Brasil-Argentina: uma parceria esquecida

Governo Bolsonaro se reúne com o vizinho dois anos depois da sua posse.

Diplonite
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2 min readMar 2, 2024

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Por Danilo Sorato (originalmente publicado em 17 de dezembro de 2020)

“Estamos nos reunindo para deixar as diferenças no passado”, essas foram as palavras do presidente argentino, Alberto Fernández, no encontro com seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro. No dia da amizade Argentino-Brasileira, 01 de dezembro, os dois principais países da América do Sul reuniram-se para avançar nos temas da agenda bilateral.

As palavras de Fernández mostram que o relacionamento entre os dois países não está bom. De um lado, Jair Bolsonaro, político de direita, conservador, antiglobalista e alinhado aos EUA; do outro, Alberto Fernández, político de esquerda, progressista, defensor do multilateralismo e de autonomia perante os americanos.

Com essas credenciais opostas, o diálogo político tornou-se algo inexistente atualmente. Os argentinos são, desde os anos 1980, os principais parceiros do Brasil na região sul-americana. A estreita relação comercial estendeu-se para o relacionamento político, cuja cordialidade foi marca registrada nos últimos 30 anos.

Porém, desde 2019, o governo brasileiro vem dando sinais de que não pretende priorizar o vizinho. Por exemplo, foi uma novidade que o presidente argentino não estivesse na posse presidencial brasileira. Ademais, as visitas entre os dois países foram meras formalidades programadas, visto que suas posições no subcontinente são diferentes, especialmente nos rumos do Mercosul e na questão venezuelana.

Enquanto o Brasil defende um Mercosul mais econômico e voltado para negociações comerciais, a Argentina argumenta pela ampliação do espaço político e da institucionalização do bloco. Já em relação à Venezuela, o Brasil apoia a saída de Nicolás Maduro e a tomada de poder por Juan Guaidó, ao passo que os argentinos preferem uma postura conciliadora entre situação e oposição venezuelanas.

Apesar dessas visões políticas diferentes, os dois países precisam resgatar uma relação cordial e propositiva. Não basta apenas se engajar em encontros formais, é necessário avançar em projetos conjuntos para dirimir as assimetrias entre as duas maiores economias da América do Sul. E atuar em frentes multilaterais que protejam seus interesses frente às potências mundiais, sobretudo os Estados Unidos e a China.

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