Sentar-se na areia e olhar

Será que as pessoas de química cerebral regulada têm a mesma vontade frequente que tenho de largar tudo em um segundo para ir olhar o mar?

Será que as pessoas de química cerebral regulada também tomam um gole de café em duas horas pensando sobre a existência e analisando o peso das dúvidas?

Será que as pessoas de química cerebral regulada também se sentem chicoteadas pela vida ao acordar em algumas estranhas manhãs?

Será que as pessoas de química cerebral regulada também tateiam pistas de quem são, espalhadas na trajetória deprimida de um tempo?

Será que as pessoas de química cerebral regulada têm essa impressão de que cada dia é um tente outra vez e de que cada pensamento precisa ser domado com força?

Será que as pessoas de química cerebral regulada também se perguntam quem seriam hoje se nunca tivessem afundado?

Será que as pessoas de química cerebral regulada também têm orgulho por estar de pé mesmo depois de tudo e de ainda sentir um desejo escandaloso de vida urgente?

Será que as pessoas de química cerebral regulada entendem a exaustão que é obrigar corpo e sentido a não cederem à gravidade do turbilhão?

Será que as pessoas de química cerebral regulada conhecem a dor do passado presente e a potente delícia de construir pedaço por pedaço a armadura que aguentará todo e qualquer devir?