Sa-samurai-kun?

Alan de Sá
Disk Macumba
Published in
3 min readJan 10, 2022

— Samurai das Sete Montanhas, Disk Macumba, bom dia-san.

— … oi?

— Qual seu nome, senhor-san?

— Desculpa, acho que deu algum engano. Eu ligue pro Disk Macumba.

— Sim, aqui é do Disk Macumba-san. Eu sou Samurai das Sete Montanhas-nii.

— Ó, o senhor me desculpa se eu tiver errado, mas não tem samurai no santo, não.

— É que nossa empresa está passando por uma transformação, senhor-san. Fizemos uma pesquisa de opinião e entendemos que faltava incluir pessoas amarelas em Aruanda. Depois, criamos um comitê de diversidade para desenhar um programa de diversidade e inclusão, e fizemos um grande remodelamento da nossa estrutura de negócio-nii.

— Então agora samurai é do santo?

— Exatamente-kun.

— Pronto, tá resolvido. Era só o que eu precisava saber.

— Como assim-nii?

— É que outro dia eu fui num terreiro, numa gira de preto velho. Aí, do dana, um japonês. Virado no preto velho. E eu pensei: será?

— Você não pode pensar nessas coisas xenofóbicas-kun! Isso vai contra a nossa nova política interna.

— Tá, tá. Desculpa. Não vou mais fazer isso.

— Ótimo-san. Então o seu problema era só esse-nii?

— Eu posso só perguntar o porque o senhor fala…

— Não-san.

— Tá bom. Vamo falar do que interessa, né? Meu nome é Rodovaldo.

— “Rodo” como-san?

— Rodovaldo.

— É que são muitos nomes pra gravar-nii. Deixa eu só olhar pra sua ficha. É problema com a mãe, né?

— Isso aí. Nossa, seu Samuca…

— Samurai.

— Samurai. Como eu tava dizendo, eu não aguento mais a minha mãe. Eu tento ser o melhor filho do mundo, mas ela nunca me escuta, eu só queria dar um jeito de ficar rico logo e sair de casa.

— Vamo só fazer um questionário pra entender o seu problema-kun. O senhor tá com quantos anos?

— 35.

— Há quantos anos o senhor está sem trabalhar-san?

— Desde… sei lá. Eu varria a casa quando era pequeno, mas…

— Trabalhar de verdade, seu Rodo-san.

— Isso nunca, eu acho.

— Como o senhor paga seu plano Master Santo do seu Disk Macumba?

— Tá no cartão da minha mãe.

— O senhor nunca se perguntou se dá prejuízo financeiro pra sua mãe-kun?

— Claro que não, eu sempre…

— O senhor não se pergunta, seu Rodo-san, se toda vez que a amiga da sua mãe vai na casa dela, ela não ia querer que o senhor não estivesse lá pra atrapalhar, seu Rodo-san?

— Tu tá me dizendo que minha mãe é sapatona, seu japonês filho da puta?

— Você é muito ruim. Eu não gosto de gente ruim. Vou passar você pro Exu Pantera Negra-kun, ele quem dá jeito em quem não presta.

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Alan de Sá
Disk Macumba

Journalist, writer, copywriter and co-creator of sertãopunk.