Transição hormonal em transgêneros

Valenvesari
ARGO — Divulgação Científica
3 min readJul 2, 2024

Pessoas transgêneros são indivíduos que não se identificam com o gênero que lhe foi atribuído no momento do nascimento. Esses indivíduos podem identificar-se como homens, mulheres ou não-binários (nem gênero feminino e nem masculino). A compreensão e a aceitação dessa diversidade são fundamentais para promover o bem-estar e a inclusão social. Essas pessoas podem ou não passar por um processo de transição, que aborda vários fatores sociais, formando um leque complexo de possibilidades. As mudanças podem ser através do nome, roupas, aparência, costumes, pronomes e uma série de outras coisas, uma delas é baseada no tratamento hormonal.

No tratamento hormonal, há uso de medicamentos e é necessário acompanhamento médico. O processo de transição não tem uma idade fixa para começar e vai de acordo com a relação da pessoa consigo mesma. Caso a transição comece na adolescência, há uso de bloqueadores hormonais para evitar o desenvolvimento de características do sexo biológico do individuo, que são estimulados por hormônios como testosterona e estrogênio durante a puberdade. Esse tipo de medicamento pausa o processo de puberdade ao evitar a ação dos hormônios ou a secreção deles, proporcionando mais tempo para o adolescente entender mais sobre ele mesmo. Vale lembrar que é um tratamento que pode ser revertido dependendo da idade e tempo de uso.

A transição hormonal feminina envolve o uso de hormônios femininos, como o estradiol (grupo dos estrógenos), para promover o desenvolvimento de características sexuais secundárias femininas. Este processo está associado ao desenvolvimento de seios, redistribuição de gordura corporal e alterações na distribuição dos pelos corporais. O tratamento é feito com injeções à base de estradiol. Para pessoas acima de 40 anos, fumantes ou com problemas circulatórios é recomendado o uso de pílulas, géis e/ou adesivos de estradiol. Mas por que estrogênio e não progesterona, um outro hormônio feminino? O uso de progesterona aumenta o risco de trombose e também pode inibir a ação do estrogênio. Essa inibição pode causar o efeito reverso, provocando o crescimento de pelos faciais, mesmo com a redução da testosterona. O uso de estradiol, além de estimular características do sexo feminino, também atua inibindo a produção de testosterona no corpo do indivíduo através da retroalimentação negativa.

Na transição hormonal masculina, há o uso de testosterona para promover o desenvolvimento de características sexuais masculinas. O hormônio traz mudanças como o aumento da massa muscular, voz mais grossa, crescimento de pelos faciais e corporais, e masculinização dos ossos da face, além de cessar a menstruação. Para homens trans, geralmente é utilizada a testosterona via injeção intramuscular ou subcutânea a cada duas ou três semanas. Outros métodos também são disponibilizados, como comprimidos e adesivos ou géis de testosterona, que devem ser aplicados na pele diariamente.

A transição hormonal, seja feminina ou masculina, deve ser sempre realizada sob supervisão médica rigorosa. Endocrinologistas e profissionais de saúde monitoram cuidadosamente os níveis hormonais e ajustam as dosagens conforme necessário. As mudanças vêm em torno de 2 a 3 meses e a duração do processo todo é incerta: há pesquisas que dizem entre 3 e 5 anos e há quem diga que, para manter os efeitos causados pelos hormônios sexuais, é preciso levar o tratamento pelo resto da vida. Porém, se em algum momento a mulher trans realizar a remoção de seus testículos ou o homem trans de seus ovários, a dose de hormônios geralmente é reduzida após se fazer a cirurgia. Os profissionais da saúde também avaliam possíveis efeitos colaterais e riscos à saúde, garantindo que o processo seja seguro e eficaz. Além disso, vale lembrar que o uso de hormônios também é feito por pessoas cisgêneros (quem se identifica com o gênero atribuído ao nascimento) no caso de reposição hormonal.

Esse processo de transição, além do físico, também impacta na saúde mental e emocional de uma pessoa transgênero. A disforia de gênero, além do preconceito social, é um dos maiores males enfrentados por transgêneros, visto que é o sofrimento relacionado às incongruências entre o gênero e sexo. Estudos indicam que a terapia hormonal pode reduzir significativamente a disforia de gênero, ansiedade e depressão, além de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral.

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