disco mais sofrido da galáxia In Rainbows.

🎧 E o famigerado e controverso fim de Lost fez 10 anos, então o pessoal do Dudecast gravou um episódio especial sobre o legado e o impacto do episódio piloto. Bom pra relembrar e matar um pouco as saudades.

👩🏽‍💻 Com o distanciamento social e o pessoal fazendo home office pode acontecer aquela reunião pelo Zoom. Pra não passar vergonha, aqui tem uns fundos pra usar e impedir que o povo da empresa veja sua parede toda cagada.

Chega né? Até a próxima! Se cuide, lave bem as mãos e fique em casa!

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