VESUVIUS

Luciano Andre
Discórdia

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Ele está lá, cônico, gigante, montanhoso e imponente. Um Cú… fálico! Isso, imagine um pinto enorme que na verdade é um cú (ou vice e versa), fruto exuberante do corpo de algum Titã derrotado em batalha que caiu lá, lá longe, e lá ficou, deitado de bruços, com aquele enorme Cú-pênis projetado e pronto pra vomitar as entranhas dos intestinos da Terra na cabeça da humanidade.

O Vulcão. É ele! o Vulcão. A coisa mais parada da face da terra e, assim mesmo, a coisa menos inerte que você vai ter notícia. Talvez o Mar, mas o Mar é muito contemplativo, muito belo… o Mar mata você com um abraço. O Vulcão te mata enterrado literalmente na merda da criação divina.

Essa estrutura geológica, que consiste numa fissura da crosta terrestre sob a qual se acumula um gigantesco Cone formado por gases, cinza vulcânica e Magma (palavra grega que significa “pasta”, ou seja, é um tipo de porra, vá?), substância composta de rocha, metais voláteis e, principalmente, Enxofre, muito Enxofre, existe pelo único motivo de mostrar à raça humana que tudo debaixo do sol tem dois lados e dois porquês, nem sempre alinhados com planetas, destino ou carmas, sejam eles quais forem.

E agora vem a parte interessante: existem muitas descrições diferentes de como se dá a erupção, mas não encontrei nenhuma que afirme, metaforicamente ao menos, que o Vulcão vomita ou mesmo “goza”. Então vejamos: basicamente, a “chaminé vulcânica” (a abertura localizada no pico do Cone vulcânico) no momento do êxtase total, expele Enxofre concentrado com gases de alto teor tóxico, causando uma violenta explosão do Magma, que se derrama todo, melado, quente e destruidor pelas bordas do Vulcão.

Convenhamos, um puta de um orgasmo destruidor. Igual ao da traição.

Ninguém pode com a força desse poderoso deleite que, ao contrário da natureza humana falha, caricata e incompleta que anseia pela reprodução infinita do seu próprio erro, carrega consigo prazeres muito mais interessantes.

Nesse caso, a Morte!

Sem cigarro, sem telefone trocado, sem arrependimento disfarçado. É a morte que eu vejo, agora, diante de mim.

Marisa, me vê assim também, da porta do quarto, com a arma na mão. Queimado, humilhado, condenado ao fogo eterno. Ela impassível, sorriso sarcástico no canto da boca. Bem vestida, maquiagem leve que esconde milagrosamente as rugas sem disfarçar, no entanto, o peso dos anos que ditam os contornos mais marcantes do seu semblante. Olhos escuros e fundos, crispados pela chama de um ódio cozido lentamente na solidão de incontáveis Martinis. O cabelo preto caindo pelos ombros, cobrindo os seios quase a mostra, deliciosamente vulgarizados pelo decote escandaloso da blusa aberta e usando (vejam só!) as botas de salto alto que, tantas vezes, eu lambi, ajoelhado como um cachorro obediente nas nossas mais loucas fantasias. Marisa sabe o quanto eu gosto dessas botas.

Eu.

Essa expressão de uma existência que já se foi e que, por um momento de lucidez invertida, esqueço em cima da cama, pelado, com corpo e alma nus, suado e excitado. A lança do guerreiro, no auge da batalha, vertendo o leite sagrado da vida. Um Vulcão de tesão que explodiu em luxúria incontrolável, inundando de volúpia a Pompéia toda de Ana Cláudia, aqui relegada a submissa coadjuvância da minha ridícula mise en scène pornô.

Já Marisa é o Vulcão anal do Hades que está prestes a jogar em cima de mim dois quilos de chumbo convulsionante, cuspidos sem piedade pela boca esporrenta de uma Magnum 500.

Uma Magnum 500 com um cano maior que o meu pau!

Ah, desgraçada! Detalhista como sempre, pensou em tudo. Por (e apenas por) reflexo, me pergunto se dessa vez ela vai mesmo fazer. Inútil. Pergunta inútil, súplica inútil. Foi só a minha vaidade, confesso, que trouxe você até aqui para contemplar, uma última vez, a força dessa natureza terrível.

O espetáculo vulcânico da traição e da vingança, masoquista e implacável, que entra em erupção pintando de vermelho as paredes imaculadamente brancas do nosso quarto. Jamais imaginaria tamanha volúpia em meu derradeiro sopro de consciência carnal.

No final das contas, era feita de ódio a última faísca de vida que me prendia a você. Não de amor.

O amor que se foda!

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Luciano Andre
Discórdia

Eu escrevo quando levo, da vida, um soco no estômago!