O governo do povo: covarde, ignorante e falastrão

Ariel Paiva
A Dissidência
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3 min readNov 9, 2018

A passagem de bastão de Michel Temer para Jair Bolsonaro está sendo conturbada, como já era de se esperar. Com a democracia mais fortalecida do que nunca, a vigilância ao governo tem sido uma constante nos quinze dias que sucederam o segundo turno da eleição presidencial. O capitão não tem se saído nada bem na tarefa de conduzir a sua equipe: mandos e desmandos, contradições e, desde já, ameaça de demissões. Além disso, a inexperiência com o trâmite interno da gestão federal, aliado ao seu estilo autoritário, tem envergonhado não só dentro das fronteiras nacionais, mas também na política externa.

Os dois homens fortes de Jair Bolsonaro junto à população e à mídia já foram anunciados. Sergio Moro e Paulo Guedes serão os moderadores do discurso do paulista durante sua estada como chefe do poder executivo. O primeiro, em entrevista coletiva, disse concordar cem por cento com o capitão nos objetivos de extinção da criminalidade, da corrupção e do crime organizado. Existem algumas divergências, pontua, mas ambos estão alinhados. Nenhuma proposta concreta foi apresentada além daquelas bizarrices do mandato de Bolsonaro como deputado federal. Por isso o ministério da justiça tem paz.

Situação diferente de Paulo Guedes, que já colocou de reforma da previdência até “CPMF” nas propostas ao seu capitão e ao legislativo. O presidente eleito tem dificultado o discurso liberal do economista ao atacar as reformas, a forma com que se pagará a dívida e começar a ceder para as bancadas no congresso. Marcos Cintra foi o primeiro alvo das críticas do capitão ao defender imposto parecido com a CMPF — e as críticas não são nada leves — além de outras promessas como “quem trabalhar contra o governo eu corto a cabeça”.

O figurão promete tudo, mas ainda não sabe o que quer. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

Além disso, o chicago boy mostra não entender muito do procedimento interno do governo federal, assim como Bolsonaro: ambos passaram vergonha frente a Eunício Oliveira, que não é flor que se cheira, mas conhece a floresta. Quando perguntado sobre a “prensa” que Guedes quer dar no Congresso para aprovar a reforma da previdência, retrucou:

“[Paulo Guedes] ou se expressou mal ou não sabe como funciona o Congresso”

O presidente eleito tem sofrido também na política externa. Seu discurso pré-campanha foi muito favorável à Israel, contrário à China e mais: com a ameaça de fusão dos ministérios de agricultura e meio ambiente, ameaçou até o mercado brasileiro na União Europeia, dada as regulações desse mercado com relação ao meio ambiente. No país judeu o paulista quer mudar a embaixada brasileira para Jerusalém, imitando o presidente Donald Trump. Contra a China, defende o protecionismo: assim como Trump. Sair do acordo de Paris? Trump também fez. Diferente do presidente dos Estados Unidos, para o bem ou para o mal, Bolsonaro é covarde. Tem recuado em muitas das suas atitudes e declarações com medo das retaliações da oposição e até mesmo do governo.

Muitos apontam que Bolsonaro foi eleito por mostrar autenticidade e representar o cidadão médio brasileiro, sendo o famoso “tiozão”. As atitudes do seu governo até então tem sido exatamente nessa linha: covarde, ignorante e falastrão. O presidente eleito é bom de mídia, mas não conhece o funcionamento do Estado, além de não ter coragem para permanecer em suas posições — muitas vezes por não ter pleno conhecimento delas ou não saber as consequências daquilo que defende. Esse é um problema que os governo do PT e do PSDB nunca tiveram: ambos eram elites, seja do marxismo ou da corrupção. Por vezes a ignorância é uma benção, por isso o povo brasileiro precisa rezar muito para que o capitão aprenda como administrar a máquina estatal. O potencial é grande, tanto para melhorar a situação do Brasil quanto para terminar de afundar.

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Ariel Paiva
A Dissidência

Senior administrative on VC-X Solutions. Addicted to podcasts and strategy games.