Epitáfio… de uma relação Filha x Pai

Marina Batista
Do Nada e De Tudo!
Published in
3 min readApr 27, 2009

A nossa história a gente escreve, mas não sozinhos. Existem os co-autores e colaboradores pra nos ajudar com o desenrolar da trama. Traduzindo, família e amigos. Mas ainda assim, somos nós que tomamos essa ou aquela decisão. Diria Sérgio Britto: “A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier”. E é assim que vejo, friamente, minha relação com meu pai.
Ele nunca foi presente, nem quando convivíamos sob o mesmo teto. E tal convivência se deu até meus 10 anos. Pra mim, a questão separação não era novidade. Na escola, 70% dos colegas de sala tinham pais separados e mantinham relações saudáveis com seus pais. Aliás, pela ingenuidade, viam até certas vantagens que só crianças enxergam: duas casas, passeios e mimos em dobro, além das comemorações também em dobro. Mas meu caso não foi esse.
Cresci com raras visitas e contatos, por opção dele. Não entrarei nos detalhes sobre meus problemas com meu Pai. Esses só dizem respeito a mim, a quem passou por tudo comigo e aos amigos com os quais ao longo da vida confidenciei minhas tristezas, frustrações e esperanças em relação a ele.
O fato é que com as escolhas que fez, ele foi escrevendo o caminho até a morte de nossas relações como Pai e Filha. Como ser humano, não cabe a mim julgar seus motivos. Esses, eu realmente nunca entendi. Sofri repetidamente e incessantemente com suas escolhas e sim, sofro até hoje. Mas pra amenizar isso tudo, para mim (claro!), resolvi que seria minha a responsabilidade de ESCOLHER parar de sofrer por querer que tivessemos uma relação quando notóriamente isso já não era possível. Dei o golpe final e cortei totalmente o contato. Precisava mesmo curar minhas feridas.
Quando meu primo faleceu ano passado, houve a proposta de retomarmos o contato de forma clara, limpa e adulta. Mas isso não era nenhuma novidade. Inumeras foram as vezes que aceitei uma proposta como essa e nada, nada mesmo, em suas atitudes mudou. Novidade seria uma mudança de comportamento dele.
Mas quem tem consciencia de que a fumaça de cigarro é altamente nociva a saude de sua filha e não titubeia antes de acende-lo ao seu lado no espaço mínimo de um carro é totalmente incapaz de mudar. Meu aniversário foi pouco depois da tal proposta e quando minha Vó ligou para me parabenizar ele estava ao seu lado. Quem quer reaproximação, no mínimo, por educação ou consideração pediria p/ falar comigo ou ao menos mandaria parabéns, certo? Pois tal consideração e educação inexistiram e do outro lado da linha transpareceu uma mãe e avó sem graça pelo gélido “não, não quero falar nada”. Eu poderia ter feito o maior estardalhaço no telefone, mas na altura do campeonato eu já estava calejada e se o fizesse, não seria quem sou.

Sábado, véspera de Pascoa, almoçando com minha vó paterna, descubro que naquela semana ele havia sido internado. Obesidade + Fumo + Bebida — Exercícios = duas obstruções no coração devidamente removidas. Data de alta? Dia seguinte.
Eu iria ao hospital, SE tivessem me avisado. MAS não avisaram. Respeito ele e tenho senso de humanidade, por mais que eu já tenha passado por muita coisa (como definiu o sapinho com quem desabafei) por conta dele, eu nunca desejei mal ou quis dar um murro na cara dele (como comentou minha amiga L.). Eu teria deixado de lado as rusgas, e não iria vê-lo como Pai. Mas como alguém que participou e tem importância na minha vida. TINHAM SIM QUE TER ME AVISADO. Sou filha ou não sou?
A sensação que ficou depois disso foi muito ruim. E agora vocês vão saber a dúvida que me consumiu por alguns dias:

Ele pediu pra não nos avisarem ou TODA a família (e isso inclui a Tia que pediu que eu ouvisse atentamente a proposta de reaproximação) ESQUECEU que existimos???

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Marina Batista
Do Nada e De Tudo!

Disponível nas versões: docinho de coco e pittbull. Felicidade é uma porção de batata frita com requeijão. Tão linda e na cadeira de rodas ™.