O que são as variantes do coronavírus e por que devemos nos preocupar?

O que são as variantes do coronavírus? Por que existe tanta preocupação em relação a elas? As vacinas ainda são eficazes? Por que há tantas variantes surgindo no Brasil? Nessa publicação iremos responder essas perguntas e sanar algumas das dúvidas mais comuns quando tratamos de “mutações do coronavírus”.

--

Imagem: Brain light/Alamy

Destaques

• Variantes do coronavírus são versões mutadas do vírus original que podem apresentar diferentes características em relação a ele;

• Muitas das variantes surgiram no Brasil, incluindo a variante P.1, que apresenta maior transmissão e menor resposta a imunidade prévia;

• Atualmente existem 3 variantes de maior preocupação, as quais surgiram no Brasil, Reino Unido e África do Sul;

• Estudos para avaliar a eficácia das vacinas atuais contra as variantes ainda estão em andamento, mas até então não houve resultados negativos.

O que são?

Quando falamos de coronavírus, estamos nos referindo ao vírus que transmite a “Covid-19”, sigla para “COrona VIrus Disease” ou “Doença do Coronavírus”. Como todo vírus, ele está sujeito a sofrer mutações, fenômeno que ocorre durante sua multiplicação no organismo e que lhe traz novas características (maléficas ou benéficas), podendo tanto matá-lo quanto torna-lo mais resistente ou mais infeccioso. Quando essas mutações passam para outras gerações de vírus, temos uma variante do vírus original. [1]

Quando temos diversas variantes que se originaram de um mesmo vírus ancestral comum, como por exemplo as variantes originadas no Brasil, chamamos isso de linhagem do vírus. Já cepa é o nome utilizado para descrever um grupo de variantes que se comportam da mesma forma e diferem do vírus ancestral. Uma cepa pode se originar de variantes de uma mesma linhagem ou de linhagens diferentes — o que importa é o comportamento dos vírus.[2]

Por que devemos nos preocupar?

O aparecimento de novas variantes do coronavírus já era esperado pela comunidade científica, pois, como mencionado, é um fenômeno natural que ocorre em qualquer vírus. A preocupação se deve não à novidade, mas às novas características trazidas por essas mutações: o receio é que possam surgir novas variantes mais infecciosas, mais letais ou resistentes às vacinas por exemplo, receios dos quais alguns já se mostram realidade, como explica Flávio Guimarães, pesquisador do Departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)[1]:

“Uma das mutações benéficas para o coronavírus, por exemplo, permite que ele se ligue mais fortemente ao receptor celular que usa para entrar na célula da pessoa infectada. Outra faz com que os anticorpos gerados contra ele não se liguem com tanta eficiência à sua superfície, tornando-o mais perigoso para nós”

A variação mencionada já foi encontrada em diversos países, incluindo o Brasil, o que traz mais uma pergunta:

Por que tantas variantes surgiram no Brasil?

Ultimamente, tem se falado muito sobre variantes brasileiras do vírus, motivo pelo qual diversos países fecharam as fronteiras com o Brasil. O grande número de variantes no país se deve às condições favoráveis que o vírus encontra aqui para sua proliferação: grande número de casos, desrespeito às medidas que evitam a disseminação da doença, como isolamento e uso de máscara, falta de acompanhamento das mutações e vacinação lenta [3]. A soma de todos esses fatores favorece que mutações do vírus possam se propagar livremente e até de se estabelecer como dominantes, como é o caso das linhagem P.1, originada no Amazonas, e P.2, originada no Rio de Janeiro [5]. Podemos observar tal fenômeno no gráfico abaixo:

Frequência de cada linhagem no coronavírus no Brasil. Gráfico retirado de [4].

Pelo gráfico, é possível observar que as linhagens P.1 e P.2 somadas já representam pelo menos 80% do vírus em circulação no Brasil. A linhagem P.1 é mais preocupante, pois apresenta mutações que conferem aumento de transmissibilidade e maior capacidade de escapar da ligação de anticorpos gerados por uma infecção prévia ou por vacinação. Apesar do receio, resultados preliminares de um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com participação da USP mostraram que a Coronavac, desenvolvida no Butantan, se mostra eficaz contra essa variante [6], o que só reforça a necessidade de se vacinar o quanto antes a população. (Entenda mais sobre o impacto da vacinação em curvas epidemiológicas em nossa publicação).

Além das variantes brasileiras, outras 2 preocupam os cientistas: A variante B.1.1.7, identificada no Reino Unido, e a 501Y.V2 (ou B.1351), encontrada na África do Sul. Ambas possuem a mutação N501Y, assim como a P1 brasileira, mutação responsável por aumentar a transmissão do vírus. Somente a variante Sul Africana e a brasileira possuem a mutação E484K, que reduz a resposta imunológica prévia [2].

Fig. 2: Tabela sobre variantes mais perigosas

É incerto se todas as vacinas sendo produzidas atualmente são eficientes contra as variantes que surgiram recentemente. Existem vários estudos em andamento para identificar essa questão, e até então os resultados foram positivos e as vacinas continuam eficazes. No entanto, existe a possibilidade de surgirem novas variantes resistentes às vacinas atuais, o que configuraria um novo desafio no embate global à Covid-19.

Referências

[1] https://www.uol.com.br/vivabem/faq/tire-duvidas-sobre-as-variantes-do-coronavirus.htm

[2] https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/29/mutacao-variante-cepa-e-linhagem-entenda-o-que-significam-os-termos-ligados-a-evolucao-do-coronavirus.ghtml

[3] https://saude.abril.com.br/medicina/brasil-um-possivel-celeiro-de-novas-variantes-do-coronavirus/

[4] https://canaltech.com.br/saude/quais-sao-as-principais-variantes-do-coronavirus-no-brasil-181183/

[5] https://www.canalsaude.fiocruz.br/noticias/noticiaAberta/nova-variante-do-sars-cov-2-e-identificada-no-brasil16032021

[6] https://jornal.usp.br/ciencias/primeira-dose-da-coronavac-e-eficaz-contra-variante-p-1-do-coronavirus-mostra-estudo-feito-em-manaus/

--

--