Bolsonaro ou Haddad? Sobre quando escolher é errado

Ariel Paiva
A Dissidência
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3 min readSep 29, 2018

O estudo da economia é recheado de exemplos esdrúxulos de tomada de decisão, algo que acontece também nos cursos de ética e filosofia para ilustrar cenários moralmente difíceis que requerem escolhas do interlocutor. Situações onde é praticamente impossível haver um win-win (ambos ganharem). Nesse “faz de conta” filosófico, são colocados agravantes emocionais, utilitarismos e até mesmo matemática.

“Você está no controle da trilha de um trem numa bifurcação. Decide entre: Colocá-lo para um lado e matar os três passageiros, onde os trilhos estão quebrados, ou deixá-lo no seu trilho, onde estes são bons, mas há cinco suicidas amarrados no caminho. Se nada fizer, manterá o trem no trilho, mas assim matará mais pessoas. […] E se, por acaso, um dos passageiros for a sua mãe? Qual a decisão nesse caso?”

Nota-se que se você deixar o trem no seu rumo, terá determinado resultado. Utilitariamente pior. Então você precisa agir: Prefere participar da escolha do menos pior e ser perseguido pela sua decisão? Ou se abster e carregar uma culpa menor de uma tragédia maior?

Na eleição presidencial brasileira de 2018, ambos os lados estão no comando desse trem chamado Brasil. Para os coxinhas, Bolsonaro é uma opção ruim, mas menos pior do que a volta do PT. Para os esquerdistas, Haddad não é Lula, mas é menos pior do que o fascista. Nesse caso a única salvação é não entrar no trem, como fizeram Alckmin e Amoedo.

E por que não se posicionar?

Ambas as opções para o segundo turno são problemáticas para quem crê em liberdade. Quer dizer, se você for do PT (principalmente um animal marítimo) ou um torturador do período da ditadura militar, você está salvo. Mas se acredita em liberdade individual, seja para empreender, falar ou, em suma, viver, você está ameaçado. O quadro abaixo exemplifica essa situação:

A eleição caminha para um de seus piores cenários. Bolsonaro lidera as pesquisas, enquanto Haddad se isolou na segunda colocação. (Foto: Gazeta do Povo)

JUSTIÇA

Bolsonaro: É amplamente conhecida a proposta de Jair para o aparelhamento da justiça. Atualmente são 11 ministros que, em sua presidência, passarão a 21, todos indicados por ele. O PT aplaude.

Haddad: Como se não fosse suficiente ter 7 dos 11 ministros do STF indicados pelo seu partido, caso eleito, o líder será solto. E para impedir futuras conspirações contra o partido, limitará o poder da justiça.

DEMOCRACIA

Bolsonaro: O deputado vem fazendo uma campanha maciça de descrédito às urnas e ao processo eleitoral. Ele já prepara o terreno para uma eventual derrota, visto que a rejeição à ele não para de crescer. Ou seja, se perder, é golpe.

Haddad: O PT, apesar da narrativa ser de partido sofrido, perseguido e coitado, é quem perseguiu com pedidos de impeachment praticamente todos os presidentes da república desde a redemocratização. E dessa vez não vai ser diferente. Ou seja, se perder, vai ter golpe. (Já está tendo).

LIBERDADE DE IMPRENSA

Bolsonaro: Atacou a Folha, atacou a VEJA e ataca qualquer um que colocar em suas páginas as tais “fake news”, ou tudo que é oposição ao candidato.

Haddad: Defende a regulação da mídia, em outras palavras, censura, são os primeiros passos para um governo tranquilo… em ditaduras.

DITADURA

Bolsonaro: Para ele, a brasileira não existiu e, se necessário, fará a primeira no país.

Haddad: Apoia todas, inclusive financeiramente, seja na América do Sul ou na África.

Se, ainda assim, você enxerga os dois de lados opostos, reveja suas premissas. Ambos querem o mesmo para o Brasil: Todo ele aos seus pés.

Criar uma terceira via para esse trem não é fácil, ainda mais com pouquíssimo tempo para tal. Precisa-se de muita gente, de alguém muito bom e de criar esse trilho direitinho, se não o veículo vai descarrilhar como faria em qualquer uma das duas opções descritas nesse texto. Mas, entre os males do mundo, a esperança é a última que morre.

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Ariel Paiva
A Dissidência

Senior administrative on VC-X Solutions. Addicted to podcasts and strategy games.