O Natal noutros lugares

Mariana Morais
documentar a urgência
2 min readFeb 15, 2021

Há 2000 anos atrás, para que o imperador romano soubesse quantas pessoas governava, uma família viajou a pé dias a fio levando a que uma mulher, no pico da sua gravidez, tivesse de enfrentar a experiência mais perigosa para uma mulher daquele tempo, não em sua casa, mas longe, numa manjedoura.

A história do Natal é sobre uma família que procurava refúgio.

Dois mil anos depois, enquanto celebramos o Natal, cerca de 80 milhões de pessoas foram forçadas a deslocar-se de suas casas, 26 milhões das quais, com o estatuto de refugiado. Quase metade têm menos de 18 anos.

Durante seis meses, Sebástian Ventura de 6 anos e a mãe Jessika, grávida, fizeram mais de 2000 km a pé, primeiro da Colômbia para a Venezuela e depois de volta à Colômbia. Tinham fugido da violência que assolava o bairro onde moravam na Venezuela, um ano antes, depois do marido de Jessika ter sido morto. Na Colômbia, Sebástian começou a escola e Jessika trabalhava como florista. Com a pandemia, perdeu o seu trabalho e a sua casa, sentido-se obrigada a regressar. À chegada à Venezuela percebem que este país está muito pior do que o que deixaram. Numa das manhãs, o frigorífico tem apenas dois ovos, um pedaço de queijo e um pouco de arroz.

Aos oito meses e meio de gravidez, Jessika decide voltar a Bogotá a pé, na esperança de que, pelo menos na Colômbia haja a possibilidade de construir um futuro. Quando se encontram em Bucaramanga, a 400km de Bogotá, as águas de Jessika rebentaram e começou a sangrar. No hospital dá à luz a Josnaiber Xavier Morillo Loaiza, um bebé de apenas 2,2 kg, mas saudável. A vontade de caminhar, continua.

Seis meses depois de terem deixado Bogotá, estão de volta. Com 24 anos, Jessika segura o seu bebé ao colo e as solas dos sapatos de Sebástian já estão gastas. Com a economia da Colômbia a reabrir, esperam conseguir o emprego de volta e, aos poucos, começar a conquistar um lugar a que possam chamar casa.

Fotografia de Federico Rios para o The New York Times.

Dois mil anos depois, a história do Natal continua a ser, principalmente, sobre famílias como a da Jessika que procuram refúgio.

Este é o tempo do encontro com a fragilidade e a simplicidade.

Um Simples, mas Verdadeiro Natal para todos.

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