Efeitos tardios e sequelas do coronavírus: o que é a Covid de longa duração?

Nesta publicação, iremos discutir acerca da “Covid de longa duração” ou “síndrome pós Covid”, condição em que pessoas recuperadas do coronavírus seguem com sintomas e sequelas até 120 dias depois do inicio do contágio.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52593837

Destaques

Sintomas persistentes após a fase aguda da Covid-19 são frequentes e têm um impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes acometidos.

Os sintomas duram em média de 2 a 6 meses após a infecção inicial, podendo se prolongar por ainda mais tempo

Os sintomas mais relatados são fadiga, falta de ar, dores nas articulações, dor no peito, alterações de paladar e olfato, tosse, dor de cabeça e perda de força muscular, mas há sintomas menos frequentes como queda de cabelo, rinite, problemas de visão, perda de memória e problemas de concentração

A Covid de longa duração ainda está sendo estudada e não há consenso na comunidade científica sobre o assunto. Foram analisadas pesquisas em andamento ou concluídas de diversos países e com diferentes grupos de indivíduos para elaboração da publicação.

Conforme a epidemia de Covid-19 se prolonga sem previsão de fim e faz cada vez mais vítimas no mundo todo, amplia-se a literatura acerca da doença num esforço científico mundial para entendimento de seus mecanismos de ação e efeitos no corpo humano. Nesse contexto, cada vez mais estudos observam a ocorrência do fenômeno que foi nomeado como “Covid de longa duração”, condição que afeta número considerável dos recuperados da doença e causa sofrimento devido a sintomas secundários por muito tempo após a superação da fase aguda, que tem duração média de 2 semanas.

Duração e ocorrência

Considera-se que um indivíduo infectado por coronavírus sofre da síndrome pós Covid-19 se ele apresenta sintomas persistentes após aproximadamente 4 semanas da doença aguda. A duração dos sintomas varia, mas alguns estudos observaram indivíduos que persistem com sintomas depois de 6 meses do inicio da infecção. Como não há ainda um consenso na comunidade científica acerca do fenômeno, trouxemos dados de diferentes pesquisas para discussão.

Resultados preliminares de uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP [1] revelou que 64% dos recuperados têm algum sintoma persistente seis meses depois do início da infecção. Dos 177 pacientes observados nesse estudo, 14,7% tiveram casos leves de Covid-19, 44,6% casos moderados e 40,7% casos graves, sendo que apenas casos leves não necessitaram de internação.

Em outra pesquisa, realizada na Itália pela Policlínica Gemelli [2], foram avaliados 143 pacientes em que todos passaram por hospitalização. Os dados revelaram que, após dois meses da doença, 87,4% dos indivíduos ainda apresentavam sintomas, sendo que 55% sofriam de 3 sintomas ou mais. Além disso, 44,1% dos participantes reportaram piora da qualidade de vida em relação a antes da infecção.

Apesar das porcentagens assustadoras, dados do aplicativo “COVID Symptom Study”[3], sugerem que cerca de 10% dos infectados possuem sintomas 4 semanas após a doença. A diferença das estatísticas para outras pesquisas possivelmente se deve ao fato de que o levantamento de dados feito pelo aplicativo inclui uma maioria de pessoas que tiveram casos leves de Covid-19, enquanto os estudos italiano e brasileiro têm uma maioria de casos moderados e graves.

