– Central de Suporte a Escritores, boa tarde.
– Boa tarde.
– Como posso ajudá-lo?
– É o seguinte, comecei a fazer oficina literária e o texto de todo mundo parece muito bom e o meu parece muito ruim.
– Isto é muito comum, senhor. Já experimentou ler algumas poesias de autoajuda no instagram para melhorar sua autoestima?
– Sim, mas não funcionou. Cada post tinha 10 mil likes enquanto os meus tem dois likes… e um deles é a minha mãe.
– Você parece estar precisando de um elogio, senhor. Gostaria?
– Por favor. Estou te enviando o texto pelo escreva conosco.
– Recebido.
– ….
– ….
– Vou te passar para outro atendente, por favor aguarde na linha.
– Central de Suporte a Escritores, como posso ajudá-lo?
– Comecei a escrever um texto e mas depois percebi que a trama está cheia de buracos.
– Já experimentou preencher os buracos com estilo? Vírgulas? Neologismos? Prosa arcaica?
– Tentei, mas o estilo não está segurando, está passando ar ainda pelos buracos. À noite dá para ouvir o vento uivando através deles.
– Lamento senhor, mas você vai ter que reiniciar.
– Central de Suporte a Escritores, como posso ajudá-la?
– Escrevi um parágrafo hoje! Escrevi um parágrafo!
– A senhora gostaria de ajuda para produzir mais, é isso?
– Não, não, nada disso. Geralmente eu escrevo duas linhas só. Hoje eu escrevi um parágrafo!!
– E como posso ajudá-la?
– Precisa não. Eu só queria contar pra alguém!
– Central de Suporte a Escritores, como posso ajudá-la?
– Não aguento mais! Vou parar de escrever!
– Não faça isso, senhora! Pense nos seus textos inacabados… o que será deles?
– Vão ficar onde estão… na gaveta.
– Pense nos seus leitores! Escrever vale a pena!
– Não pra mim.
– Mas aquele texto da mulher e do aquário é tão bom…
– …você leu?
– Li.
– Ah, é? Então quem casa com a peixa Wanda no final?
– Xerxes, claro.
– E como Walter escapa da bala?
– Com um livro de colorir extra grosso que ele levava na altura do peito.
– Olha só… Então você vai gostar do que estou escrevendo agora. Deixa só eu terminar, que eu te mando…
– Central de Suporte a Escritores, bom dia.
– Era um dia incomum. Adilson não conseguia parar de falar como se narrasse sua própria vida.
– Esse é um trecho de seu livro, senhor?
– Assustado, Adilson ligou para a Central de suporte de escritores, mas para seu desespero o atendente parecia não entender o que se passava. Teve vontade de ofendê-lo copiosamente.
– O que é isso meu senhor, estou aqui trabalhando.
– … Estou aqui trabalhando, o atendente protestou. O coração de Adilson se agitava no peito e mesmo se sentindo culpado, se exaltou contra o rapaz. Me ajude, seu inútil! Bradou.
– Infelizmente, isso não é da minha alçada. Vou encaminhá-lo à Central de Suporte Psicológico, eles contam com especialistas que poderão resolver facilmente o seu caso.
– Adilson se sentia grato e ansioso. Ele agradeceu ao atendente com otimismo em seu futuro. Obrigado, disse ele, transbordando emoção.
– De nada. Tenha um bom dia…[click] Cléber encaminhou Adilson para a linha da espera eterna, onde ninguém jamais atenderia sua chamada, onde ele ficaria preso para sempre em um limbo, apenas ele e a musiquinha do gás… Então, Cléber deu uma risadinha e atendeu a próxima ligação. Mas antes, parou de falar daquele jeito ridículo.