O Universo dos Criptoativos

Diplonite
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Por Henrique Berbigier e Isabella Jordão (originalmente publicado em 23 de julho de 2022)

Os criptoativos tornaram-se uma realidade em 2008, ano em que o Bitcoin foi criado, e ganharam visibilidade em meados da década de 2010. Hoje, existem mais de dezenove mil criptoativos e este mercado já comporta mais de um trilhão de dólares, apresentando-se como um mercado majoritariamente descentralizado, dinâmico e com alcance mundial graças ao seu foco em soluções tecnológicas. Neste texto, apresentaremos o universo dos criptoativos a partir de suas origens e conceitos cujos são indispensáveis para a compreensão deste mercado. De maneira introdutória, falaremos sobre a tecnologia blockchain cuja revolucionou o processo de compartilhamento de informações além do mundo das finanças; serão definidos também termos muito importantes para a economia digital, como o que são criptomoedas, moedas digitais governamentais (Central Bank Digital Currencies), tokens, stablecoins, NFTs e protocolos de mineração e participação, além de outras características inerentes ao universo das finanças descentralizadas que veio a tona a partir da criação e crescimento dos criptoativos.

O que são criptoativos

Os criptoativos são ativos digitais, virtuais, protegidos por criptografia. As operações são executadas e armazenadas em uma grande rede de computadores, conhecida como blockchain, na qual não há instituições intermediárias. Dentro do universo dos criptoativos, temos criptomoedas, stablecoins, NFTs, entre outros.

Blockchain

O blockchain é um sistema que permite o envio e o recebimento de dados pela internet. Nele, são registradas todas as transações de um determinado ativo, que pode ser tanto tangível (carro, casa ou terreno) quanto intangível (direitos autorais, marcas ou patentes). O conceito pode ser traduzido como “corrente de blocos” ou “uma sequência de cadeia de blocos”, pois os dados estão conectados entre si.

Criptomoedas

As criptomoedas surgiram no contexto da crise financeira de 2008, com destaque para o Bitcoin (BTC), criado por Satoshi Nakamoto em 2008. Um dos argumentos centrais que levaram à sua criação foi a necessidade de minimizar a intermediação em operações financeiras. Ou seja, a movimentação de dinheiro com criptomoedas, como pagamentos e transferências, ocorre de forma descentralizada por via eletrônica. Entre as criptomoedas mais conhecidas, estão: BTC, Ethereum, Cardano.

Moedas digitais/CBDCs

Os CBDCs (do termo em inglês “Central Bank Digital Currency”), conhecidos como moedas digitais emitidas pelos bancos centrais no formato digital, ganharam a atenção no mundo todo. Uma parte significativa dos bancos centrais estão estudando, explorando e testando projetos, aspectos operacionais e tecnológicos de um sistema de CBDC, dado seu potencial de melhorar a eficiência do mercado de pagamentos de varejo, de promoção da competição e de inclusão financeira para aqueles que ainda não têm acesso aos serviços bancários.

Evolução do CBDC em diversos países:

  • Atualmente existem apenas duas CBDCs oficialmente lançadas e operacionais, segundo o site CBDC Tracker, sendo elas o Sand Dollar das Bahamas, lançado em 2017, e o e-Naira nigeriano, lançado em 2021. Em seguida, existem até o momento cerca de 15 países diferentes com projetos pilotos para suas CBDCs, 15 países no estágio de validação do modelo (proof of concept) determinado para seus respectivos projetos e mais de 50 países nos estágios iniciais de pesquisa.
  • O yuan digital, emitido pelo governo chinês, está sendo testado desde 2020. Com a iniciativa, a China também poderá monitorar e controlar as movimentações na moeda, bem como se posicionar no sistema financeiro internacional sob a hegemonia do dólar.
  • Em março de 2022, o governo estadunidense anunciou o projeto para a criação do dólar digital. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, assinou uma ordem executiva com o objetivo de avaliar os riscos e benefícios da criação de um dólar digital pelo Banco Central.
  • Em julho de 2021, o projeto de euro digital foi lançado e sugere uma alternativa às criptomoedas. Segundo o Banco Central Europeu, o projeto foi lançado a fim de acompanhar o boom dos pagamentos virtuais impulsionados na pandemia.
  • Em abril de 2022, o Banco Central do Brasil (Bacen) anunciou a data para chegada de versão piloto do Real Digital, que deve servir de base para os stablecoins. Roberto Campos Neto, presidente do Bacen, afirmou que as criptomoedas ainda são mais usadas como investimento do que como meios de pagamento no país.

