ELENA

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3 min readJul 29, 2021

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um documentário de Petra Costa e Carolina Ziskind

Capa do documentário “Elena”. Disponível em: https://cinemaemcena.com.br/critica/filme/5835/elena.

Dias 10 e 15 de setembro são respectivamente: Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e Dia Nacional de Prevenção e Combate à Depressão. E “Elena” é uma narrativa tocante, triste e poética de uma vida e das demais que a rodeiam, e que vivenciaram a depressão.

A diretora Petra Costa, que também dirigiu “Democracia em vertigem”, conta em “Elena” a história de vida de sua irmã, sob três pontos de vistas: o seu, o de sua mãe e de Elena. Ela usa a apropriação de imagens, vídeos, áudios e também da criação de novos. Não sinto aqui a necessidade de escrever muito sobre, talvez por ter me sensibilizado muito, talvez pelos impactos que a pandemia causou em nossas saúdes mentais. Talvez por não precisar. Talvez por não querer, mas querer colocá-lo aqui.

Petra inicia com a sua fala:

“Elena, sonhei com você essa noite. Você era suave, andava pelas ruas de Nova York com uma blusa de seda. Procuro chegar perto, encostar, sentir seu cheiro, mas quando vejo você tá em cima de um muro, enroscado num emaranhado de fios elétricos. Olho de novo, e vejo que sou eu que to em cima de um muro. Eu mexo nos fios, buscando tomar um choque e caio… do muro bem alto. E morro.”

Elena gostava de enviar áudios a sua família para contar sobre suas vivências e sentimentos, e é impossível não sentir a sua dor.

“10 de setembro.

Minha garganta tá machucada, sempre teve, não só por causa dos gelados, vento, frio, tensão, ansiedade, mas principalmente a consciência do medo, da falta de amor por mim, pela minha voz. Talvez eu precise de uma terapia especial, para me destraumatizar e tirar esse rolo de fios, no peito e na garganta, que antes não me deixavam respirar e agora não me deixam falar, nem cantar. […]

Será que a minha raiz vai conseguir arrebentar asfalto, canos e prédios pra conseguir sobreviver e gerar frutos? Sim. Se a minha raiz fosse forte, grande. Mas sinto que a minha semente nem chegou a brotar direito ainda. Então, provavelmente, em uma cidade, ela, se brotasse, miúda e doente viveria.”

Gostaria de poder confortá-la e dizer que tudo vai melhorar, mas hoje a depressão é considerada um mal do mundo contemporâneo, e para nós mulheres os danos psicológicos e pressões ao longo da vida são ainda mais incontáveis. Lembro-me de uma performance que assisti chamada “Ossos”, com Maurício Lima, onde ele, o personagem principal, fazia uma reflexão sobre e após a sua própria morte, e o que não me esqueço são das suas palavras finais: “[…] depois da queda eu pensei em amor”.

“Elena” se despede com a música de Maggie Clifford: “I turn to water”.

Cena do documentário ‘Elena’ dirigido pela brasileira Petra Costa. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/08/cultura/1412790965_294885.html
  • Escrito por Cíntia Ferreira, graduanda em Arte Visuais pela UERJ, pós-graduada em Fotografia e Imagem pela IUPERJ-UCAM e membro da Sociedade Fluminense de Fotografia. Também criadora do blog https://medium.com/@amulherdepreto

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