O problema do pragmatismo na defesa da liberdade

Felipe Torquini
A Dissidência
Published in
3 min readDec 2, 2018

A ótica da política eleitoral dos últimos anos trouxe uma falsa impressão de que o movimento pela liberdade, ínfimo durante a década passada, estava em seu ponto alto na batalha ideológica do país. Entretanto podemos afirmar que após as transformações que o país está passando, como a forma de ver o papel dos políticos e as novas influências, tenha logrado seus resultados nessas eleições, sendo na primeira onde os movimentos foram consistentes.

Inegavelmente aconteceu um estapafúrdio crescimento dos verdadeiros defensores da liberdade. Todavia houve um rompimento, especialmente nos últimos meses, que mostrou como essa bandeira não é o principal foco de certos grupos que cresceram e tornaram-se dominantes no debate político fazendo uso desse argumento. É claro que isso não quer dizer que A ou B é socialista ou comunista e sim que a liberdade por inteiro não é, e nunca deverá ser, o foco de grupos que a usaram para alavancar-se — a menos que isso vire rentável, obviamente.

O debate com socialistas não deveria existir no século XXI. O debate a ser feito seria, idealmente, sobre em que nível se daria a intervenção, aceitando o capitalismo e a defesa da propriedade privada. Argumentos coletivistas e as fundamentações políticas para esse mantimento corporativista retratam um enorme retrocesso a longo prazo. A defesa de remendos em problemas que só existem motivados pela ineficiência do Estado em resolver conflitos que indivíduos atuando de forma livre poderiam solucionar não é um progresso para a liberdade.

Invariavelmente todo liberal ou libertário — que ainda acredita na política como um meio do Estado pelo menos deixar de atrapalhar a sua vida — é um apoiador das reformas institucionais e econômicas que o Brasil precisa. Embora muitas delas estejam cada vez mais deturpadas por pedidos de grupos corporativistas e sindicalistas (o que não difere muito, sejamos francos), são defesas que mantém o Estado como um atuante distribuidor de privilégios. Além dessas defesas para uma diminuição no estrago que o governo e a estrutura estatal podem realizar em nosso cotidiano, um liberal ou libertário precisa colocar o indivíduo e suas necessidades acima do coletivo.

A função de um defensor da liberdade, seja onde for, é proteger a legitimidade que o indivíduo tem sobre a vontade do coletivo, respeitando todas as peculiaridades que só pertencem a si. Identificam-se inúmeros grupos sociais ou políticos eleitos para a próxima legislatura que não têm o pensamento construído com essas bases. Pessoas que, ao chegar ao poder ou alguma posição governista, abrem mão (ou, neste caso, apenas expõem essa posição) do indivíduo por um “bem maior”. Normalmente grupos ou pessoas com discursos infundados na defesa de um “bem maior” ou estão no controle, ou o apoiam.

Não existe uma defesa da liberdade simplista onde há cortes motivados pelo que é plausível ou alcançável. Existe uma defesa paralela do que é possível, mas sem abandonar as bases filosóficas e os seus ideais, procurando a conclusão delas em um futuro. Antagônico a isso está a concepção de que a liberdade não é o correto e sim uma forma mais eficiente, dependendo do que está sendo pautado. A liberdade só é o correto quando se trata de consumo de drogas, como diria algum político do PSOL, ou apenas quando se fala do direito ao porte de armas, como diria algum deputado eleito pelo PSL bolsonarista, ou que o direito de ser roubado não pode ser algo que vá te incomodar, e caso isso aconteça, a saída é zarpar de seu território para outro que vá praticar um roubo menor, já que, uma população do outro lado do mundo supostamente afirma que ser roubado não é roubo, contrariando a lógica. Não existe defesa relativa e pragmática da liberdade.

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