Centenas de migrantes abandonados no mar pelas autoridades gregas

As autoridades gregas deportaram ilegalmente migrantes das ilhas do Mar Egeu, colocando-os em barcos de resgate e deixando-os à deriva no mar. A notícia é apontada por um relatório da Just Security, um fórum jurídico legado à Universidade de Nova York e pelo artigo publicado pelo The New York Times.

Pedro Amaro Santos
documentar a urgência
3 min readAug 20, 2020

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📷 Najma al-Khatib após ser resgatado a 27 de julho em águas territoriais turcas. Fotografia disponibilizada pela Guarda Costeira turca.

Os relatos indicam que migrantes foram forçados a entrar em botes salva-vidas deixados à deriva na fronteira entre as águas turcas e gregas e outros deixados à deriva nos seus próprios barcos depois das autoridades gregas desligaram seus motores, até serem localizados e resgatados pela Guarda Costeira turca.

Segundo o artigo do The New York Times, o governo grego expulsou secretamente pelo menos 1.072 pessoas refugiadas do seu território nos últimos meses, em pelo menos 31 momentos diferentes, conduzindo muitos deles até ao limite das águas gregas e abandonando-os em botes salva-vidas infláveis ​​e às vezes sobrecarregados.

As conclusões do The New York Times fundamentam-se em dados de dois vigilantes em investigação académica e da Guarda Costeira turca, sendo reforçadas por evidências fotográficas e de vídeo dos 31 momentos e pela entrevista a sobreviventes de cinco desses episódios.

— Najma al-Khatib, uma professora síria de 50 anos, tentou chegar à Grécia com a família de barco. Depois de duas tentativas fracassadas, chegou à ilha grega de Rodhes no passado dia 23 de julho. Depois de alguns dias detidos num centro de detenção na ilha, as autoridades gregas levaram-na com outras 22 pessoas, incluindo dois bebés, para os abandonarem num bote salva-vidas sem leme e sem motor. Foram resgatados pela Guarda Costeira turca.

— Al-Katib tentou atravessar da Turquia para a Grécia uma 4ª vez, a 6 de agosto, mas o barco onde seguia foi detido na ilha de Lesbos por autoridades gregas, que lhe retiraram o combustível e o levaram de volta às águas turcas.

📷 Fotografia alegadamente tirada no porto de Lesvos, Grécia, a 24 de março de 2020. Fonte confidencial fornecida ao The New York Times pelo Aegean Boat Report.

O governo grego negou qualquer ilegalidade: “As autoridades gregas não se envolvem em atividades clandestinas ‘’, disse um porta-voz do governo.

A conduta grega viola os princípios de Direito Internacional a que o Estado Grego está vinculado. São proibidas as expulsões coletivas de estrangeiros, sem uma análise prévia individualizada da situação pessoal de cada indivíduo — tem que ser assegurado o direito de requerer asilo a cada pessoa.

“Fugi da Síria com medo das bombas que caiam — mas agora que isto me aconteceu, preferia ter morrido nos bombardeamentos.”, Al-Katib confessou ao The New York Times.

Outras histórias relatadas aqui: https://tinyurl.com/migrants-abandoning-sea

A Comissão Europeia disse que está preocupada com as acusações, mas não tem poder para investigá-las.

Alguns dados sobre a contextualização sobre o aumento das tensões entre a Grécia e a Turquia podem ser lidas neste artigo da MEERU: https://tinyurl.com/urgencia-na-grecia

📷 Migrantes sendo resgatados de um bote salva-vidas no Mar Egeu a 27 de março. Retirada do site oficial do Comando da Guarda Costeira da Turquia.

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Pedro Amaro Santos
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Acredito no poder do diálogo intercultural como meio de promoção da consciencialização, da compreensão, da reconciliação e da tolerância.