Biomecânica aplicada nas artes marciais

Analisando alguns movimentos do judô e o karatê.

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Introdução

As artes marciais são bem comuns no nosso dia a dia, aparecendo nas olimpíadas, em jogos eletrônicos e até mesmo em filmes, como o recente Shang-Chi da Marvel. Essa prática física possui diversos estilos distintos, originários de diferentes lugares do mundo, e utilizam o corpo de forma específica. No texto de hoje, vamos analisar alguns movimentos do judô e karatê usando conceitos da biomecânica.

Biomecânica

A mecânica é a área da física que descreve e explica os movimentos através de inúmeras fórmulas matemáticas. Por sua vez, a biomecânica estuda movimentos e forças no corpo humano [1], estudando o controle e o comportamento motor. Agora, qual a vantagem de um treinador ou atleta conhecer essa área? Sabendo biomecânica, é possível adaptar treinos para alcançar todo o potencial do atleta e evitar possíveis lesões. Um exemplo: um judoca que utiliza de forma correta biomecânica pode reduzir o impacto de queda em 80%.

Alguns conceitos são essenciais para entender melhor a aplicação de biomecânica nas artes marciais. São eles: Centro de Gravidade (CG), Linha de Gravidade (LG) e Base de Suporte (BS). O CG representa um ponto imaginário contendo todo o peso da pessoa, onde todas as partes do corpo se equilibram. A LG é a linha que passa pelo CG e é perpendicular ao chão. Já BS, por sua vez, é a região delimitada entre os pontos de apoio ao chão. Na figura abaixo, são apresentados esses 3 conceitos em diferentes posições.

Figura 1 — Centro de gravidade, linha de gravidade e base de suporte. Extraído de [2].

Abaixo, outra figura representando esses conceitos, mas em duas posições de luta diferentes.

Figura 2 — Centro de gravidade (circulo) e a base de suporte (região cinza) na (a) postura frontal e na (b) postura recuada . Adaptado de [1].

Agora com os conceitos apresentados, vamos ver a aplicação da biomecânica em dois estilos de luta diferentes que se originaram no Japão: o judô e o karatê.

Judô

O judô é um esporte praticado no mundo todo e presente nas olímpiadas desde 1968 [3]. Sua técnicas podem ser divididas em três:

  • Técnicas de mão: são executadas inicialmente com o movimento dos braços;
  • Técnicas de quadril: são executadas inicialmente com o movimento do quadril;
  • Técnicas de perna: são executadas inicialmente com o movimento das pernas.

Numa luta, ambos judocas tentam manter seu centro de gravidade o mais baixo possível para possuir uma boa base de suporte. Lutadores altos utilizam mais técnicas de perna, enquanto os menores utilizam mais técnicas de quadril [1]. Vamos falar agora sobre uma técnica chamada Hane-goshi, primeiramente a descreveremos e em seguida será apresentado um vídeo da mesma.

Essa técnica consiste na união de diversos movimentos de todo o corpo — nela é possível observar alguns conceitos da biomecânica. Inicialmente, o judoca segura no braço direito (com a mão esquerda) e embaixo da gola do kimono (com a mão direita) do adversário. Em seguida, ele gira e fica de costas com o adversário, deixando seu centro de gravidade mais baixo do que o do seu oponente. Nessa posição, o judoca dobra sua perna direita (entre 90° e 110°) e a coloca entre as pernas do adversário. Assim ele levanta o oponente e o arremessa ao chão.

Abaixo, um vídeo demonstrando essa técnica.

Como dito anteriormente, esse golpe só pode ser realizado caso o centro de gravidade do judoca atacante estiver abaixo do seu oponente. Um outro ponto que deve ser observado é que, quando o lutador levanta a sua perna, sua base de apoio é reduzida consideravelmente. Caso a execução do movimento não seja rápida o suficiente, o adversário pode tirar proveito disso, desequilibrando ou até derrubando o outro judoca.

Karatê

Esse estilo de luta já possui diversos pontos distintos do judô. Nele, ambos lutadores tentam manter o centro de gravidade no meio do corpo. Na defesa, eles devem possuir uma grande base de suporte para conseguir executá-la bem. Além disso, os golpes desse estilo buscam acertar os pontos vitais do adversário, não derrubá-lo como o judô.

A grande força dos golpes do karatê vem da rotação do corpo. O golpe Gyaku Zuki é uma técnica que envolve a rotação tanto do quadril quanto da mão. O lutador fica com o braço direito junto ao corpo (rotacionado, com o ombro esquerdo na direção do adversário) e com as pernas abertas (aumentando a sua base de suporte). O golpe começa girando o quadril, enquanto vai esticando o braço direito em direção ao oponente, girando o punho antes do contato. Abaixo, um vídeo mostrando a execução desse movimento.

Esses movimentos transformam energia de rotação (energia angular) em linear, aumentando o poder do soco. É importante ressaltar que esse tipo de técnica deve ser treinada com cuidado, pois uma execução errada pode lesionar as juntas do corpo.

Conclusão

No texto dessa semana, apresentamos um pouco sobre a biomecânica aplicada em artes marciais. O conhecimento dessa área é muito importante, pois ela pode tornar a realização desses movimentos mais segura e eficiente, reduzindo as chances de lesões em uma prática amadora ou até ser um diferencial para um atleta de alto rendimento em uma competição. Diversos estilos utilizam diferentes conceitos: os judocas tentam modificar seu centro de gravidade para aplicar golpes diferentes e arremessar/derrubar seus adversários. O carateca, por sua vez, controla sua base de suporte para aumentar sua defesa, buscando manter seu centro de gravidade em uma altura média do corpo. Técnicas distintas também utilizam partes diferentes do corpo, e devem sempre ser acompanhadas por alguém mais experiente, para evitar lesões no corpo do praticante.

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Referências

[1] Arus, E. (2017). Biomechanics of Human Motion: Applications in the Martial Arts (1st ed.). CRC Press. https://doi.org/10.1201/b22446

[2] https://redu.com.br/fisica/centro-de-gravidade-e-tipos-de-equilibrio/

[3]https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4_nos_Jogos_Ol%C3%ADmpicos

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