“Construindo pontes”

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3 min readMar 22, 2021

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Uma narrativa sobre relações

Frame do filme “Construindo pontes”, de Heloísa Passos.

Em uma entrevista para a abcine.org.br (https://abcine.org.br/site/construindo-pontes-entrevista-com-heloisa-passos-abc/), Heloísa conta sobre a primeira vez em que seu pai assistiu ao seu documentário “Construindo pontes”. Ao final ele disse:

“Achei que você não ia conseguir, achei que o filme ia ficar chato. Você conseguiu. Esse filme não deveria ser taxado como um documentário, ele é uma história familiar. Não tem perdedor, nem ganhador. Pode mostrar para quem você quiser. Esse filme é uma passagem”.

Sim, seu Álvaro, esse filme é uma passagem e nela vejo uma narrativa onde a mensagem que ficou em mim é de que o tempo vai tatuando aquilo que é, ou que não é, que não vai mudar, ou que pode mudar, vai ressignificando a nossa história e rompendo o afeto que podemos ter nas nossas relações. É conflito mas é mais. É uma passagem para algo melhor.

Não pude deixar de pensar no meu pai, também engenheiro. Também tranquilo. Também ouvinte. Também diferente de mim em muitos aspectos, em outros nada.

O ponto de partida para Heloísa realizar o documentário foi um presente de uma coleção de rolinhos super 8 com imagens das 7 quedas, cachoeiras na fronteira do Brasil com o Paraguai. Assim ela deu vida a esse filme com intuito político mas que no desenvolver cunhou outra natureza. Em livre transcrição feita por mim ela narra sobre a destruição das 7 quedas:

“No dia 20 de outubro de 1978, auge da Ditadura Civil Militar no Brasil, 58 toneladas de dinamites explodiram no rio Paraná, mudando seu curso definitivamente. Com a subida das águas, as 7 quedas desapareceram, foram inundadas para a construção da maior usina hidrelétrica do mundo, Itaipu. (…) A Argentina tentou impedir z construção da usina, argumentando que Itaipu poderia ser usada como uma arma, uma bomba que alagaria parte importante do país. Disso quase ninguém fala. Nas ditaduras muita coisa não é falada. Nas famílias também.”

Uma analogia com perdas, apagamentos, fragmentações.

“Construindo pontes” é uma poesia e recomendo muito. Para hoje, ontem, amanhã. Polarização não é de hoje, não é só política, mas inclusive, e seja você quem for, se deseja construir relações duradouras há de se construir. E que sejam pontes, não muros.

Volto ao meu pai, Marcos, e ao seu Álvaro. Em uma cena de sua filha ainda criança, nadando, um pouco desajeitada, ele conclui:

“O mesmo defeito que você tinha pra nadar, eu tenho. Eu nado bem mas eu não deslizo na água, eu faço força.”

Frame do filme “Construindo pontes”, de Heloísa Passos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/04/em-construindo-pontes-cineasta-investiga-posicoes-da-propria-familia-na-ditadura-militar.shtml

*Escrito por Cíntia Ferreira, graduanda em Arte Visuais pela UERJ, pós-graduada em Fotografia e Imagem pela IUPERJ -UCAM e membro da Sociedade Fluminense de Fotografia. Também criadora do blog https://medium.com/@amulherdepreto

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