Quantas Marias mais?
Vale do Jequitinhonha
Vale do Jiquiriçá
Nau da moça que sonha
Mar do mais tardar
—
Vivência de luta
acordo de eternidade
Canções de roda
no chão da cidade
—
Duas crias, frias
Vã mulher, vã pelo mundo
distante do seu perfeito
de sorriso raso, não profundo
—
Sorriso de dia a dia
Choro de noite a noite
A sobreposição da sinestesia
do grão feito de açoite
—
Quantas Marias mais
Dentro dos vales?
Quantas marias faz
o oposto do tal baile?
—
À beira do mar, do rio
À beira do cais, do frio
Do cheio, do meio e do vazio
Das beiras da emoção vivida.
—
Do cheiro sentido
do sexto sentido
no universo perdido
de entradas, trancas e saídas.
—
Maria vive de esperança
Vive pra cima, pra frente
Carece de vida, mudança
No seu real sol poente
—
A obtusidade do seu mundo
Transforma seu coração
Braços fortes, fé amolada
Nos becos, na luz, na mão
—
Quantas Marias mais
Vagam por becos, cabanas?
Quantas Marias em paz
Nos fins de suas semanas?
—
É MARIA assim
ou maria assado?
Das noites quentes
Dos dias gelados.
—
Quantas Marias mais
Serão poesia de choro?
Quantas Marias mais
Serão músicas de novo?
—
Quantas Marias mais
gerarão Miltons e Josés?
Quantas Marias mais
Do mundo, aos pés?
—
E quando Maria jaz?
O filho Brasil junto vai
Pra vida no vale do dia
Pra onde o chão não fica, cai.
Poesia sempre fez parte da minha essência, das minhas criações. Essa faz parte da estreia de uma das nossas seções: a INVERSO. Tudo que for poesia, estrofe, verso, se concentrará na aba em questão. Como estréia, escolho “Quantas Marias Mais?” , poesia que escrevi desde que conheci um pouco da história do bituca Milton Nascimento, gênio do qual sou grande fã. Maria, Maria,música de sua autoria junto a Fernando Brant me inspirou. Ela conta um pouco da história de muitas mulheres que ainda vivem no nosso país. Vale muito a pena ver o vídeo abaixo com texto do Fernando Brant retratando e ressignificando o que para nós é apenas uma das canções mais lindas e emocionantes da história da música brasileira.