A situação no campo de Moria:

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3 min readOct 4, 2020

— Vivem no campo de Moria 19.184 Pessoas (dados de 15 de janeiro). Dezanove mil cento e oitenta e quatro Pessoas num campo com capacidade para 3100. Mais de metade são famílias.

Aris Messinis

1049 são menores desacompanhados. Mil e quarenta e nove crianças e jovens sem acompanhamento de qualquer adulto.

— A tensão do campo leva a que frequentemente aconteçam cenários de violência. Há dias, um jovem foi esfaqueado e deu entrada nos serviços médicos com os intestinos de fora. Está nos cuidados intensivos, em risco de vida. Em setembro, um menor matou outro.

Giorgos Moutafis

Ao Expresso, o Raul Manarte, psicólogo da BRF, conta: “Nos últimos cinco dias atendi seis pessoas que tinham sido esfaqueadas. Hoje é tudo mais violento. Atendo muito mais gente vítima de violência. O ambiente está bem mais tenso e a qualquer estímulo as pessoas disparam. Reagem.”

“Apresentam sintomas depressivos e traumáticos muito intensos e disruptivos. Mostram-me os dedos amputados pelo Daesh, contam-me como viram os familiares a serem degolados no Afeganistão.”

Há violações. As mulheres usam fraldas durante a noite para evitarem idas ao WC e o medo de agressões sexuais.

— A escassez de condições e recursos de um campo construído para 3100 Pessoas leva a um estado de tensão permanente, que conduz a homicídios. Em janeiro, duas Pessoas foram assassinadas. Os cuidados de saúde em toda a ilha estão limitados a situações de emergência.

Num contentor que devia alojar apenas uma família, vivem duas dezenas de pessoas. Ainda assim, estes contentores não chegam para a toda gente e está um grande número de Pessoas a viver em tendas de campismo onde chove. É comum que os problemas de esgotos inundem e atinjam as tendas.

— As respostas aos pedidos de asilo demoram mais de 2 anos a chegar. Sem a resposta, ninguém pode abandonar o campo.

Esta semana, as condições deploráveis do campo levaram a protestos no centro da cidade de Mitilene, em Lesbos. A polícia reagiu, carregando sobre os protestantes e ignorando as crianças que integravam o grupo.

— Perante isto, o Governo Grego mandou erguer uma muralha flutuante no mar Egeu para impedir que os barcos atravessem da Turquia para as Ilhas Gregas.

Aris Messinis

Chegamos ao tempo em que escolhemos os muros como solução. Moria abriu em 2015. Fica na Grécia, país de entrada de milhares de pessoas na Europa. Nenhuma daquelas pessoas escolheu ali estar. As condições em que sobrevivem não são uma inviabilidade, são uma escolha política.

O acolhimento temporário das milhares de pessoas que atravessam o mar podia ser outro e isto é uma responsabilidade nossa.

16 de Março de 2020

Aris Messinis

📸: As fotografias são de Giorgos Moutafis para a Reuters e de Aris Messinis para o Getty Images.

📋: Texto de Isabel Martins da Silva e Pedro Amaro Santos.

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