Precisamos falar sobre o dinossauro no ateliê

Alex Xavier
Discórdia
Published in
3 min readSep 6, 2022

A obra orgânica e coletiva nascida de um experimento que uniu arte e literatura

No último fim de semana (3 e 4 de setembro), o coletivo Discórdia participou do Portas Abertas SP 2022, um roteiro de ateliês abertos à visitação em São Paulo, que vai até início de outubro. A convite do artista plástico Felipe Góes, levamos nossos zines, livros e publicações diversas para seu espaço de criação, na Santa Cecília. E realizamos algumas intervenções literárias no meio da exposição de quadros dele e de Luiza Gottschalk e Rogério Barbosa.

Entre nossas ações, estava um experimento bem simples: apenas deixamos uma máquina de escrever (uma Olivetti Lettera 82) sobre uma mesa, como uma provocação, para as pessoas se inspirarem a continuar, como quisessem, a história que outro havia começado. Apenas escrevemos a primeira linha, copiada do célebre microconto do hondurenho Augusto Monterroso, "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá".

"Quando foi dormir, aquilo já estava lá".

Nos dois dias de evento, a movimentação em torno daquela antiquada ferramenta de escribas fez dela uma instalação artística interativa. O objeto causou surpresa para a maioria, mas também trouxe nostalgia aos mais velhos e muita curiosidade às novas gerações. Houve quem só se atreveu a testar as teclas, quase como um ato libidinoso. Houve quem libertou todos os seus demônios sobre o papel, apoderando-se da cadeira por bastante tempo. E uns até sofreram um blecaute diante da folha em branco. Alguns preferiram desenhar, outros desenharam com as letras, cada um deu ao texto a formatação que bem entendesse. O resultado, essa obra orgânica e coletiva — ao mesmo tempo, desprovida de autoria e impossível de se expor em sua totalidade — foi algo, às vezes, poético, quase musical, bastante imagético, sempre multissensorial.

Deixamos abaixo as fotos das páginas, na ordem aleatória que chegou a nós. Para compreender a obra em si, porém, é necessário fazer parte dela.

Agradecemos a todos que colaboraram.

--

--

Alex Xavier
Discórdia

Jornalista e escritor. Mas queria ser escritor e jornalista. Autor dos livros O teatro da rotina e Não vai dar tempo (ambos da editora Patuá)