73 anos de Israel, 73 anos de luta palestina

O Estado Hebreu celebra o seu aniversário em estado de alerta.

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5 min readMar 2, 2024

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Por Daniel Viegas Rocha (14 de maio de 2021)

O século XX foi muito complexo. Em seu decorrer, de tudo um pouco aconteceu.

As maiores guerras a nível bélico que alguma vez a humanidade assistiu, levaram à divisão do mundo em dois blocos, e ao desmembramento do velho continente europeu em novos Estados. O conceito de Estado colonizador foi desaparecendo através da pressão internacional e de pressões internas, motivadas por ideais políticos divergentes dos até então em vigor, como os movimentos de base islâmica.

Esse foi inclusive o grande impulsionador das revoluções árabes e consequentemente da ideologia dos fundamentalistas, nestes casos islâmicos: combater o ocidente capitalista, que colonizou durante largos períodos os seus povos, impedindo-os de viver em prol do seu deus.

Diante destes acontecimentos, outro motivo surge para causar ainda uma maior instabilidade regional no Médio Oriente, não só política, mas principalmente religiosa. A fundação do Estado de Israel, em 1948, provocou uma das maiores discussões e divisões de opinião não só em terras do oriente mediterrânico, como também em toda a comunidade internacional: a questão palestina e as suas problemáticas.

A criação do Estado de Israel foi perspectivado ainda no século XIX, quando Theodor Herzl iniciou aquilo que seria o movimento sionista — movimento que defende a existência de um estado judaico no antigo território do Reino de Israel, o mesmo onde se localizava o Mandato Britânico da Palestina — e influenciou de forma exponencial a migração de judeus para o território, migração conhecida também por aliá. Entre esse fluxo migratório, Ben-Gurion era um desses judeus à busca da terra sagrada. Mais tarde, se tornou o primeiro a encabeçar o cargo de primeiro-ministro de Israel, despontando toda a problemática com o povo palestino.

A questão palestina tem como base a reivindicação do território de forma a fundar um estado destinado ao povo palestino, que reside nestes territórios há séculos. Apesar de várias promessas, os palestinos acabaram por ver um outro povo a fundar o seu estado, com o apoio internacional, sendo que os palestinos ficaram para segundo plano, apenas alimentados por promessas.

Esta situação provocou ainda mais o ambiente hostil entre o estado hebreu e os seus vizinhos, que declararam os judeus como seus inimigos. Mesmo antes da criação do Estado de Israel, os judeus já presentes desde o século XIX nas terras de Abraão, sabiam que a sua sobrevivência nesta região geográfica necessitaria de grande resistência e determinação. Deste modo, ainda sob o Mandato Britânico da Palestina, os judeus criaram uma organização paramilitar chamada Haganah, que traduzido do hebraico significa Defesa. Esta organização atuou oficialmente e clandestinamente por mais de duas décadas, e foi imprescindível para a preparação do que viriam a ser as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), do Mossad e do Shin Bet (a Shabak).

Haganah, antiga organização paramilitar judaica sionista. Reprodução da Internet

Do lado palestino, surgiram diferentes organizações políticas e “militares” na defesa dos ideais e da questão palestina, sendo as que mais se destacam o Hamas e o Fatah. O Hamas é o partido/organização mais violento, que não reconhece a existência de Israel e que atualmente controla a Faixa de Gaza, já o Fatah é um partido/organização moderada que atualmente preside a Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia.

Hoje, o Estado de Israel completou 73 anos, e ao longo da sua recente história reinventou-se de modo a que, atualmente seja considerado uma das maiores potências militarizadas do mundo. Paralelamente, a luta palestina tem vindo a acompanhar o desenvolvimento do seu “inimigo”, sem dar tréguas, mas também sem grandes resultados.

Com o passar dos anos parte da sociedade jovem israelense tornou-se laica, pelo que as disputas religiosas deveriam deixar de fazer sentido. Mas para o executivo israelense tudo o que foi feito não é suficiente.

Os assentamentos em território palestino na Cisjordânia comprovam isso mesmo — a tentativa e, de certa forma o êxito, na diminuição daquele que nem é um Estado devidamente reconhecido, a Palestina. É necessário recordar que aquando da fundação do Estado Israelense, e como consequência da guerra árabe-israelense — conhecida também por al-Nakba, em português catástrofe — centenas de milhares de árabes palestinos foram expulsos ou fugiram para regiões que não fossem controladas pelos judeus.

Benjamin Netanyahu ao propor a anexação dos assentamentos israelenses em território palestino. Foto de Amir Cohen/Reuters

Passados 73 anos, a luta continua — literalmente. Atualmente, após duas Intifadas — termo árabe para levante palestino contra Israel, ou também conhecidas como as guerras das pedras — em 1987 e 2000, provocaram o alerta em Israel, mas muitos mais danos na Palestina — principalmente em Gaza, que atualmente é o atual campo de batalha, com inúmeros edifícios destruídos por parte de Israel — , os dois lados encontram-se mais uma vez em confrontos.

Israel, mais uma vez na ótica de expansão e aniquilação dos territórios palestinos, em pleno período do Ramadã, decretou o despejo de várias famílias palestinas no tradicional bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental. Posteriormente, as manifestações por parte dos palestinos fizeram-se sentir, e a invasão das forças policiais e militares israelenses à Mesquita Al-Aqsa, o terceiro território mais sagrado para o Islã, teve como consequência a escalada da violência.

Na sexta-feira (7), policiais israelenses invadiram a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado para o islã, causando distúrbio e protestos entre a população árabe e muçulmana na Cidade Antiga de Jerusalém. Foto de Ahmad Gharabli/AFP

Uma chuva de mísseis nos céus de Tel Aviv, por parte do Hamas — partido/organização extremista palestino em Gaza — aterrorizou a população e as mortes não se fizeram poupar. A retaliação israelense foi imediata, causando até então mais de 100 mortes do lado palestino, e 7 do lado de Israel.

É de ressaltar que os conflitos armados, e os ataques orquestrados pelas duas partes ao longo da história recente da região, não definem as condutas nem mesmo os pensamentos e opiniões da maioria dos locais. Os atos cometidos pelas forças de Israel não definem toda a sua população, como também o Hamas tampouco define as vontades e desejos de todos os palestinos.

Hoje Israel celebra a luta contínua por uma sobrevivência assente em sofrimento alheio.

Sistema antimísseis israelense Iron Dome intersecta rockets lançados pelo Hamas. Foto de Amir Cohen/REUTERS

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