Stablecoins

Stablecoins são conhecidas como moedas seguras, e levam este nome pois sua segurança advém de sua paridade com ativos de reserva, como o dólar ou até mesmo o ouro, o que permite que elas cumpram a função de meio de pagamento. Apesar de serem atreladas às moedas soberanas, stablecoins não são CBDCs pois não são emitidas pelos bancos centrais de seus países. Não obstante, stablecoins ainda detém certo grau de centralização através das empresas que as emitem.

Para exercerem suas funções as stablecoins precisam estar vinculadas a uma ou mais blockchains. São exemplos de stablecoins pareadas com o dólar: Tether (USDT), USD coin (USDC) e DAI. Exemplos de stablecoins pareadas com o ouro: Pax Gold (PAXG) e Tether Gold (XAUT).

Tokens

Tokens são representações digitais de um ativo atreladas à blockchain, e existem vários tipos de tokens exercendo funções diferentes. Estas funções vão desde servir como meio de pagamento em uma blockchain — como o próprio Bitcoin e o Ether(ETH), o token da rede Ethereum — até fornecerem poder de voto para seus detentores em relação à governança de determinados projetos baseados em blockchain.

Conforme supracitado, existem várias formas de tokens, os dois exemplos anteriores são respectivamente tokens de pagamento e tokens de governança, mas existem também tokens de utilidade, como os “fan tokens” relacionados a times de futebol, além de vários outros tipos de tokens, sendo um dos mais famosos os NFTs.

NFTs

A sigla NFT representa as palavras “Non-Fungible Token” em inglês, cuja tradução significa “Token Não-Fungível”. Fungibilidade é característica de um ativo que pode ser substituído por outro idêntico à ele. Por conseguinte, NFTs são majoritariamente únicos — pois o desenvolvedor/artista pode optar por criar uma ou mais cópias limitadas deste ativo durante o processo de cunhagem (minting) — e é por causa de sua raridade que eles são negociados em valores altos.

Este tipo de criptoativo recebeu destaque na indústria da arte digital, fazendo paralelo com as obras de arte físicas cujas também são infungíveis. Não obstante, a crescente indústria de jogos desenvolvidos em blockchain também é um nicho onde os NFTs encontraram utilidade. Embora NFTs sejam reconhecidos pelas artes, é mais correto afirmar que, ao adquirir um NFT, o comprador está na realidade adquirindo uma espécie de registro eletrônico inalterável (vinculado à blockchain) que corrobora que este mesmo comprador é o dono do NFT adquirido.

DeFi

DeFi é o acrônimo utilizado para classificar o campo das finanças descentralizadas (decentralized finance), que buscam cumprir as funções comumente encontradas no mercado financeiro tradicional. Dentre as atividades disponíveis através de protocolos DeFi, podemos citar o oferecimento de empréstimos, cobrança ou recebimento de juros, por exemplo. Outra característica interessante em DeFi é a existência de DEXs, que são corretoras descentralizadas (decentralized exchanges) necessárias para negociar criptomoedas menos conhecidas que não estão disponíveis em grandes corretoras centralizadas.

Smart Contracts

Smart contracts (contratos inteligentes) são contratos programáveis e autoexecutáveis localizados em blockchain. Estes contratos permitem que todas as partes de um acordo possam garantir o cumprimento dos termos estabelecidos em contrato sem necessitar da intermediação de terceiros.

