“Vou rifar meu coração” ?

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3 min readJun 23, 2021

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Capa do documentário “Vou rifar meu coração”. Disponível em : https://vejasp.abril.com.br/atracao/vou-rifar-meu-coracao/

Para esses tempos tristes e angustiantes, escolhi uma produção que abordasse sentimentos e que pudesse nos fazer esquecer, nem que fosse por menos do que duas horas, a realidade em que estamos vivendo.

“Vou rifar meu coração” é uma obra dirigida por Ana Rieper, com participação de nomes da música romântica, ou dita brega, brasileira: Agnaldo Timóteo, Amado Batista, Lindomar Castilho, Elvis Pires, Nelson Ned, Odair José, Rodrigo Mell, Walter de Afogados e Wando. É uma viagem musical, onde a escolha da trilha sonora ao longo do filme foi pensada para funcionar como principal elemento narrativo e discursivo.

E assim é a estrutura de “Vou rifar meu coração”:

“Moça”

“Eu também sou sentimental”

“Folha seca”

“Eu vou rifar meu coração”

“O julgamento”

“Cara de santa”

“Princesa”

“Sonhos”

“Não tenho culpa de ser triste”

“Quem eu quero não me quer”

“Te amo de verdade”

“Vou tirar você deste lugar”

“Baby”

“Deslizes”

“O garanhão”

“Morango do Nordeste”

“Chupa que é de uva”

“O que pensa que eu sou”

“Perdido na noite”

“Tortura de amor”

“Te amo de verdade”

“Contigo na cabeça”

Como mulher e feminista, me incomodei com discursos e letras perceptivelmente misóginas, mais ainda com a história de vida de Lindomar Castilho. Mas essa ainda é a nossa realidade, então também é necessário ser debatido e documentado o ponto de vista de homens dessa geração e de outras. Eu acredito no caminho, da liberdade da fala e troca de pontos de vistas, para conseguirmos avançar para relações menos opressoras e preconceituosas. Mas ainda sim o documentário é muito bonito e tocante, e partindo para o “copo meio cheio”, o que me surpreendeu foram as falas e os relatos de alguns dos entrevistados. O amor, o afeto, o respeito e a humildade de alguns dos homens ao se retratar à uma mulher. O primeiro depoimento é de um funcionário de um posto de gasolina.

“Eu nunca deixei ela em casa. Assim, final de semana não. Nós saía, nós namorava, a gente passeava na areia. Aquilo era a maior felicidade do mundo. A minha esposa era minha companheira, minha amiga, minha namorada e minha esposa. Eu pensei de nunca acabar né? Mas acabou. Acabou.”

Senti a dor desse senhor e achei tão bonita a forma dele falar, ele narrou um pouco mais do que aconteceu. E aí eu pensei nessa mulher e imaginei como teria sido o relacionamento deles. A chamei de Maria. Por um momento eu senti a coragem da Maria e pensei em tantas mulheres que hoje conseguem abandonar uma vida que já não lhes cabem mais. Não precisa de explicação. Motivos. Geralmente há muitos nos quais não há mais desejo de reparação. Ela não quer mais. Felizmente vemos cada vez mais Marias. Maria não sorteia seu coração, ela escolhe quem fará parte dele.

*Escrito por Cíntia Ferreira, graduanda em Arte Visuais pela UERJ, pós-graduada em Fotografia e Imagem pela IUPERJ -UCAM e membro da Sociedade Fluminense de Fotografia. Também criadora do blog https://medium.com/@amulherdepreto

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