A importância do Outubro Rosa

Muito além das iluminações e laços cor-de-rosa, essa data representa a luta contra uma das doenças que mais matam mulheres no Brasil: o câncer de mama.

--

Photo by Angiola Harry on Unsplash

O que é o Outubro Rosa?

O Outubro Rosa é um movimento mundial pela prevenção ao câncer de mama — e hoje em dia, também ao câncer de colo do útero — que existe desde os anos 90. O Brasil é um dos países com maior incidência do câncer de mama, que também é o mais frequente entre mulheres e pode ser fatal. Por isso, a intenção da campanha vai além das iluminações e laços cor-de-rosa, promovendo conscientização e acesso de todas as mulheres ao diagnóstico e tratamento dessa doença tão séria.

O impacto do câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce

O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, representando 24,5% dos novos casos e 15,5% dos óbitos por câncer entre mulheres em todo o mundo em 2020. Essas porcentagens representaram 2,3 milhões de novos casos e 684.996 óbitos estimados — valores muito altos, que mostram como esse é um problema de saúde extremamente relevante entre mulheres e explica a necessidade de um mês todo dedicado à conscientização e atenção ao problema.

Apesar de ser bem mais comum entre mulheres, essa condição atinge todos os gêneros: no Brasil, dos 18.925 óbitos por câncer de mama registrados em 2019, 227 eram homens. O número é bem mais baixo (cerca de 1% dos óbitos totais), mas ainda é preocupante. Essa é inclusive uma das dificuldades da campanha do Outubro Rosa: muitas pessoas tendem a pensar que o câncer de mama é um problema exclusivo das mulheres, fazendo com que homens prestem menos atenção às possíveis alterações em suas mamas e deixando a doença atingir estágios avançados.

A importância de se fazer essa campanha e incentivar os exames preventivos é clara: tanto o câncer de colo do útero quanto o câncer de mama, podem ser detectados precocemente se o paciente fizer acompanhamentos, o que facilita o diagnóstico, tratamento e cura — os casos descobertos precocemente apresentam 95% de chance de cura, enquanto aqueles descobertos em estágios mais avançados são mais difíceis de serem tratados.

Como fazer os exames e acompanhamentos?

O diagnóstico precoce (acompanhar sinais iniciais da doença e fazer exames para confirmar a suspeita) e o rastreamento (testes e exames que buscam anormalidades ou indicativos de futuro desenvolvimento da doença) são as duas principais abordagens para evitar a evolução de casos de câncer de mama.

No caso do diagnóstico precoce, a percepção de sinais da doença podem ser feitos tanto pelos pacientes quanto pelos profissionais de saúde. O autoexame das mamas buscando possíveis nódulos ou alterações é um dos métodos mais importantes e fáceis para detecção de sinais que podem ter relação com câncer de mama. Alguns sinais importantes para se atentar no autoexame, segundo o Instituto do Câncer (INCA) são:

  • Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos.
  • Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual.
  • Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, além de nódulos nas axilas.
  • Secreção unilateral dos mamilos, algumas vezes com presença de sangue.
  • Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja.
  • Mudança no formato do mamilo.
Passos para fazer o autoexame das mamas, buscando identificar os sinais indicados anteriormente. Fonte: https://fdgcirurgiaplastica.com.br/outubro-rosa-aprenda-a-fazer-o-autoexame/

O diagnóstico do câncer de mama tem como principal apoio os achados clínicos, encontrados no momento de apalpar as mamas, e outros sintomas como desconforto nos mamilos, fadigas ou inchaços. Entretanto, outros exames podem ser utilizados para rastreamento e confirmação, como mamografia, radiografia, ressonância magnética, biópsias, ultrassom das mamas, exames histológicos (análise de tecidos) e exames genéticos.

A consulta regular com ginecologistas para manter os exames em dia, principalmente em casos de histórico familiar de câncer de mama, ovários e útero ou faixa de idade com alta probabilidade de desenvolvimento desses tipos de câncer (50 a 69 anos), é de extrema importância.

Fatores biológicos envolvidos

Como a grande maioria das doenças, a genética é um dos fatores mais importantes a se considerar. No caso do câncer de mama, as mutações genéticas mais procuradas nas pacientes são aquelas que podem estar envolvidas na hereditariedade dessa doença, como em BRCA 1 e 2 (os mais conhecidos e comuns, são responsáveis pela síndrome de câncer de mama e ovário hereditários, correspondendo por 30 a 50% dos casos de câncer de mama) e em genes menos comuns como PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RED51D, RAD51C e outros.

Essas mutações geralmente atingem genes que são responsáveis pelo reparo do DNA: cada vez que nosso DNA possui uma falha, ele precisa ser reparado para que esse defeito não seja passado para as células-filhas. Entretanto, se algum mecanismo de reparo falha devido a mutações ou outros fatores, o DNA defeituoso é replicado, gerando um comportamento anormal das células. Entre esses comportamentos anormais, pode ocorrer a reprodução descontrolada e agressiva das células, o que gera um tumor maligno e o quadro do câncer.

Entretanto, o câncer não é apenas hereditário, podendo também ser ocasional, resultado dos hábitos e ambiente do paciente — e mesmo nos casos hereditários, o estilo de vida da pessoa faz muita diferença, tanto na chance de desenvolver a doença, quanto no sucesso do tratamento.

Alguns hábitos e fatores ambientais responsáveis por uma maior possibilidade de desenvolvimento do câncer de mama são:

  • Tabagismo e hábitos alimentares desregrados (incluindo o alto consumo de bebidas alcoólicas);
  • Inatividade física;
  • Exposição muito frequente a radiações ionizantes;
  • Obesidade e sobrepeso.

