Detona Ralph e a superação do preconceito

Michel Luca
Disneyria_
Published in
6 min readJul 15, 2020
Ralph e Vanellope se confortam.

Já se perguntou como, através das histórias contadas pela Disney, alguns valores nos tocam e se constroem de forma tão profunda? Encontramos em Detona Ralph a oportunidade de falar sobre preconceito e protagonismo.

Detona Ralph é um filme maravilhoso sob diversos aspectos. A história é pra lá de inovadora, não se trata de princesas a serem salvas, a animação é tratada nos detalhes tanto nas falas quanto nas expressões, para citar apenas alguns. Por isso, inclusive seguindo uma das propostas do blog — que é apresentar a filosofia Disney através da análise de histórias e personagens -, não podíamos deixar de falar de Detona Ralph no Disneyria!

Para este primeiro post sobre o filme, já que o mesmo abre espaço para muitos outros, escolhi dois aspectos, ou temas, que me pareceram os mais interessantes: o preconceito e o protagonismo. Este último, diferente do como é empregado no teatro e no cinema, uso para indicar a busca pessoal (a que todos nós estamos submetidos). A busca por um sentido, por um lugar e por uma identidade; como pontuado por Viktor Emil Fraknl (pensador que admiro e não por acaso o cito aqui), falo da busca cujo resultado nos entrega um sentido para a vida.

Sobre cada aspecto escolhido

Introduzindo os aspectos, por que preconceito? Porque tanto Ralph quanto Vanellope, os personagens principais, sofrem com este. Ralph pelo seu “ofício”, ele é um “temível destruidor”, e Vanellope por conta do seu glitch (falha ou defeito em português).

E por que protagonismo? Porque a certa altura da história os personagens são dotados com o difícil, mas principal, atributo humano, a capacidade de escolha!

O duro dilema encontra-se entre persistir, como parte do algoritmo (rotina), ou, ousar seguir por novos trechos (caminhos). Este é o passo primordial, através deste os personagens se humanizam (o que nos cativa), deixam de ser códigos, artefatos de um jogo, para se tornarem determinantes no rumo da própria história.

A superação do preconceito e a busca do protagonismo

Ralph tem uma missão, ele deve destruir, e com esta não só um existência mas um compromisso, afinal de contas esta missão lhe entrega um papel. No jogo da vida este papel foi dado, como que por acaso, sua história precede suas escolhas pessoais e ele nasce como um código pronto e “acabado”, ele é o vilão do jogo. Contraposto, temos Felix, o herói do jogo, o que Ralph destrói, Felix tem por ofício consertar.

Quando as luzes do fliperama se apagam, na calada da noite, os personagens seguem por caminhos bem diferentes. Enquanto Felix celebra, com os amigos, a vitória triunfante do herói, nosso querido Ralph enfrenta, sozinho claro, a amargura e a solidão da derrota.

Vanellope tem um ideal, ela quer vencer a corrida, ela quer o pódio e nada diferente a satisfará! Mas algo, que foge ao seu controle, a impede de ganhar, ela tem uma falha, um defeito que a faz “piscar”! E esses milésimos de segundos em que ela fica ausente, determinantes na corrida, são o suficiente para que ela perca.

Ralph e Vanellope, cada qual em seu jogo, tentam se enturmar, mas, assim mesmo como se dá o preconceito, suas características formam opiniões prévias nos outros personagens e isto é o suficiente para que sejam desprezados.

Aqui, a impressionante virada na história, essas dicotomias, herói versus vilão, vencedor versus perdedor e saudável versus defeituoso (poderíamos citar outras), a que os protagonistas são expostos, serão dissolvidas e superadas pela trama como aspirina que luta contra água. E se não é a herança pueril dessa forma acomodada de olhar o mundo, bipartido, que nos faz por vezes, sem o devido exame crítico, encaixar as características alheias em nossos próprios moldes.

Ralph abandona o jogo e parte em uma jornada cuja a intenção é provar seu valor, e assim, ser aceito pelos que o desprezam. Contudo, ao invés de provar seu valor, acaba descobrindo a certeza irrefutável, narrada pela própria história, de que os papéis, de vilão e herói, além de interdependentes não são os únicos que desempenhamos. Quando ele (e Felix também) descobre que além de vilão também pode ser herói, por vezes, e amigo, na sua relação com Vanellope, entre tantos outros papéis, seus objetivos se transformam.

Então a busca do Ralph deixa de ser por aceitação, passa a ser por sentido, este que será construído na sua relação com Vanellope. Enquanto Ralph se ausenta, Felix e os outros personagens, do jogo, são obrigados a se reinventar, já que sem ele não tem jogo. Felix, em especial, tenta achar Ralph e nesta procura também ganha a oportunidade de desempenhar outros papéis, o que acaba por desconstruir seu olhar preconceituoso.

E esta é uma das formas com que o filme irá tecer e propor a dissolução de um dos alicerces do preconceito, entrelaçando a história de Ralph, Vanellope e Felix em uma fragmentação de papéis, nos diz que absolutamente nada é fixo ou imutável.

Voltando a Vanellope, minha personagem predileta, ela é a personificação da frase de Walt Disney:

Se você pode sonhar, você pode fazer!

Walt Disney

É preciso, antes de prosseguir, lembrar que ela é chamada pelas outras competidoras de: The Glitch (O defeito). A substantivação da característica é outra faceta do preconceito, mas este lugar, de The Glitch, nunca foi aceito por Vanellope, e aqui encontra-se outra forma, proposta, de encarar o preconceito, a recusa em aceitar o lugar no qual tentam te colocar.

Sua resiliência e determinação são tamanhas — ela realmente sonha e acredita que pode realizar — que acabam por destruir, ironicamente (já que destruir é atributo dele a princípio), as suposições que Ralph carregava consigo acerca do mundo.

Como comentei, é na relação com Vanellope, na amizade entre os dois, que Ralph construirá um novo sentido para sua história. Acrescenta-se que é ela que verá nele uma oportunidade de superação, ou seja, um herói, a que quem inclusive também terá de provar sua capacidade. A trajetória de Vanellope lembra a história do patinho feio, e eu bem desconfio que Detona Ralph tenha bebido dessa fonte, assim como Stitch (declaradamente).

Ocorre que, ao persistir, Vanellope descobrirá que seu defeito, na verdade, trata-se de uma qualidade, praticamente uma vantagem e que foi feita para estar lá!

A esta altura, por fim, com esta narrativa fantástica (proposta pela história) protagonismo e preconceito também se entrelaçam, mais uma razão para minha escolha. Quanto ao primeiro, Vanellope nunca aceitou a impossibilidade de realizar seu sonho, este foi o sentido atribuído por ela a sua existência, quanto ao segundo, por nunca ter aceito este lugar, mesmo sendo vítima do preconceito, não caiu na inanição que ele provoca e assim pode investir em seu sonho com liberdade e determinação.

Vanellope segura de que irá vencer

Estes foram alguns dos tesouros que encontramos em Detona Ralph! Que possamos nos inspirar com esta história, que exista, em cada um de nós, um pouco de Ralph, quanto a capacidade de se reinventar, de Vanellope na resiliência e Felix na desconstrução de nossos preconceitos!

Viva a filosofia Disney!

Se você pode sonhar junto com alguém, você pode ajudá-lo a realizar este sonho!

Disneyria

Larissa e Michel do Disneyria — Viagem a Disney

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Michel Luca
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Desenvolvimento Pessoal, Desenvolvimento de Software e Inspirações. Acredito que o mundo ideal, se constrói, quando compartilhamos o saber!