Outro dado levantado pelo estudo do aplicativo é que pessoas com casos moderados da doença têm maiores chances de apresentar uma variedade de sintomas que vão e voltam por um período extenso de tempo. Abaixo temos um gráfico da duração média do coronavírus gerado pelos dados do estudo pelo aplicativo COVID Symptom Study [3]:

Eixo vertical: Frequência normalizada; Eixo horizontal: Duração da doença em dias; Fonte: https://covid.joinzoe.com/post/covid-long-term?fbclid=IwAR1RxIcmmdL-EFjh_aI-

Sintomas

No tocante aos sintomas relatados na Covid de longa duração, a maioria das pesquisas sobre o assunto relata sintomas semelhantes. Na fase prolongada da infecção, a grande maioria dos recuperados sofre de fadiga moderada ou intensa, dispneia (falta de ar), dores nas articulações, dor no peito, alterações de paladar e olfato (mais leves do que durante a fase aguda da doença, com tendência a melhorar com o tempo), tosse, dor de cabeça e perda de força muscular. [1][2][3][4]

Outros sintomas menos comuns também citados em alguns dos estudos realizados envolvem queda de cabelo, rinite, problemas de visão e problemas neuropsicológicos como perda de memória, problemas de concentração e névoa cerebral — definido como comprometimento cognitivo subjetivo leve[1][6], além de menções a possíveis complicações cardiovasculares, respiratórias, renais, dermatológicas, neurológicas e psiquiátricas. [4] O gráfico abaixo é referente ao estudo italiano [2].

Em azul escuro, porcentagem de pacientes com sintoma na fase aguda da doença; em azul claro, porcentagem de pacientes com sintoma após recuperação de Covid-19. Os sintomas são, de cima para baixo: Fadiga; Falta de ar; Dores nas articulações; Dores no peito; Tosse; Perda de olfato; Sindrome Sicca; Rinite; Olhos vermelhos; Perda do paladar; Dor de cabeça; Catarro; Falta de apetite; Garganta inflamada; Vertigem; Mialgia; Diarreia. Fonte [2]

Outro estudo, realizado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, [6] apontou relação entre a infecção e disfunções cognitivas. Dentre os 185 pacientes que participaram da pesquisa, 80% apresentou perda de memória, dificuldade de concentração, problemas de compreensão ou confusão em algum nível. Para avaliar os danos, foi utilizada a ferramenta MentalPlus, um jogo desenvolvido em 2010 para aferir disfunções neurológicas em pacientes com sequelas de anestesia geral profunda.

O trabalho foi conduzido pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin, que explica a relação entre a infecção por Covid-19 e os distúrbios neurológicos:

“Com a infecção tem a invasão das vias aéreas, que causa dessaturação de oxigênio, o que, fatalmente, vai afetar o sistema nervoso central. O sangue vai chegar rarefeito no cérebro, que vai ficar comprometido, causando tanto AVC e isquemia (falta de sangue em uma área do cérebro por conta da obstrução de uma artéria), quanto atingindo as funções neuropsicológicas”

Conclusão

São necessários mais estudos para compreensão profunda e ampla dos sintomas persistentes e sequelas trazidas pela infecção por coronavírus, assim como o real impacto que essas disfunções têm na qualidade de vida e na saúde dos recuperados da doença. Diversos estudos já estão em andamento e, graças ao esforço da comunidade científica, logo teremos uma resposta quanto às questões em aberto do Covid-19. Enquanto isso não ocorre, seguimos com os métodos garantidos de prevenção da doença: distanciamento social, uso de máscaras e vacinação.

Bibliografia

[1] https://jornal.usp.br/ciencias/dados-preliminares-mostram-que-64-dos-recuperados-de-covid-tem-sintomas-persistentes/#:~:text=Entre%20os%20pacientes%20atendidos%20pelo,enxergar%20ou%20inc%C3%B4modo%20nos%20olhos

[2] https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2768351

[3] https://covid.joinzoe.com/post/covid-long-term?fbclid=IwAR1RxIcmmdL-EFjh_aI-

[4] https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/hcp/clinical-care/late-sequelae.html#:~:text=The%20most%20commonly%20reported%20symptoms,16%2C%2018%2C%2028).

[5] https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/29/tratamento-de-casos-de-covid-19-de-longa-duracao-ainda-desafia-medicos

[6] https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,oito-em-cada-dez-pacientes-apresentam-disfuncoes-cognitivas-pos-covid-aponta-estudo-do-incor,70003611277

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