Além disso, existem alguns fatores reprodutivos e hormonais que também podem influenciar na probabilidade de se ter câncer de mama, como ter menstruado antes dos 12 anos, usar anticoncepcionais e ter feito reposição hormonal pós-menopausa. Vale lembrar que todos os fatores mencionados NÃO significam que a pessoa terá essa doença, apenas representam uma maior chance.

Existem vários tipos de câncer de mama, cada um com sua especificidade em velocidade de evolução do quadro, agressividade, etc. O motivo pelo qual a pessoa desenvolve esse tipo de doença também pode ser variado, mas o mais importante sempre é seguir o que foi dito no início deste texto: consultar um médico regularmente, fazer o autoexame e se cuidar, hoje e sempre.

Como as tecnologias podem ajudar?

Apesar de o cuidado com a saúde e o autoexame serem as principais chaves para evitar complicações do câncer de mama, hoje em dia existem muitas tecnologias que podem ajudar na detecção, prevenção e tratamento desse tipo de doença. A evolução da tecnologia pode gerar impactos positivos desde a melhora na precisão de equipamentos utilizados nos exames, até a utilização de Inteligência Artificial para diagnósticos mais precisos.

Um exemplo do uso da IA para diagnósticos é o que foi feito em um estudo envolvendo a Google Health e a Imperial College London: neste, a Inteligência Artificial desenvolvida pelos cientistas teve sua habilidade de dar diagnósticos precisos de câncer de mama testada. A surpresa foi que, ao comparar a precisão da IA com a dos médicos, ela teve maior sucesso em identificar os casos, apresentando menos falsos positivos e negativos. Isso não significa que a IA substituirá a opinião médica, mas o resultado foi muito satisfatório — a união de médicos e Inteligência Artificial pode gerar diagnósticos muito mais precisos e precoces, auxiliando no tratamento rápido e eficaz da doença.

Além disso, sequenciamentos genéticos e o uso de IA para detecção de fatores de risco também têm se mostrado muito interessantes. Através do mapeamento de genes, hábitos e características hormonais do paciente, é indicado o quão frequente deve ser o acompanhamento clínico do caso. No caso dos sequenciamentos genéticos, estes também podem auxiliar muito na detecção da agressividade do tumor e a qual tipo de tratamento ele responde, fazendo com que a escolha do tratamento seja mais incisiva e com maior chance de sucesso.

Equipamentos como PET Scans ou PET-CT (Tomografia por emissão de pósitrons) são mais uma alternativa que ajuda no diagnóstico precoce, já que esse exame avalia alterações metabólicas e moleculares, antes mesmo delas se manifestarem anatomicamente, observando a possibilidade do desenvolvimento de um tumor e permitindo que os médicos já tracem uma estratégia antes mesmo que aquilo se torne um problema.

Tratamentos tradicionais também foram e continuam sendo muito influenciados pela tecnologia e ciência — hoje em dia, procedimentos como radio e quimioterapia são mais eficientes e bem menos agressivos à saúde do paciente, a curto e longo prazo, tudo isso graças ao desenvolvimento de novas técnicas e fármacos que auxiliam o bem-estar do paciente, buscando atacar apenas os tumores.

Junto de todas essas possibilidades incríveis, o desenvolvimento de novas terapias e técnicas de cirurgia, como a cirurgia robótica, também acrescentaram muito à vida dos pacientes com câncer de mama, que hoje em dia não precisam mais enfrentar o diagnóstico como uma sentença de morte. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas, pacientes com essas condições estão ganhando novas chances para combater uma doença tão complicada, mas que com certeza não significa o fim.

Se você se interessou pelas possibilidades de novas tecnologias na luta contra o câncer de mama, principalmente as que envolvem inteligência artificial, dê uma conferida também no texto dessa semana do Turing Talks, onde é discutida e demonstrada a aplicação da IA nesse tipo de assunto: https://link.medium.com/73I3zunUekb

Gostou desse texto? Continue seguindo o nosso Medium para receber informações desse tipo e de outros temas interessantes! Acompanhe também o ARGO no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter!

Referências:

[1] AMARANTE, Suely (IFF, Fio Cruz). Câncer de mama: a importância do diagnóstico precoce. Disponível em: http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/274-cancerdemama

[2] BERNARDES, Nicole Blanco et al. Câncer de Mama X Diagnóstico/Breast Cancer X Diagnosis. ID on line Revista de Psicologia, v. 13, n. 44, p. 877–885, 2019. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/1636

[3] MALDINI, Giovana. Avanços na ciência e tecnologia aumentam chances de cura. UFMG — Faculdade de Medicina. 29 de outubro de 2019. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/novos-tratamentos-aumentam-chances-de-cura/

[4] MCKINNEY, Scott Mayer et al. International evaluation of an AI system for breast cancer screening. Nature, v. 577, n. 7788, p. 89–94, 2020. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-019-1799-6

[5] Equipe Oncoguia. [ENTREVISTA] Câncer de mama — a importância da detecção precoce. 15 de novembro de 2015. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/entrevista-cancer-de-mama-a-importancia-da-deteccao-precoce/285/8/

[6] INCA. Câncer de Mama: Conceito e magnitude. 16 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/conceito-e-magnitude

[7] INCA. Detecção precoce: Câncer de mama. 23 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/acoes-de-controle/deteccao-precoce

[8] Ministério da Saúde. Outubro Rosa: prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/outubro-rosa-prevencao-e-diagnostico-precoce-do-cancer-de-mama/

--

--