Moria, 2 meses depois

A companheira de caminho Lokas Cruz regressou de Lesbos e traz-nos à memória aquilo que não pode, em momento nenhum, ser esquecido.

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3 min readNov 15, 2020

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— Na madrugada de 9 de setembro, o maior campo de refugiados da Europa, na ilha grega de #Lesbos, ficou totalmente destruído depois de dois incêndios. Cerca de 12 mil pessoas ficaram desalojadas, numa situação de ainda maior vulnerabilidade, nas ruas, parques de estacionamento, zonas de floresta e praias da ilha. Quase de imediato, um novo campo foi construído pelo #UNHCR com o apoio do governo grego num antigo campo de tiro militar.

— Este campo está situado junto ao mar e as condições são piores do que no campo destruído pelas chamas: não existe água corrente; as casas de banho são insuficientes para assegurar as necessidades básicas de todas as pessoas e não existem infraestruturas para se tomar banho, sendo o mar a opção que resta todas as crianças, adultos e idosos que vivem em #Moria 2.0.

— Devido à falta de casas de banho e eletricidade no campo, as mulheres enfrentam um maior risco de violência sexual. Muitas pessoas têm medo de se deslocar dentro do campo durante a noite, improvisando casas de banho nas próprias tendas.

— Inevitavelmente, o número de casos de pessoas infetadas por COVID-19 aumentou nos últimos dois meses. Não há uma resposta adequada para as pessoas infetadas e a zona de isolamento, à entrada do campo, está vedada com arame farpado o que não previne a transmissão do vírus. Por outro lado, os casos de outras doenças e infeções aumentaram como consequência das condições precárias de higiene e segurança no campo. agravando-se a deterioração da saúde mental dos residentes.

— As tendas não são suficientemente resistentes para proteger os residentes dos ventos fortes e da chuva. A comida é insuficiente e distribuída apenas uma ou duas vezes por dia. A chegada do inverno reitera a urgência de retirar estas pessoas do campo e decidir sobre a sua recolocação digna pelos vários Estados-membro.

— O clima de desespero que se sente não é exclusivo de Moria. O campo de #Pikpa, em Mitilene, gerido pela ONG Lesvos Solidarity, que acolhia algumas das pessoas refugiadas mais vulneráveis da ilha — pessoas com problemas de saúde graves, vítimas de tortura e violência, famílias numerosas, grávidas e recém-nascidos, pessoas LGBTQIA+ e vítimas de naufrágios, foi evacuado e fechado pelo governo grego no fim de outubro. O governo grego ameaça também fechar o campo de #KaraTepe até ao fim do ano. Na ilha grega de Samos, deflagrou ontem, dia 11 de novembro, um incêndio no campo que aloja cerca de 4000 requerentes de asilo (tendo capacidade para apenas 650).

— Neste domingo, 24 pessoas seguiam num barco que naufragou ao largo da ilha de Samos, tendo a maioria sido encontrada em pequenos grupos espalhados por várias partes da ilha. Na sequência do naufrágio, as autoridades gregas prenderam um homem afegão de 25 anos sob acusação de “colocar em risco” a vida do próprio filho de 6 anos, que foi encontrado sem vida numa encosta de difícil acesso no nordeste da ilha. O juiz entendeu que o afegão vai poder aguardar julgamento no campo de refugiados da ilha de Samos e não na prisão.

Fontes:

🌐 https://www.theguardian.com/.../moria-20-refugees-who...

🌐 https://expresso.pt/.../2020-10-24-Reportagem.-E-a-vida...

🌐 https://www.oxfam.org/.../conditions-moria-20-camp-are...

🌐 https://expresso.pt/.../2020-11-11-Migracoes.-Incendio-no...

🌐 https://lesvossolidarity.org/en/what-we-do/pikpa-camp

🌐 https://expresso.pt/.../2020-11-09-Como-se-ele-tivesse...

— Este vídeo conta com o contributo da Catarina Pereira que fez a tradução para língua gestual. Obrigado, Catarina.

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