A África Subsaariana já é o novo centro do terror

Pesquisa da Global Terrorism Database (GTD) indica que o número de mortes decorrentes de terrorismo nos últimos três levantamentos foi superior na região da África Subsaariana em comparação à região do Oriente Médio e África do Norte.

Fran Geyer
Diplonite
4 min readApr 4, 2024

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Escrito junto de Pedro Stahnke

Soldados de Burkina Faso treinam para o contraterrorismo / Uso sob a licença Creative Commons (CC BY 2.0)

Sete dos dez países com maior incidência de mortes consequentes de ataques terroristas no ano de 2020 pertencem à parte subsaariana do continente africano. São eles Nigéria (2.102 mortes), República Democrática do Congo (1.356), Etiópia (1.330), Somália (885), Moçambique (709), Burkina Faso (681) e Mali (566).

Ainda que a África subsaariana tenha predomínio no levantamento, 44% das mortes ocorreram somente no Afeganistão no mesmo ano, somando 10.081 óbitos. Nesse país, a cada 100 mil habitantes, 25,8 foram vítimas do terrorismo. Isso corresponde a uma parcela de 3,6% de todos os afegãos mortos no ano de 2020.

Confira o gráfico com as informações completas a seguir:

Os dez países com mais mortes consequentes do terrorismo em 2020. Fonte: Reprodução

O maior crescimento relativo global do terrorismo se deu entre os anos de 2011 e 2014. A variação foi de 255%, com um salto de 1.525 para 5.414 vítimas anuais em apenas três anos. Esse aumento aconteceu juntamente com a fundação do autoproclamado Estado Islâmico nas regiões do Iraque e da Síria, o que provocou intensos conflitos de envolvimento internacional no Oriente Médio.

Em comparação com 2014, o ano com o maior número de mortes por terrorismo registradas pela GTD, 44.648 no total, o número total diminui em aproximadamente 50%, com 22.847 registros em 2020. O Iraque, país com mais ocorrências no ano de 2014, totalizando 14.095 mortes, maior número anual registrado na história, teve um decréscimo de 96%, com um total de 525 casos em 2020.

No entanto, em alguns países essa porcentagem seguiu ordem contrária. A Etiópia, nação africana que enfrentou violentos conflitos separatistas na região do Tigré nos últimos anos, registrou o maior crescimento relativo global do terrorismo entre 2014 e 2020, de aproximadamente 14.600%. Em seguida vem o Tajiquistão, com 4.800% e Burkina Faso, com 4.100%. O Chade, com 3.900% e o Níger, com 3.200%, aparecem em 4º e 5º lugar, respectivamente. Essas duas nações fronteiriças estão localizadas em uma região de atuação do Boko Haram, o grupo fundamentalista extremista nigeriano ligado ao Estado Islâmico.

Em dezembro de 2017, o Estado Islâmico já havia perdido 95% do território capturado nos anos anteriores nas regiões do Iraque, Síria e Curdistão. O plano de construir um califado islâmico que se alastraria da península Ibérica até as montanhas do Himalaia foi abandonado. Isso sinalizou uma necessidade de mudança na estratégia do grupo, que passou a focar suas operações na região da África subsaariana.

O grupo originário da Nigéria, Boko Haram, já havia se aliado aos esforços do ISIS no ano de 2015, mas com a tomada da capital informal do Estado Islâmico de Raqqa, Síria, os aliados africanos se tornaram essenciais para a sobrevivência do ISIS.

Além da participação no conflito contra autoridades nigerinas, nigerianas e chadianas na região, o Estado Islâmico esteve envolvido diretamente na insurreição no norte de Moçambique, em junho de 2019. Esse conflito deslocou cerca de 700 mil pessoas de suas casas e fez 333 vitimas em razão do terrorismo, representando um aumento de 141% nas fatalidades desse tipo na nação, em comparação ao ano de 2018.

2018 foi o primeiro ano em que o número de mortos consequente de atentados terroristas foi maior na África Subsaariana do que no Oriente Médio e Norte da África, como pode ser visto no gráfico abaixo:

Comparação entre o número de mortes por terrorismo nas duas regiões entre 2014 e 2020. Fonte: Reprodução

É importante ressaltar que o Afeganistão, apesar de ser tipicamente associado à região do Oriente Médio em razão de sua localização geográfica, é localizado na Ásia Central e, portanto, não contribui com os dados expostos acima.

Entre os anos de 2018 e 2019 é possível identificar uma maior estabilidade na variação relativa de vítimas, mas o número voltou a crescer no ano de 2020. Esses dados, além de estarem desatualizados em três anos, não representam necessariamente uma projeção do terrorismo em 2023, principalmente em função da desorganização de grupos terroristas africanos como consequência da morte do então líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, em maio de 2021.

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Fran Geyer
Diplonite

Brazilian journalist living in Sweden. My work tends to be about Global Politics, Culture, Sociology or LGBTQ+ rights