Isso é muito black mirror

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
5 min readSep 8, 2019

welcome to the future

Qual sua referência de futuro quando você era criança? Carros voadores? Robôs dividindo espaço com humanos? Dá pra visualizar o cenário quando assistimos filmes ou séries que tratam as consequências de um mundo governado por máquinas e algoritmos. Que me lembre, meu primeiro contato foi em 1984 com Exterminador do Futuro (que aliás amo — só os 2 primeiros por que o resto deixa pra lá). O plot era o seguinte:

“Disfarçado de humano, o assassino conhecido como o Exterminador (Schwarzenegger é do mal nesse primeiro filme) viaja de 2029 a 1984 para matar Sarah Connor. Enviado para proteger Sarah está Kyle Reese, que divulga a chegada do Skynet, um sistema de inteligência artificial que detonará um holocausto nuclear. Sarah é o alvo porque a Skynet sabe que seu futuro filho comandará a luta contra eles. Com o implacável Exterminador os perseguindo, Sarah e Kyle tentam sobreviver.”

Rolou aí a famosa e super explorada pela ficção, questão ‘humanos x máquinas’. Aí se juntam O Vingador do Futuro, Robocop, Blade Runner, Matrix, A.I. Inteligência Artificial, Eu Robô, Ex-Machina e muitos outros. Ah e claro, Black Mirror (que é a obra mais assustadora de todas pois tá muito mais perto da realidade).

A gente ainda não chegou ao ponto de ver robôs andando na rua, mas tem algo que já está por todos os lados e muitas vezes a gente nem se dá conta: os algoritmos. Encontrei um infográfico que explica bem como funcionam aqui.

pane no sistema, alguém me desconfigurou

Confesso que até hoje me causa um estranhamento digitar algo no Google e ele sugerir o resto (e quase sempre acerta). O “como ele sabe” são os algoritmos agindo.

As sugestões do que ouvir no Spotify, o que assistir na Netflix, a aba ‘recomendados’ no YouTube são feitas baseadas em nossos hábitos online. Foi assim que o algoritmo pôde identificar o que a gente gosta e voilà, a mágica tá feita. Eu não acho ruim não, pois me poupa o trabalho de ficar procurando, mas como tudo tem outro lado…é bom saber no que a gente tá se metendo né, ou melhor, no que estão metendo a gente.

Foi lendo 21 lições para o século 21, do incrível Yuval Harari (recomendo forte tudo o que esse homem escreve), me dei conta do quão complexo é tudo isso. O livro trata do avanço tecnológico descontrolado, I.A (inteligência artificial), biotecnologia e seus desdobramentos.

Vou passear por alguns trechos do livro para você ter uma ideia. O poder do algoritmo é enorme e não se limita apenas em nos sugerir coisas.

“Na bolsa de valores, por exemplo, algoritmos estão se tornando os mais importantes compradores de títulos, ações e commodities. Da mesma forma, na publicidade, o cliente mais importante de todos é um algoritmo: o mecanismo de buscas do Google. Quando as pessoas projetam páginas da internet, frequentemente procuram agradar mais ao algoritmo de busca do Google do que a qualquer ser humano”. (pág. 49)

Em outro trecho temos:

mesmo em sociedades supostamente livres, algoritmos podem ganhar autoridade, porque aprenderemos, por experiência, a confiar a eles cada vez mais tarefas, e aos poucos perdermos nossa aptidão para tomar decisões por nós mesmos. Pense em como, no decorrer de apenas duas décadas, bilhões de pessoas passaram a confiar no algoritmo de busca do Google em uma das tarefas mais importantes: buscar informação relevante e confiável. Já não buscamos mais informação. Em vez disso, nós googlamos. E, quanto mais confiamos no Google para obter respostas, tanto mais diminui nossa aptidão para buscar informação por nós mesmos. Já hoje em dia, a “verdade” é definida pelos resultados principais da busca do Google.”
(pág. 68)

Verdade seja dita. Quem aqui já abre o 1º link, talvez o 2º e pronto tá bom? Quem aqui vai pra página 2 de busca? Por falta de tempo ou preguiça, contenta-se com o que tá ali. E é exatamente pelo qual notícias falsas, informações equivocadas e incompletas se espalham mais que praga. Mas essa é outra questão que nem dá pra falar agora senão fico até ano que vem escrevendo.

Como diria Vanessão: o babado é certo.

A gente fica perdido no meio só com a mãozinha pra cima pedindo socorro. A quantidade de informação, a tecnologia cada vez mais avançada, carros autônomos, aplicativos pra tudo, impressoras 3D, óculos que simulam realidade virtual…a pergunta é: como sobreviver nesse mar de acontecimentos sem ser engolido por ele?

A humanidade se questiona desde os início dos tempos. Sempre houve questões para reflexão sobre nosso papel na coisa toda. O conflito é real. Portanto, vou terminar fazendo um contraponto com uma reflexão de quando a internet ainda não fazia parte do cotidiano. A música é de 1985, Humanos, do Supla.

Esse humanos…
Esses humanos que circulam
Pela cidade aí afora
Eu não aguento
Eles querem me conquistar
Eu não aguento
Eles querem me controlar

Querem me obrigar
a ser do jeito que eles são
Cheios de certezas
e vivendo de ilusão
Mas eu não sou
Nem quero ser
Igual a quem me diz
Que sendo igual
Eu posso ser feliz
Esses humanos…

Impossível falar em algoritmo e não citar o Facebook. Toda a celeuma de manipulação de dados e privacidade é tratada nessa reportagem incrível: O algoritmo é mais embaixo.

Foi noticiada uma nova tecnologia desenvolvida pela Samsung em que vídeos são feitos através de uma imagem de modo que a inteligência artificial pode até colocar palavras na boca de qualquer pessoa, até na de Mona Lisa.

A BBC Brasil nos explica o que é a geração alfa, a 1ª a ser 100% digital.

A Tramontina criou um projeto em parceria com o Spotify onde transforma música em sabor. E graças a quem? Ele mesmo o algoritmo.

Doideira né? Mesmo com todas essas questões eu amo a tecnologia e reconheço seus vários avanços em muitas áreas. Por tal razão não se deve ignorar seus efeitos colaterais. Conhecer bem o terreno embaixo de nossos pés não custa.

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