‘É a chance que temos de realmente salvar a vida de alguém’, diz doadora de medula óssea

Em 2017, Bruna entrou para as estatísticas após doar a medula e tornou-se uma das 5.147.219 pessoas cadastradas no Redome

ana
doareviver
4 min readMay 19, 2020

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Bruna e a mãe, Jane / Arquivo pessoal

E se você pudesse escolher em qual estatística quer estar? Os números, dependendo do contexto em que aparecem, assustam. Há, no entanto, dados que surgem como sinal de esperança. Bruna Duarte Calegari entrou para as estatísticas quando foi uma das 5.423 pessoas que realizaram cadastro no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), em Santa Catarina, de acordo com dados divulgados pelo órgão em 2017, ano em que a instituição, coordenada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), apresentou o menor número de cadastros nos últimos sete anos. Neste mesmo ano, a medula de Bruna foi responsável por amenizar a leucemia, que desde fevereiro de 2013 obriga sua mãe a viver uma série de tratamentos.

Fonte: Redome

Após o susto recebido junto ao diagnóstico, Bruna acompanha de perto a rotina da mãe, Jane Calegari, que, entre outras coisas, precisou passar por internações, exames e quimioterapia, procedimentos que foram realizados no Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepom), de Florianópolis. Em geral, a leucemia, doença maligna dos glóbulos brancos que tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, tem pelo menos dois tratamentos principais, pelos quais a mãe de Bruna passou.

Em 2015, a quimioterapia foi responsável por zerar a leucemia de Jane. Um ano depois, no entanto, a doença voltou e evidenciou a necessidade do retorno das intervenções médicas. O recomeço do tratamento, porém se deu com mais intensidade e foi esse o estopim para que Bruna e a mãe fossem encaminhadas para o Hospital de Amor — conhecido como Hospital do Câncer de Barretos, onde estudaram a possibilidade de realizar o transplante de medula óssea.

Hoje, o Redome contabiliza 5.147.219 cadastros e uma média de 850 pessoas na lista de espera por um doador não aparentado, ou seja, de um doador desconhecido. O contrário do que ocorreu com Jane, que recebeu a medula de um doador aparentado, neste caso, sua filha. Ainda que a compatibilidade entre elas não fosse de 100%, Bruna não hesitou e ambas decidiram tentar. “Logo no início do tratamento fizeram as coletas com os quatro irmãos da minha mãe e eles eram compatíveis entre eles, mas não com a minha mãe. Minha compatibilidade era de 50%, então no início optaram pelo tratamento apenas com quimioterapia ou até que surgisse uma outra possibilidade de transplante não aparentado”.

O gesto

O período de estudo, que responderia se Bruna poderia ou não doar para a mãe, mesmo com apenas 50% de probabilidade, foi marcado por exames. A jovem, na época com 21 anos, passou dois dias no hospital e teve a sua saúde testada, a fim de obter a comprovação necessária para efetuar a doação de medula óssea. Em seguida, com a liberação da filha para o procedimento, Jane iniciou um tratamento preparatório que durou um mês.

Com assistência total do SUS, sistema público de saúde brasileiro, Bruna e a mãe foram para Barretos sem nenhum custo, mas não só isso. “Todo o tratamento foi feito pelo SUS, nossos únicos gastos são os de ida e volta para Florianópolis. Fora isso, não tivemos gasto nenhum. Mesmo nossas idas pra Barretos eram parte do Tratamento Fora de Domicílio”, explica. Lá, a doadora tomou um medicamento por três dias e fez a retirada de uma bolsa de sangue, que serviria para ela, caso houvesse necessidade durante o transplante. “Só dei entrada no hospital no dia do transplante, fiz um exame de manhã e à tarde fui para sala de cirurgia. Dormi no hospital e no dia seguinte ao transplante já fui liberada para pegar o voo de volta para casa, com apenas o local do transplante dolorido, mas era uma dor quase nula, que só aparecia se encostasse”, conta ela.

Imagem ilustrativa que representa um procedimento de transplante de medula óssea / Fonte: Divulgação

Apesar da anestesia geral, questão que causa insegurança e assusta muita gente, de acordo com Bruna, o procedimento é seguro e traz uma nova perspectiva para o receptor. “É um procedimento super tranquilo e, na maioria das vezes, a única possibilidade de cura de um paciente. É a chance que temos de realmente salvar a vida alguém”, afirma a designer. Carregada por sua própria experiência, Bruna indica o gesto para todos. Além disso, afirma a possibilidade de uma nova doação no futuro — caso seja notificada. “Tanto que meus dados continuam no Redome e não penso em retirar”.

Jane também apresentou uma boa recuperação após o transplante. Por alguns meses, a doença se estabilizou. Contudo, em 2019, a leucemia voltou a aparecer. Um risco raro no procedimento, mas existente pelo índice de compatibilidade entre elas. “Agora ela continua com o tratamento de quimioterapia e com a doença quase nula, mas os médicos ainda estudam uma nova possibilidade de transplante com um dos irmãos dela”, conta Bruna.

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