DAOs

DAO é o acrônimo utilizado para descrever organizações autônomas descentralizadas (decentralized autonomous organizations). Estas organizações são formadas a partir de regras codificadas em blockchain através de smart contracts que estabelecem como a DAO funcionará, semelhante ao estatuto de uma empresa ou sociedade.

Proof of Work e Proof of Stake

Proof of Work (prova de trabalho) e Proof of Stake (prova de participação) são os mecanismos de consenso baseados em algoritmos que validam as informações de suas blockchains. O Proof of Work é o mais antigo, já que foi criado na década de 1990 como um meio de combater o spam em e-mails. Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, visualizou nesse mecanismo a capacidade de validar as transações realizadas em blockchain.

No protocolo Proof of Work, mineradores utilizam seus computadores para validarem as informações localizadas no bloco mais recente da blockchain, obtendo recompensas em Bitcoin quando conseguem validar totalmente um bloco. A prova de trabalho que dá nome a este tipo de protocolo é exatamente a validação do bloco através do emprego do poder computacional disponibilizado pelos mineradores.

Em contrapartida, o protocolo Proof of Stake ou prova de participação é baseado em nodes (nós) oriundos de validadores que alocam determinada quantidade de tokens na blockchain para terem o direito de validarem as transações da rede e receberem recompensas baseadas na quantidade de tokens previamente alocados. Neste protocolo, a quantidade de tokens alocados é um dos principais fatores para determinar quem detém o direito de validar os blocos da rede. Não obstante, o tempo de alocação também é um fator importante, e costuma ser zerado uma vez que o participante escolhido realiza a validação do bloco. Existe também certo grau de aleatoriedade somado a este processo para que mais participantes possam ter a oportunidade de validarem os blocos e receberem recompensas.

Conclusão

Podemos notar a partir dos tópicos supracitados que o universo dos criptoativos apresenta uma ampla gama de conceitos, muitos dos quais só passaram a existir devido ao surgimento dessa indústria, como smartcontracts e DAOs por exemplo. Criptoativos são parte de uma tendência ainda bastante nova mas muito promissora cuja é a economia digital, portanto é normal que pessoas recém introduzidas a este campo de estudos tenham dificuldades para se familiarizar com tantos termos novos e pontuais. Por conseguinte, este texto buscou elucidar o significado por trás das principais expressões utilizadas com bastante frequência por pessoas e instituições que estão inseridas na criptoeconomia.

É importante notar que muitas questões inerentes ao universo dos criptoativos não se limitam apenas ao mundo das finanças digitais, mas são também foco de corporações e governos que buscam adotar novos avanços tecnológicos oriundos deste campo para assuntos empresariais e governamentais. Países como El Salvador e a República Centro-Africana foram os primeiros países de todo o planeta a adotarem o Bitcoin como moeda legal em seu território, em contrapartida, países como China, Brasil, EUA e o bloco da União Europeia buscam desenvolver moedas soberanas digitais próprias e têm opiniões diferentes quanto ao papel dos criptoativos na sociedade. O mercado de criptoativos, por sua vez, busca adequar-se à conjuntura econômica atual, a qual está bastante conturbada devido à guerra na Ucrânia e a luta contra a inflação alta em vários países. O período de incerteza que vivemos tem reflexo nos preços dos ativos aqui abordados, visto que os dois maiores criptoativos, BTC e ETH, já se desvalorizaram mais de 50% desde sua última máxima histórica e a capitalização do mercado geral de criptoativos está atualmente em U$ 1,3 trilhão em comparação a U$ 3 trilhões em 2021. De qualquer forma, o universo de criptoativos continua a se expandir e hoje existem quase 20 mil criptomoedas diferentes em circulação, portanto os tópicos aqui trazidos continuarão a serem úteis no futuro próximo, e possivelmente serão bastante importantes no médio e longo prazo conforme nossas economias se tornam cada vez mais digitalizadas.

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