O capitalismo não é um sistema econômico

Liberdade é sobre cultura e tradição, o dinheiro é consequência

Ariel Paiva
A Dissidência
3 min readDec 8, 2018

--

>>> Siga A Dissidência no Twitter, no Instagram e no Facebook

O momento no Brasil é de muita esperança e otimismo com relação ao próximo governo. À parte das pautas de “costumes”, que, sinceramente, só servem para encher as páginas de jornais e gerar indignação nas redes sociais, a economia é o sonho molhado do presidente eleito para alavancar a própria popularidade e emplacar seu próprio projeto de poder — se engana quem pensa que ele não existe. Contudo, não basta apenas privatizar tudo ou melhorar as contas do governo. A sustentação do liberalismo e, consequentemente, da riqueza nesse país vai depender das mentes e das ideias dos indivíduos, não da vontade do político com poder no momento.

Ao escrever “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Max Weber descreve a vida dos seguidores das religiões não-católicas e seu apreço pelo trabalho, seja como forma de salvação, de louvor ou de demonstração de capacidade. Em uma dessas religiões a mentalidade é a seguinte: quem é rico, o é porque foi escolhido por Deus. Para ser benquisto na comunidade, precisa-se ter dinheiro, não para prazeres e luxúrias, mas para poupança e reinvestimento, afinal a diginidade advém da recompensa do seu trabalho. Quanto mais rico, mais próximo do céu. Sem querer o protestantismo colocou sobre o indivíduo a responsabilidade de seu destino. A liberdade de empreender e acumular riqueza não necessariamente precisa vir da religião, mas é bem-vinda desde que a igreja não seja um braço de coerção estatal.

Essa tradição era predominante naqueles países em que primeiro floresceu o capitalismo, quando este termo sequer existia — foi cunhado por Marx no século XIX. Reino Unido, Holanda e Estados Unidos foram os primeiros países a terem grandes populações protestantes e tiraram proveito da cultura de trabalho supracitada. Evidente que, anos depois, esse tipo de recompensa (riqueza=salvação) foi incorporada nas mais diversas doutrinas de fé, até mesmo nas asiáticas, com tradições religiosas muito distintas das ocidentais. Mas ainda há, mesmo nos países do oeste do mapa, quem ache “feio” ter dinheiro.

O capitalismo (ou liberalismo) tem sua pedra fundadora bem definida: proteção à propriedade e liberadade. Países onde esses dois pontos são respeitados são países de sucesso. Singapura, Hong Kong e os próprios Estados Unidos da América entenderam isso perfeitamente desde sua fundação: para ser feliz, é necessário respeitar o próximo e permitir erros. Quem não seguiu a famosa “cartilha liberal”, que é consequência direta dos dois pontos descritos acima, falhou.

Se um povo permite invasões de terra, sob o argumento de justiça, roubo de propriedade, sob o argumento de necessidade, violação de corpos, sob o argumento de merecimento, assassinatos, sob o argumento da preservação dos bons costumes e controle da produção, sob o argumento do bem-estar público, é porque ainda não sabe o que é liberalismo.

Ser libertário é defender que o que é seu, é seu, desde o corpo até as ideias e seu direito de expressá-las. Que você tem o direito de trabalhar e buscar sua felicidade, o direito de criar e inovar, assumindo todos os riscos dessa atitude e o direito de se defender contra a violência.

O libertarianismo defende a razão e que o ser humano é responsável pelos seus atos, sendo recompensado pelos bons e punido pelos ruins. Não existe, no individualismo, ganhos privados e perdas socializadas. Isso é social-democracia, fascismo ou socialismo. A recíproca também é verdadeira: não há ganhos socializados e perdas individuais. O que é seu, é seu, e você faz o que quiser com o que é seu.

Se em algum momento ganhar dinheiro deixar de ser alvo de inveja e cobiça, se um cargo no governo for visto com olhar atravessado e não como oportunidade, se a recompensa for baseada no valor e não no esforço, se a razão, não a emoção, passar a ser o guia das atitudes e se o indivíduo, não o coletivo, passar a ser respeitado, quem sabe o Brasil também consiga chegar ao céu. Por enquanto é a terra do diabo.

--

--

Ariel Paiva
A Dissidência

Senior administrative on VC-X Solutions. Addicted to podcasts and strategy games.