Uso da Fototerapia no Tratamento de Radiodermite

Nessa publicação, iremos abordar a pesquisa sobre uso de fototerapia com LED no tratamento da radiodermite. O projeto a seguir foi realizado pela professora livre-docente doutora Cristina Pires Camargo da divisão de cirurgia plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em parceria com o grupo ARGO de inovação em saúde da Universidade de São Paulo e com patrocínio do Fundo Patrimonial Amigos da Poli.

Fonte da imagem: iStock

Destaques

  • Radiodermite é uma doença que acomete cerca de 90% dos pacientes de radioterapia, tratamento muito utilizado contra câncer.
  • Pesquisa de professora-doutora do Hospital das Clínicas, em parceria com estudantes da USP, busca avaliar a eficiência da fototerapia no tratamento de radiodermite.
  • O estudo mostrou que a terapia com LEDs foi eficiente no tratamento da radiodermite em ratos.
  • A associação simultânea de luz LED com comprimentos de comprimentos de onda de 630 nm e de 850 nm demostrou os melhores resultados.

Quando falamos sobre tratamento e cura do câncer, que é a segunda maior causa de morte no Brasil e no mundo, uma das terapias mais empregadas é a radioterapia, utilizada em cerca de 70% dos pacientes com diagnóstico de câncer. Ela consiste no uso de radiação eletromagnética, como raios X e raios gama, para destruir ou impedir o crescimento de células de um tumor. Apesar da ampla utilização devido a seus resultados positivos, a radioterapia tem efeitos colaterais negativos, a exemplo da Radiodermite, pois não elimina somente as células cancerígenas, mas também células saudáveis.

A radiodermite atinge cerca de 90% dos pacientes submetidos à radioterapia e consiste em alterações da pele induzidas pelo excesso de radiação incidente, tendo como sintomas eritema (vermelhidão da pele), descamação da pele, atrofia e fibrose crônicas, até necrose do tecido. Atualmente, não há tratamento efetivo e consolidado para evitar tais problemas. Nesse contexto, a professora doutora Cristina Pires Camargo — divisão de cirurgia plástica do Hospital das Clínicas — em parceira com o grupo ARGO realizou um estudo acerca do efeito das ondas emitidas por Diodo Emissor de Luz (LED) no tratamento de Radiodermite.[1]

Fototerapia e equipamento

A fototerapia fundamenta-se no uso de radiação eletromagnética da luz de Lasers e LEDs a fim de tratar tecidos biológicos. Para a realização do estudo em questão, o grupo ARGO desenvolveu um equipamento fotoemissor de LED constituído por uma disposição de luzes LED controladas por um microcontrolador, associada a uma interface de tela LCD para interação com o usuário. O equipamento permite sessões de 1 a 30 minutos de duração com luz vermelha (630 nm), infravermelha (850 nm) ou ambas, simultaneamente. Além disso, é possível a escolha do valor de irradiância (quantidade de energia por unidade de tempo em uma certa área) entre máximo, médio e mínimo, possibilitando ao usuário customizar a sessão de tratamento.

A escolha das fontes de luz e dos seus parâmetros foi baseada em estudos relacionados ao tratamento de feridas similares. Nestes são mostrados que os comprimentos de onda entre 600 nm e 700 nm interagem com o tecido superficial da pele, enquanto os que estão entre 780 nm e 1000 nm interagem com tecidos mais profundos. Dessa forma, o uso de ambos os comprimentos de onda, de forma simultânea, atingiria todas as camadas da pele, garantindo sua recuperação.

Testes em ratos

Para testar a eficiência da fototerapia no tratamento da radiodermite, foram realizados testes em 20 ratos Wistar machos. Todos os ratos passaram por uma sessão de radioterapia e foram, subsequentemente, divididos em 4 grupos, de acordo com o tipo de tratamento recebido:

  • grupo de controle, que não passou por fototerapia
  • grupo tratado com LED 630 nm
  • grupo tratado com LED 850 nm
  • grupo tratado com LED 630 nm e 850 nm, simultaneamente

Os grupos submetidos à fototerapia realizaram sessões de 6 minutos de duração em dias alternados por 21 dias e, ao final do período, passaram por eutanásia (ou seja, os ratos foram mortos de forma indolor e de acordo com protocolos de ética) para coleta de amostras de tecido e análise da radiodermite desenvolvida. Para realizar a análise nos animais, foi utilizada uma escala de 1 a 5.5, sendo 1 pele normal e 5.5 necrose do tecido.

Resultados

Tabela RTOG de classificação de radiodermite

Ao final da sessão de radioterapia (dia zero do estudo), os ratos foram classificados em grau 4.5 de radiodermite, o que indica descamação úmida e pequenas úlceras na pele. Após os 21 dias, foram realizadas análises micro e macroscópicas. Nos resultados macroscópicos, observou-se uma melhora evidente na radiodermite dos grupos expostos à fototerapia, em que estes passaram a ser classificados entre grau 2 (eritema moderado) e 2.5 (eritema associado à descamação seca) de radiodermite, enquanto o grupo de controle permaneceu com a classificação do dia zero. Por sua vez, os resultados microscópicos, no que consiste em quantidade de glândulas sebáceas e folículos capilares, bem como em densidade vascular, acompanham a mesma linha de progresso, tendo o grupo tratado com LED 630 nm e 850 nm, simultaneamente, melhor resultado, como pode ser observado nos gráficos abaixo:

Imagens retiradas do artigo original [1]. A figura à esquerda representa a contagem de apêndices dérmicos (glândulas sebáceas e folículos capilares) por grupo, e a figura à direita representa a análise da densidade vascular por grupo.

Conclusão

O estudo concluiu que a fototerapia com LED foi eficiente no tratamento da radiodermite em ratos, e os melhores resultados, tanto macro como microscópicos, foram obtidos com a associação de comprimentos de onda de 630 nm e 850 nm. Assim, os resultados da experiência se mostraram extremamente promissores e lançam esperança sobre um tratamento para a radiodermite, proporcionando melhora na qualidade de vida aos sobreviventes de diversos tipos de câncer submetidos à radioterapia.

Referências

[1] C.P. Camargo, H.A. Carvalho, R. Gemperli, C.L. Tabuse, P.H.G. Santos, L.A.O. Gonçales, C.L. Rego, B.M. Silva, M.H.A.S. Teixeira, Y.O. Feitosa, F.H.P. Videira, G.A. Campello (2020) Effect of Light Emitted by Diode as Treatment of Radiodermatitis

--

--