O Envolvimento do primeiro presidente do Brasil em um esquema de corrupção

Deodoro da Fonseca quase causou uma guerra civil após ameaças de impeachment ao favorecer seu amigo pessoal em Torres, RS.

Diplonite
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3 min readMar 1, 2024

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Por Gabriel Benites (originalmente publicado em 15/11/2020)

Wikimedia Commons

“O povo brasileiro assistiu bestializado à Proclamação da República”,

disse Aristides Lobo. Mas que outra opção o povo teria? A antiga elite, que construiu um império sobre o sangue e suor africano, agora dava lugar a uma elite empresarial amparada por militares.

Proclamação da República’, de Benedito Calixto

Essa dança das cadeiras entre elites políticas passou por um governo provisório e, em 1891, pelo primeiro governo constitucional. Eleito, Deodoro tornava-se presidente. Personalista e autoritário, o marechal guiou seu governo para o próprio fim. Afinal, enquanto a dança acontecia, uma das sementes da queda era semeada: a concessão do Porto das Torres (RS) e a ligação deste a uma ferrovia até Porto Alegre. A obra? Um favorecimento ao engenheiro Trajano Viriato de Medeiros, amigo íntimo do então presidente.

Não tardou para que os ministros do governo, como Rui Barbosa, considerassem os custos da obra onerosos, com juros descabidos, e mais favoráveis aos concessionários que ao povo brasileiro. No dia 20 de janeiro, em uma sala do congresso, a história alçou novos voos: os ministros articularam um pedido de demissão coletivo. Em resposta, Deodoro manteve-se irredutível, aceitando a demissão. Membros do antigo regime monárquico comandados por Barão de Lucena, outro amigo do presidente, tornaram-se os novos ministros da República. Com um ministério favorável à obra, o presidente decretava a concessão de garantia de elevados juros anuais a um projeto que, caso feito hoje, seria bilionário.

Henrique Pereira de Lucena, O Barão de Lucena. Foto de Domínio Público

Porém, as pressões sobre Deodoro tornaram-se mais onerosas que sua ambição. O parlamento, constituído por grupos antagônicos — como o setor cafeeiro e parte dos militares — , votou pela Lei das Responsabilidades a fim de reduzir os poderes de Deodoro. Assim, fazia-se possível o impedimento do presidente que, em reação, não só vetou a lei, como deu um golpe de Estado, fechando o Congresso. Com apoio de parte do Exército e da maioria dos Estados da União, Deodoro quase iniciou uma ditadura. Mas os mares, mais uma vez, faziam-se desfavoráveis ao presidente. Custódio de Melo sublevou a Marinha, ameaçando bombardear a capital da República, o Rio de Janeiro. Assim entrava para a História o episódio que ficaria conhecido como a Primeira Revolta da Armada.

Implodido o governo, Deodoro renunciava, findando um governo de quases, de violações constitucionais e de denúncias de corrupção que voltariam ao Brasil mais cedo do que se pensava.

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