Um Lapso de Franqueza

Leopoldo Luiz Diniz Lopes
Disruptuose
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2 min readJan 5, 2017
“And if my face becomes sincere. Beware Hold me.” (METALLICA)

Talvez o tormento inebriante da devoção cega a alguém que supostamente se ama (quando na verdade apreciamos apenas a sensação de prazer e poder que o outro nos causa) seja o real motivo de minha tepidez.

Confesso que já não encontro nenhum refúgio seguro (ainda que ilusório) desta inefável melancolia monótona que se tornou minha existência vadia. O mundo para mim já não denota ou conota sentido e, talvez, mesmo que ele possua algum, não mais me aflige o interesse de perscrutá-lo. Somente a morte tem me consolado ultimamente; não o consolo estereotipado pelo viés herético, verborrágico e hipócrita da autopiedade cristã com os “dós” das tias de nossas mães. Nada disso! Mas sim através da magia enaltecedora do mistério da comunhão cósmico-transcendente de nós mesmos a partir do pensamento de não-mais-sermos ‘coisas’ depois da decrepitude fúnebre; e mais, a identificação da origem pulsante que caracteriza sumariamente todos os seres vivos com alguma suposta deidade ulterior, anterior ou mesmo presente; e ainda sobre a onticidade primeira dos seres e sua posterioridade última no devir.

O que há por detrás do mundo? Eis do têm se ocupado minha inepta e limitada massa encefálica nos atuais dias que seguem.

Tatear o escuro de mim mesmo, norteado apenas pelos sussurros perdidos na História da Humanidade elaborando amiúde linguagem satisfatória para contar minhas futuras e novas dúvidas. Eis o que me acabrunha o peito cingindo o semblante em agonia e cintila o gênio através do olhar brilhante e exaurido em devaneios.

Admito que mais fácil seria tornar-me bom cristão de carteirinha, hóstia e bíblia na mão e, arrependido do pecado da dúvida, regurgitar o pedaço mordido da macieira proscrita, aceitando por fim uma doutrina lancinante, fugaz e pudica, arrebatadora de quaisquer sintomas de ‘debilidades espirituais’. Todavia tenho que aceitar a mordida dada como recíproca, pois realmente ela o é. E, é fato que eu não mais conseguiria calar à minha alma às vozes de outrora e além mar que hora vai, hora vem, me visitam; e muito menos seria capaz de arrefecer minha mente e plexo solar pela pulsão da busca perpétua que não finda em se construir e nem chega em algum lugar.

Ademais, talvez eu não passe de um lunático psicótico e esquizofrênico que houve vozes e se perde em abstrações sem nexo; e é, portanto, que me silencio com os lábios entre os dentes e o rosto entre as mãos, por saber que não dei nem mais um passo adiante ou em retrocesso e que as dúvidas que consumo e me consomem, de fato, cada vez mais aumentarão. Eis o acalento febril de alma perdida, que senão, totalmente doidivanas que ofereço delicadamente à todos os que não me entendem, pois que provavelmente nunca conseguirão.

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Leopoldo Luiz Diniz Lopes
Disruptuose

Indagar o mundo é uma paixão, aprender compulsivamente um hobbie e compartilhar dúvidas uma tentação que espanta e exorciza monstros que não criei.