Fatores que impactam tempo de estadia em UTIs
Nesse texto, entenderemos quais são os fatores que aumentam o tempo de estadia de um paciente na UTI e o porquê de conhecer tais informações

As UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) são as estruturas hospitalares responsáveis pelo tratamento dos pacientes mais graves. Nasceram da necessidade de suporte avançado e completo, alta complexidade e monitoramento 24 horas para pacientes de alto risco. No início da pandemia da Covid-19 aqui no Brasil, houve muita preocupação a respeito da ocupação desses leitos, devido à quantidade deles e a sua distribuição. Uma informação muito útil que ajudaria na gestão desses leitos é o tempo de estadia (em inglês Length of Stay, LoS) de cada paciente. Com essa informação, é possível estimar quantos recursos serão utilizados, quais pacientes precisarão de mais atenção e quando serão liberados os leitos. Essa informação, entretanto, é de difícil obtenção, e, por isso, há diversas pesquisas abordando esse assunto. Uma dessas pesquisas, publicada recentemente por pesquisadores brasileiros [1], aborda esse tema, usando estatística para mostrar quais são os fatores que impactam o tempo de estadia.
Situação das UTIs no Brasil
Antes de entrarmos no estudo, vamos entender um pouco como é o cenário desses leitos no Brasil. No país, há, ao todo, cerca de 32 mil leitos de UTI [2], o que seria, aproximadamente, de 1.5 leito a cada 10 mil habitantes, enquanto que a recomendação da OMS para essa relação seja, ao menos, de 1 leito a cada 10 mil habitantes. Essa informação, a priori, leva-nos a crer que o Brasil possui leitos suficientes. No entanto, antes de se afirmar isso, é necessário que se veja como está tal distribuição nas diferentes localidades do país. A figura abaixo mostra essa relação, em que cada ponto representa um estado, ao passo que a linha tracejada é a recomendação da OMS (os pontos acima dessa linha são aqueles que cumprem o conselho, já os pontos abaixo são os que não conseguiram cumpri-la).

Assim, essa figura nos mostra que diversos estados seguem a recomendação da OMS, havendo alguns no Norte e Nordeste que não a cumprem, logo, isso representa uma desigualdade da distribuição de leitos de UTI entre as regiões. Dado esse cenário, é de extrema importância o gerenciamento de leitos dessas áreas a fim de garantir saúde e segurança para a população.
Estudo
Agora, diante desse panorama sobre as UTIs no Brasil, vamos para o estudo: foi feita uma pesquisa, nos bancos de dados científicos MEDLINE, Embase e Scopus, para encontrar artigos com as palavras-chaves “UTI”, “Predição” e “Tempo de Estadia”. Os artigos foram filtrados de acordo com alguns requisitos, obtendo-se um total de 2 163 424 pacientes para a análise. Com essa população, foram analisadas 89 características, as quais foram divididas nos seguintes grupos: dados demográficos, scores de gravidade (uma “pontuação” que mede a gravidade do paciente), características da admissão, intervenções, condições clínicas, diagnósticos agudos, APACHE IV, condições crônicas, razões para admissão na UTI e informação clínica.
Em seguida, foram realizadas algumas análises estatísticas para ver quais características, de fato, importam. A figura abaixo, extraída do artigo [1], mostra a relação do sexo com a permanência na UTI:

Vamos juntos interpretar essa imagem. Os autores encontraram 3 artigos que relacionaram sexo com o tempo de estadia em UTI. Com base neles, os autores calcularam a correlação entre essas duas variáveis e encontraram um valor de 0.01 (última linha), o qual significa uma correlação muito fraca/inexistente. Conclui-se, portanto, que o sexo não é um fator que impacta no tempo de estadia em um leito de UTI.
Outra característica analisada é a ventilação mecânica, descrita na figura abaixo:

Vamos juntos novamente interpretar essa imagem. Os autores encontraram 4 artigos que estudaram a influência da ventilação mecânica no tempo de estadia e, mais uma vez, calcularam uma correlação entre as variáveis, encontrando um valor de 0.07 (última linha), agora uma correlação significativa. Logo, a conclusão foi que pacientes que utilizam ventilação mecânica possuem um tempo maior de estadia em UTI.
Ademais, um outro aspecto avaliado foi o sintoma de delírio, como se pode verificar na imagem a seguir:

Nesse caso, os autores não calcularam uma correlação, mas optaram por encontrar a diferença média padronizada. No caso do delírio, o resultado é que pacientes que apresentam esse sintoma tendem a ficar 1.01 dia a mais, se comparado àqueles que não o possuem. Logo, esse é outro fator que impacta no tempo de estadia. Por fim, outras análises foram feitas no estudo, porém não iremos trazê-las aqui para não tornar o texto muito pesado.
Esse foi o texto dessa semana, espero que tenham gostado e que continuem nos acompanhando nas publicações semanais!
Referências
[1]https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0883944120306468
[2]https://saude-ibgedgc.hub.arcgis.com/datasets/2dfd385e7ded49c6b7f7929911806a20_0/data