O futuro é agora

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
4 min readNov 11, 2019

e sinto lhe informar…

Imagem: Henn Kim

Quando eu criei a newsletter Dioramas Modernos, a ideia era escrever sobre dilemas que nos afligem nos tempos modernos de uma maneira divertida e leve, com memes, gifs, referências da cultura pop pra dar aquela desanuviada na dureza do dia a dia. Como uma conversa na hora de almoço, sabe, tipo: menina você viu tal coisa? Viiii, que babado. E assim se desenrolar uma conversa.

Hoje não vai ter meme, não vai ter gif e nem provocar um sorrisinho que é meu objetivo quando alguém chega ao final do e-mail. Não há clima. Basta olhar o noticiário. Olhar o mundo como tá. Olhar fora da bolha. Olhar nosso país. Meu Deus. Triste demais. Tá acabando. Sinto pelas novas gerações que ainda estão por vir. Não vai dar errado. JÁ DEU ERRADO.

Tudo isso me lembra uma cena do último episódio da série Years and Years (HBO). O caos se instala no mundo num futuro não tão distante, e então a avó da família protagonista, no alto da sabedoria de ter vivido muita coisa, nos encara e diz:

“É tudo culpa sua. Os bancos, o governo, a recessão, a América, Sra. Rook, tudo que deu errado, a culpa é sua.

Podemos ficar sentados o dia todo culpando outras pessoas: culpamos a economia, culpamos a Europa, a oposição, o clima.

E então culpamos essas vastas marés da história, como se estivessem fora de controle, como se estivéssemos tão desamparados e pequenos. Mas ainda é nossa culpa.

Você sabe o porque. É aquela camiseta de £1. Uma camiseta que custa £1.

Não podemos resistir a isso, cada um de nós. Vemos uma camiseta que custa £1 e pensamos: “Oh, isso é uma pechincha, eu vou levar” e nós a compramos.

E o lojista ganha cinco miseráveis centavos ​​por essa camiseta. E algum pequeno camponês em um campo é pago 0,01 centavo. E achamos que está tudo bem, todos nós. E entregamos nosso dinheiro e compramos nesse sistema por toda a vida.

Vi tudo errado no começo, nos supermercados, quando substituíram todas as mulheres nos caixas por caixas automáticos.

Sim, você não fez nada, fez?

Vinte anos atrás, quando eles surgiram, você relutou? Você escreveu cartas de reclamação? Você fez compras em algum outro lugar? Não… Você bufou, bufou e aguentou, e continuou. E agora todas essas mulheres se foram e deixamos isso acontecer.

E acho que gostamos dos caixas automáticos, nós o queremos. Porque isso significa que podemos passear, pegar nossas compras e não precisamos olhar essa mulher nos olhos.

A mulher que ganha menos que nós. Ela se foi, nos livramos dela. Demitida. Bem feito. Então, sim, a culpa é nossa. Este é o mundo que construímos. Parabéns, felicidades a todos.”

Fica aí essa reflexão para todos nós.

📺 Dieta de Gladiadores: o documentário fala sobre as recentes descobertas a respeito da alimentação usada pelos gladiadores na Roma Antiga. Eles não comiam carne, apenas grãos e vegetais. Eu achava em minha ignorância do senso comum que não existiam atletas veganos e para minha surpresa existem. Temos a participação de Arnold Schwarzenegger, Lewis Hamilton e atletas de alta performance que quebram o mito de que é preciso consumir carne para ganhar músculos. Muito esclarecedor, principalmente para pessoas que decidiram parar de consumir carne — eu, inclusa. (Netflix)

📺 Peaky Blinders: minha mais nova obsessão depois de Fleabag. Difícil até falar sobre pois é apenas a perfeição. Tudo é incrível: elenco, história, cinematografia, trilha sonora (os indie pira). Você se apaixona pela atmosfera inglesa dos anos 20 e se vê totalmente imerso na vida da família de ciganos Shelby. O submundo dos criminosos, os jogos de interesse na política, tudo ali lindamente produzido carregado de sotaque britânico. “Crime pays well. Business pays better”. O contexto histórico é outro ponto alto. É um deleite em todos os sentidos. A série estreiou em 2013 (onde eu tava, Deus, que não vi). Tá em sua 5ª temporada já renovada para a 6ª. Detalhe: a gangue dos Peaky Blinders realmente existiu. Produzida pela BBC, tá todinha na Netflix graças a Deus.

📖 O Ano do Pensamento Mágico: minha leitura da vez é o livro de Joan Didion em que ela conta como passou o ano seguinte à morte do marido. Um relato sincero sobre o luto. E pra quem passou por um momento parecido (perdi meu pai há dois anos), consegue se sentir abraçado de certa forma. Didion tem uma escrita muito natural que é como se ela pegasse em sua mão durante a leitura.

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