Sylvia Plath e o legado de quem sente

Katia Delavequia
Dioramas Modernos
Published in
6 min readMar 15, 2021

'eu falo com Deus, mas o céu está vazio'

Dia 8 de março foi o “Dia Internacional da Mulher”. Entre aspas porque datas assim me dão preguiça com a pretensão de significar muitas coisas mas na verdade não significam nada. Enfim… só aproveitei para falar de uma mulher em especial: Sylvia Plath.

Ela sabe transformar imagens e sentimentos em palavras como poucos. Admiro demais. E também pelo simples fato de que esta newsletter trabalha com referências. E chove referências à Sylvia na cultura pop.

Mas quem é ela?

A romancista e poetisa americana é conhecida como uma famosa representante da poesia confessional. Seus poemas eram tão famosos quanto suas tentativas de suicídio. Cada palavra que ela disse ao longo de sua vida estava se tornando parte de uma arte.

Plath conheceu e se casou com o poeta britânico Ted Hughes, embora os dois tenham se separado posteriormente. A depressiva Plath suicidou-se em 1963, com apenas 30 anos.

É considerada uma das escritoras mais famosas do século 20, ao lado de Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Marguerite Duras.

A Redoma de Vidro

O único romance de Sylvia Plath, foi publicado em 1963. Requer que você esteja bem para passear por suas páginas pois mostra a depressão de um modo EITA QUE PESADO ISSO. O livro, conta a história da jovem Esther Greenwood, que está fazendo um estágio em uma revista de Nova York. Aos poucos, a vida aparentemente glamourosa de Esther se torna um peso e culmina em uma tentativa de suicídio.

“Deve haver um bocado de coisas que um banho quente não cura, mas não conheço muitas delas. Sempre que fico triste pensando que um dia vou morrer, ou perco o sono de tão nervosa, ou estou apaixonada por alguém que não verei por uma semana, me deixo sofrer até certo ponto e então digo: vou tomar um banho quente”

É descrito por muitos biógrafos da escritora como uma ficção autobiográfica. A autora usa o termo redoma de vidro para ilustrar o quadro depressivo em que a personagem Esther Greenwood vive. Vale muito a leitura. Mesmo tratando de um tema sério e pesado, é delicado, bonito e triste.

“Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim”

The Sylvia Plath Effect

Cunhado pela primeira vez em 2001, por James C. Kaufman, um psicólogo renomado, acreditava que os poetas são os mais suscetíveis a doenças mentais do que qualquer escritor criativo, por isso deu o nome de Sylvia Plath. O trabalho de Plath é considerado imperativo na discussão da doença mental, especialmente em ‘A Redoma de Vidro’.

O trabalho de Kaufman demonstrou uma verdade em suas ideias, e ele não é o único pesquisador a apoiá-la. Em um estudo com 1.629 escritores, os participantes foram analisados quanto a quaisquer sintomas de doença mental. Eles descobriram que as poetisas eram significativamente mais propensas a exibir uma doença mental do que as escritoras de ficção ou escritores de qualquer área.

O Efeito Sylvia Plath se concentra em como os poetas são mais suscetíveis a doenças mentais do que a grande população. Novidade não é. Mas vai um passo além disso. Considera que os poetas correm um risco maior do que quaisquer outros escritores criativos. Basta olhar a biografia de alguns poetas É SÓ DESGRAÇA. Aliás, artistas em geral. Lembrei do Van Gogh.

Na música não é diferente. Guardadas as devidas proporções, costumo dizer que cantores/compositores que passaram por algum trauma ou drama produzem as melhores músicas. Sofrimento rende na arte.

Rainha das referências sim

Sylvia é icônica e sua importância e legado são inegáveis. Basta ver a quantidade de referências à ela na ficção e na música. Quer provas? Tenho.

Gilmore Girls: Sylvia Plath está entre as escritoras mais referenciadas na série sendo uma das escritoras favoritas de Rory que é frequentemente mostrada lendo Plath.

rory nunca errou

Degrassi, A Próxima Geração: Não conhecia essa série, descobri pesquisando. Eis uns dos diálogos:

Ms. Dawes: “Podemos ter uma parceria muito especial em nossas mãos, como Sylvia Plath e Ted Hughes!”

Clare: “Sylvia Plath se matou”

10 Coisas Que Eu Odeio em Você: Logo no início do filme, a personagem de Julia Stiles (Kat) é vista lendo “A Redoma de Vidro”.

essa é braba

Em uma das cenas, Kat, assumidamente feminista, faz duras críticas à predominância masculina nas obras ensinadas em sala de aula e faz questão de compartilhar seus conhecimentos sobre literatura feminina, citando autoras de diferentes nacionalidades. Esse filme é TUDO, já fiz texto sobre ele.

“Que tal Sylvia Plath, Charlotte Brontë ou Simone de Beauvoir?”

Antes da Meia-Noite: o filme faz parte de uma trilogia com Ethan Hawke e Julie Delpy. Imagina usar Sylvia na sua DR.

Música: Criei uma playlist com todos os artistas (que eu saiba) que referenciam Plath em suas canções. Entre eles Lana Del Rey: I’ve been tearing around in my fucking nightgown / 24/7 Sylvia Plath / Writing in blood on my walls / ’Cause the ink in my pen don’t work in my notepad

Arlo Parks: You read him Sylvia Plath / I thought that was our thing / You know I like you like that / I hate that son of a bitch

E por aí vai…

Deu vontade de ler Sylvinha?

Confira a relação de suas obras. Todos com link da Amazon:

Mary Ventura e o Nono Reino — 1952

The Colossus and Other Poems — 1960

A Redoma de Vidro — 1963

Ariel — 1965

Crossing the Water — 1971

Letters Home: Correspondence — 1950 a 1963

The Bed Book — 1976

Jhonny Panic e a Bíblia dos Sonhos — 1979

The Collected Poems — 1981

Diários de Sylvia Plath — 1982

Tá bom ou quer mais?

Links sylvísticos

Vídeo TED de Iseult Gillespie, dirigido por Sarah Saidan explica por que você deveria ler Sylvia Plath.

Quer ouvir os poemas dela? Spotify servindo tudo.

Filme? Temos também. Gwyneth Paltrow interpretou Plath no filme de 2003 “Sylvia- Paixão Além das Palavras”. Infelizmente não está em nenhum streaming. Mas tem por aí nas locadoras da vida. Daniel 007 Craig interpreta Ted Hughes, o marido.

O que podemos aprender com Sylvia Plath é que saúde mental é tão importante quanto saúde física. Os sentimentos refletem em nosso corpo. E falar sobre pode significar um caminho para viver melhor com eles. Infelizmente, para ela isso não foi suficiente. =/

"Como é frágil o coração humano —
espelhado poço de pensamentos.
Tão profundo e trêmulo instrumento
de vidro, que canta
ou chora"

Assim me despeço.

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PS: Esta newsletter fez 2 anos no último dia 11 yayy! Obrigada aos que acompanham e estão comigo viajando nas paranoias e teorias dioramísticas. =D

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