É tempo de homens possíveis

Gabriel Tarrão
diverso
Published in
5 min readJun 20, 2016

Quem convive comigo sabe que sou um propagador de ideias, iniciativas e práticas. Ultimamente, conviver comigo significa conviver com as minhas indicações, bem como com toda empolgação que aplico na adoção das indicações pelos meus amigos.

Neste ano, especificamente, passei a indicar para todos os meus amigos a leitura de textos vindos do Papo de Homem, um espaço virtual que compartilha artigos diversos. A frequência com que passei a indicar a leitura dos textos do PdH intrigou algumas pessoas, que naturalmente passaram a perguntar o motivo pelo qual eu indicava com tanta veemência o site.

Eu me dei conta que nem eu sabia o motivo para falar no momento. Para responder a pergunta, tive que mergulhar um pouco no processo de envolvimento com o site e no que este causou em minha rotina.

Início da jornada, textos legais e uma nova rotina

Como acontece com a maioria das coisas que consumimos na internet, descobri o PdH nas longas descidas na timeline do Facebook, há alguns poucos anos. A frequência com que os textos apareciam para mim nem se comparam a como a coisa acontece hoje. Era raro aparecer um texto, mas essas leituras esporádicas sempre colocaram o site em questão na minha lista de boas leituras. Não tinha porém, à época, uma cultura de ler artigos, muito menos de consumir conteúdo que estivesse fora da minha área de interesse.

Neste ano, um amigo, totalmente empolgado como quem desfruta de algo absurdamente inovador, me indicou o PdH, apontando para algo que inicialmente estava mudando um pouco da rotina dele e poderia ser algo interessante. Eu já conhecia o site, mas a indicação dele contemplava uma nova plataforma, o aplicativo do PdH. Esta plataforma fez toda a diferença para que eu mudasse a forma como estava levando a minha vida, já que adicionou uma das coisas mais importantes para grandes mudanças: Hábito. O app do PdH me habituou a ler o que, de cara, me interessa, mas também me fez ler textos que a princípio não pareciam interessantes, mas que passaram a fazer toda a diferença no meu ‘repertório’, que, por sua vez, passou a influenciar em como levo a vida.

Aí, Papo de Homem virou um app, semelhante a um blogmail, que me mandava textos legais praticamente todos os dias.

Do hábito para o estilo de vida

Foram alguns meses com essa rotina de ler textos todos os dias. Ao acordar, antes de dormir, a caminho da faculdade, nos intervalos, no almoço, nos “Bom Dia” de segunda e nos “#Doamor” que a cada dia me fascinavam mais.

Com o tempo, percebi o quanto um simples hábito mudou a forma como enxergo o mundo, e isso ficou muito expresso nas pequenas coisas. As conversas de que participo passaram a ser mais agradáveis, produtivas e transformadoras, o espectro de temas de meu interesse aumentou, cuidar da mente e do corpo passou a ser algo constante e eu passei a me sentir dentro do mundo, não numa bolha de conteúdos que eu me restringia a usufruir e que, consequentemente, limitava minha visão de mundo e minha noção de relacionamentos. Eu migrei para uma nova forma de viver, mais real, mais ampla, com mais verdade e satisfação.

Me envolver mais me mostrou que o PdH não era só um site ou um aplicativo, e sim uma comunidade, um grupo de muita gente que também passou e ainda passa pelo processo que eu passei e que dialoga, comenta, compartilha, discorda, contribui, influencia e é influenciado pelo emaranhado de temas e discussões que pessoas constroem dentro desta tribo.

A partir daí, meu questionamento foi: Por que me envolvi tanto e passei a indicar para Deus e o mundo esses textos?

Bem…

The Man Box e homens possíveis à vista

Este subtítulo sintetiza o motivo pelo qual indico PdH.

The Man Box é um conceito que simplesmente aglutina tudo que tem sido discutido atualmente acerca do machismo e da desigualdade de gêneros. Ele afirma que todos os paradigmas machistas compõem uma caixa, que nos aprisiona num modelo predefinido e ofusca o que realmente somos ou temos prazer em ser. A “caixa do macho” inclui a necessidade de ser superior, mais forte, imponente, invulnerável, entre outros diversos atributos e comportamentos naturalmente esperados pela sociedade dentro da figura conservadora do homem. As arestas dessa caixa são ainda muito fortes dentro da nossa sociedade, e quebrá-las tem sido um trabalho constante principalmente de grupos feministas. O grande lance é que muitas vezes estes grupos não sabem a melhor forma de quebrar essas arestas, e o Papo de Homem tem um jeito incrível de fazer isso.

The man box — Pra saber mais, assista o TED de Tony Porter

A comunidade PdH é um alento para o tempo de homens possíveis. Nela, não mais conversamos apenas sobre sexo, futebol, dinheiro e carros. Nela, nem todos os homens são heterossexuais e a nossa intersecção é o “ser homem”, não o “ser macho”. Nessa comunidade, não há amarras, não há “temas delicados”, um texto pode até contradizer o outro, e não se assuste se um autor escrever algo hoje e daqui a três meses disser: Desculpa, errei, e minha opinião agora é outra. Nesta comunidade, nós somos reais, somos possíveis, temos sentimentos, gostos diferentes, dúvidas, medos, enfim, temos tudo!

E é esse o grande sentido da minha veemência em indicar o PdH. A parte da minha rotina que inclui vida noturna, relacionamento amoroso, amor por futebol e curso de engenharia agora é tão importante quanto a parte que inclui o fascínio por culinária, a sensibilidade para a poesia e o interesse intenso pela música em suas diversas nuances. Eu sou possível, não preciso mais ser o impossível. Sou eu, como sou, e sou homem por isso. Me sentir assim me fez ver todo o sentido em indicar a adoção desse site como cabeceira para amigos e amigas, estas que também têm muito a ganhar em viver essa comunidade.

Papo de Homem me fez ver a transformação em forma de site, blog, aplicativo, comunidade ou como você quiser chamar. Me mostrou que uma tribo conectada, com valores e propósito, pode mudar a forma como enxergamos nosso mundo e, caso isso faça sentido, dar a opção de propagar a mudança, reverberar um mundo mais plural, pacífico, possível.

  1. Papo de Homem não está me pagando nada.
  2. O PdH também me incentivou a voltar a escrever. Artigos passaram a ser algo muito maior do que artigos para mim e, se puder ser também um exemplo disso, serei.
  3. O link está numa das palavras, mas para garantir, aqui o link: www.papodehomem.com.br e também o APP disponível para Android.

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