O importante papel da vacina na saúde em sociedade

Nessa publicação iremos abordar o que é a vacina e qual sua importância, além de elucidar como funciona o processo de produção do imunizante e discutir sobre a vacina da dengue em desenvolvimento no Instituto Butantan.

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Em meio à epidemia de COVID-19 que parou o mundo e produziu centenas de milhares de fatalidades, a busca por uma vacina capaz de conter o avanço da doença é prioridade global. O esforço internacional empregado na pesquisa e desenvolvimento do imunizante tem avançado em tempo recorde, de tal maneira que enquanto o processo de produção de uma vacina tradicionalmente dura em torno de 10 anos, estimativas realistas esperam campanhas de vacinação para o coronavírus já em 2021, menos de 2 anos desde o primeiro caso no mundo. [1]

Ao mesmo tempo, doenças consideradas erradicadas no Brasil há anos como difteria, poliomielite e rubéola ameaçam ressurgir no país devido à baixa taxa de vacinação da população, tendo o sarampo inclusive causado mortes em 2020, apesar de ser considerado erradicado em 2016. Parece contraditório: enquanto o mundo aposta na vacina para conter o coronavírus e cientistas brasileiros desenvolvem uma vacina contra a dengue capaz de reduzir consideravelmente a incidência da doença endêmica (que se manifesta com frequência em regiões específicas) no país, as taxas de imunização diminuem ao mesmo tempo que cresce a descrença sobre o método de prevenção de doenças. Afinal, o que é vacina e qual sua importância?

Vacina: O que é e de onde surgiu

A vacina é uma solução que possui agentes patogênicos (causadores de doenças, como vírus e bactérias) em sua forma atenuada, incapazes de provocar a enfermidade. Sua função é estimular a resposta imunológica do organismo e criar células de memória contra o agente inoculado (vírus ou bactéria introduzido no corpo), de forma que, em caso de contaminação real, a resposta do sistema imunológico da pessoa vacinada é muito mais rápida e eficaz e, consequentemente, a doença não chega a se desenvolver.

A importância da vacina como política de saúde pública se dá pelo efeito de proteção que pessoas imunizadas têm sob pessoas ainda suscetíveis à contaminação; é a chamada imunidade de rebanho:

“Quando quantidade suficiente de pessoas tem imunidade para atingir a imunidade de rebanho, a propagação da doença diminui (…) porque diminui a possibilidade de uma pessoa contagiável entrar em contato com uma pessoa infectada. O conceito fundamental a ser compreendido é que a população imune serve como barreira que impede que um transmissor da doença o infecte.” esclarece artigo postado no Jornal da USP.

O conceito de vacina é creditado de 1796 ao médico Edward Jenner. Observando que pessoas infectadas pela varíola bovina, versão mais branda e menos letal da varíola, não contraíam a varíola humana, o médico decidiu provar a relação. O teste consistia em contagiar pessoas com o vírus bovino e, meses após, infectá-las novamente, mas com o vírus da varíola humana, no que concluiu-se que os indivíduos tornavam-se realmente imunes à infecção da varíola.

Vacina moderna

Atualmente o método para produção e teste de vacinas é muito mais exigente, sendo necessário seguir parâmetros rigorosos de ética e de método científico para que o imunizante seja comercializado. Na produção da vacina a primeira etapa é a fase laboratorial, na qual os primeiros estudos acerca da enfermidade são realizados a fim de se identificar o agente causador da doença e encontrar a melhor forma de inativá-lo. Existem diversas formas de atingir esse primeiro objetivo: o vírus pode ser utilizado em sua forma fragmentada, modificada geneticamente, inativada a partir de um produto químico ou pode-se utilizar ainda vírus manipulados em laboratório, entre outras opções [2]. Nessa etapa são realizados estudos in vitro (no ambiente controlado e fechado de um laboratório) com dezenas a centenas de opções para se avaliar quais as candidatas mais promissoras.

Em seguida as candidatas à vacina avançam para a fase pré-clínica, onde são realizados testes em animais que confirmam ou refutam os estudos da fase anterior. Usualmente mais de um imunizante é testado ao mesmo tempo, pois dois terços das candidatas não chegam às etapas finais [1]. Se comprovada a eficácia, a vacina segue para a fase clínica, onde são administrados testes em voluntários humanos que são divididos em dois grupos: o grupo de teste, que recebe o imunizante, e o grupo de controle, que recebe placebo (solução “de mentira”, sem o ingrediente ativo em estudo). O estudo segue em ensaio duplo-cego, ou seja, nenhum dos grupos sabe o que recebeu. Essa fase prevê 3 etapas:

Fase 1: a vacina é aplicada em um pequeno grupo de voluntários fora do grupo de risco. O objetivo dessa fase é demonstrar que o produto é seguro e eficaz.

Fase 2: teste em um grupo maior, incluindo pessoas do grupo de risco, para mostrar qual o mecanismo imunológico que as pessoas desenvolvem quando recebem a vacina para se tornarem protegidas.

Fase 3: teste em larga escala envolvendo milhares de voluntários para garantir a eficácia da vacina em condições naturais de propagação da doença, além de garantir a segurança. Nessa fase tem-se o monitoramento dos voluntários por um período prolongado de alguns anos para se observar a ocorrência de efeitos colaterais tardios e a eficiência do imunizante a longo prazo. A fase 3 pode ter duração encurtada para 12 meses no caso de vacinas de caráter emergencial, como ocorre com o coronavírus atualmente. Somente após a conclusão da terceira fase a vacina recebe registro para ser produzida em larga escala.[2][3]

Fonte: Correio, disponível em: https://glo.bo/2y4cZLG

Vacina contra a dengue

Atualmente encontra-se em fase final de testes uma vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. Já existe uma vacina no mercado contra a doença, porém é somente aplicada em pessoas que já contraíram um dos quatro tipos dengue e possui eficácia de 60%. A novidade do imunizante brasileiro é que é quadrivalente, ou seja, protege contra as quatro formas do vírus com uma única dose, e induz resposta imune tanto em pessoas que nunca tiveram a doença quanto nas que nunca contraíram.[4]

A vacina ainda inova ao utilizar a tecnologia totalmente brasileira de liofilização do preparado, ou seja, transformação do líquido em pó. Essa tecnologia torna viável o armazenamento e distribuição do imunizante, que pode ser armazenado em refrigeradores comuns, enquanto o preparado líquido necessita de refrigeração a -70ºC.

Abaixo segue o vídeo acerca da vacina contra a dengue do Instituto Butantan:

Fontes:

[1] Única brasileira em comitê de vacinas da OMS diz que o mundo trabalha em cooperação sem precedente para desenvolver um imunizante em tempo recorde https://revistapesquisa.fapesp.br/cristiana-toscano-esforco-global-inedito-2/

[2] Entenda como funciona o processo de desenvolvimento de uma vacina https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,entenda-como-funciona-o-processo-de-desenvolvimento-de-uma-vacina,70003263247

[3]Vacina testada no Brasil pode ter registro liberado em junho https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/15/vacina-contra-covid-19-testada-no-brasil-pode-ter-registro-liberado-em-junho-de-2021-diz-reitora-da-unifesp.ghtml

[4]Com tecnologia totalmente brasileira, vacina da dengue chega à última fase de testes https://jornal.usp.br/ciencias/com-tecnologia-totalmente-brasileira-vacina-da-dengue-chega-a-ultima-fase-de-testes/

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